Resultado eleitoral favorece integração do continente e aproximação com Lula, além de um revés para o argentino Milei e sua intenção de desmontar o Mercosul
Após cinco anos, a esquerda volta ao comando do Uruguai com a vitória de Yamandú Orsi, da Frente Ampla, no segundo turno das eleições presidenciais deste domingo (24). Orsi, de 57 anos, conquistou 49,8% dos votos, superando Álvaro Delgado, candidato governista de centro-direita, que obteve 45,9%, segundo resultados oficiais. A participação expressiva de 89,4% dos eleitores reafirma o compromisso democrático da sociedade uruguaia.
Orsi assume o governo em 1º de março de 2025, sucedendo Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional. Com aprovação de 52%, Lacalle Pou retorna ao Senado, onde deve preparar sua candidatura à Presidência para 2029.
Um aliado estratégico para Lula no Mercosul
A vitória de Orsi é vista como um reforço à integração regional e uma conquista diplomática para o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Com alinhamento político e histórico de colaboração, Lula e Orsi planejam uma reunião bilateral em Montevidéu nos dias 5 e 6 de dezembro, durante a cúpula do Mercosul.
Lula saudou a eleição do novo presidente uruguaio com entusiasmo: “Essa é uma vitória de toda a América Latina e do Caribe. Brasil e Uruguai seguirão trabalhando juntos no Mercosul e em outros fóruns pelo desenvolvimento justo e sustentável, pela paz e pela integração regional.”
Com o novo governo, o Uruguai deve priorizar a política externa voltada ao fortalecimento do Mercosul. Durante o mandato de Lacalle Pou, houve tensão no bloco, incluindo tentativas de negociações comerciais unilaterais com a China. Orsi, no entanto, já indicou que buscará dinamizar o bloco, mas sempre dentro das regras de consenso do Mercosul, destacando a liderança do Brasil.
A trajetória de Yamandú Orsi
Filho de trabalhadores rurais, Orsi nasceu na cidade de Santa Rosa, no interior do Uruguai. Após enfrentar dificuldades econômicas na infância, mudou-se para Canelones, onde iniciou sua trajetória política. Professor de história e comerciante, ingressou na Frente Ampla em 1989, no movimento liderado por José “Pepe” Mujica, de quem é considerado um pupilo político.
Orsi governou Canelones por dois mandatos consecutivos (2015-2023), consolidando sua liderança no departamento mais populoso do interior do país. Sua campanha presidencial foi marcada pelo compromisso com o diálogo, inclusão social e fortalecimento das causas ambientais.
Mesmo agnóstico, Orsi foi educado em escolas católicas e já afirmou que seu interesse pela política foi despertado pela música popular e pelos movimentos sociais do pós-ditadura uruguaia.
Desafios e governabilidade
A vitória de Orsi, com uma margem de pouco mais de 95 mil votos, reflete a divisão do eleitorado uruguaio. No Congresso, a Frente Ampla será maioria no Senado, mas precisará negociar com a oposição para alcançar maioria na Câmara de Deputados.
O presidente eleito terá de lidar com questões sensíveis, como a pressão por novos acordos comerciais e a posição do Uruguai em relação ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela. Orsi já indicou que seguirá a postura moderada de Lula, priorizando o diálogo e a defesa da democracia.
Integração regional em foco
A eleição de Orsi representa uma mudança na dinâmica regional, com o Uruguai alinhando-se mais estreitamente ao Brasil e reforçando a coesão do Mercosul. Por outro lado, a derrota de Delgado é um revés para o presidente argentino Javier Milei, que defendia flexibilizar o bloco para acordos bilaterais.
O Uruguai, embora pequeno em território e população, desempenha um papel significativo no equilíbrio do Mercosul, onde cada voto nacional tem peso equivalente. Com Orsi e Lula fortalecendo suas alianças, a integração regional e o multilateralismo podem ganhar um novo impulso na América Latina.