São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo podem ver o nascimento de um deserto com a devastação na Amazônia. Entenda
Sem a floresta amazônica, o Sudeste brasileiro pode desertificar. A latitude da região possui uma tendência para isso. O Trópico de Capricórnio – que passa pela cidade de São Paulo na zona Norte – também atravessa alguns dos principais desertos do mundo; o do Namíbia, Kalahari (Botswana) o Atacana (Chile) e o Outback (Austrália). O que protege a região atualmente é a umidade que se desloca da Amazônia através do que é chamado de Zona de Convergência do Atlântico Sul (Zcas). Então, a proteção das florestas tropicais ganha ainda mais relevância hoje (5), neste Dia da Amazônia.
“A Zcas é um dos principais sistemas meteorológicos causadores de chuvas nas regiões Centro-Oeste e Sudeste entre o fim da primavera e o verão. Definida como um corredor de nuvens que corta o Brasil, desde o sul da Região Amazônica até o Oceano Atlântico”, explica o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Contudo, esse sistema de chuvas está ameaçado. Isso porque as mudanças climnáticas e a devastação na Amazônia tem invertido a lógica dos rios fluviais que atravessam o continente.
Com a devastação do bioma, o que está migrando da Amazônia para o Sudeste não é mais a chuva; mas a fumaça. Então, o geólogo e cientista do Inpe Paulo Roberto Martini argumenta, ao DCI, que “a distribuição da umidade evitou que essa região da América do Sul fosse transformada num imenso deserto. Esse solo das regiões Sul e Sudeste tem potencial para se tornar deserto. Basta não chover regularmente”.
Deserto de São Paulo
Nos últimos anos, as mudanças climáticas influenciaram em um fenômeno conhecido dos brasileiros, o El Niño. O sistema que aquece as águas do Pacífico Sul influencia no regime de chuvas brasileiro. Em relação a São Paulo, ele tende a reduzir as chuvas. Poderia ser um fenômeno normal. Contudo, o El Niño dos últimos anos foi um dos mais fortes já registrados.
“Fenômenos como o El Niño e a La Niña interferem na formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul, dificultando ou favorecendo a formação e atuação do sistema. De maneira geral, o El Niño pode atrapalhar a organização da Zcas, enquanto a La Niña pode colaborar”, explica o Inpe.
Atualmente, há um regime de estabilidade no Pacífico, com tendência de transição para o La Niña, que esfria as águas daquele oceano. Contudo, mesmo com o favorecimento deste ciclo, o Sudeste segue dependente da Amazônia para não virar um deserto. “O Sudeste brasileiro, lar de grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, depende significativamente das chuvas regulares para as suas necessidades hídricas. A redução da quantidade de chuva devido ao desmatamento amazônico pode levar à escassez de água, afetando não apenas o abastecimento público, mas também a agricultura e a produção de energia”, argumenta o doutorando em Sociologia e Mudanças da Sociedade Contemporânea Internacional Wesley Sá Teles Guerra.
Colapso da Amazônia
Os impactos da devastação na Amazônia são diversos e devem impactar para além da região. Este fato revela o tamanho do desafio nas mãos do poder público e da sociedade civil. Embora o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenha retomado as políticas de preservação da floresta, os estragos herdados por quatro anos de devastação com Jair Bolsonaro (PL) são grandes. E o tempo é curto.
Estudo publicado em fevereiro na revista Nature indica que o caminho sem volta está próximo. “Estamos nos aproximando de um potencial ponto de inflexão em grande escala e podemos estar mais próximos (tanto em escala local quanto em todo o sistema) do que pensávamos anteriormente”, comenta Bernardo Flores, autor do estudo, em entrevista à AFP.
Ponto de inflexão é justamente este momento em que não haverá mais volta. O estudo afirma que o colapso completo da Amazônia pode acontecer em 2050. De acordo com a pesquisa, 47% da floresta estará refém do “estresse hídrico”, o que pode provocar uma devastação generalizada. Assim, o bioma tende a se transformar em uma savana, ou em um cerrado; e não ser mais uma floresta úmida tropical.
Então, o tempo corre para que medidas rígidas sejam tomadas em defesa da floresta que protege o Sudeste de virar um deserto.