Ernesto Rodrigues, ex-jornalista da Globo, lança trilogia literária que revela bastidores da emissora
A TV Globo tinha uma relação complexa e tensa com a ditadura militar, que durou entre 1964 e 1985 no Brasil, segundo o jornalista Ernesto Rodrigues, que produz o livro “A Globo”. A obra tem cerca de 400 depoimentos dos arquivos da emissora e outras 60 entrevistas com figuras importantes na história do canal.
Segundo o primeiro volume da obra, “Hegemonia: 1965-1984”, o fundador da emissora, Roberto Marinho, tinha uma relação de “subserviência imposta” com o regime. Rodrigues cita, por exemplo, o programa apresentado pelo coronel Edgardo Erickson, que diariamente lia textos de apoio entusiasmado à ditadura ao vivo na emissora.
O militar andava armado nos estúdios e ocupava o “cargo-fantasia de diretor do Departamento de Relações Públicas”, segundo o livro, produzindo o conteúdo sem o crivo de ninguém da Globo e intimidando funcionárias do canal. Ele e o coronel Paiva Chaves, oficial do Exército que se tornou um executivo importante da Globo, “foram contratados com a função de fazer a ponte entre a emissora e o regime”.
Os coronéis ainda fiscalizavam o que jornalistas escreviam, segundo ex-funcionários. O diretor de jornalismo Armando Nogueira chegou a pedir a Marinho para afastar Erickson, mas o dono da emissora temia perder a concessão da emissora.