O grupo espanhol Santander negocia a venda de uma fatia do banco no Brasil, segundo executivos de alto escalão a par das negociações. Conforme as fontes, a proposta envolve a venda de uma participação de 30% a 40% da operação brasileira.
Os potenciais compradores seriam Banco do Brasil e Bradesco.
Procurados pela Agência Estado, Bradesco e Santander não comentaram o assunto. O BB negou que esteja negociando. As conversas entre os bancos já haviam sido noticiadas pela coluna de Sonia Racy.
Segundo cálculos de três analistas, feitos a pedido da Agência Estado, o Santander Brasil pode valer hoje entre R$ 100 bilhões e R$ 160 bilhões. O primeiro valor exclui o ágio pago na aquisição do ABN Amro/Banco Real pelo banco espanhol. Os analistas entendem ser mais provável que as negociações sejam feitas com base no preço com o ágio.
Levando em conta os R$ 160 bilhões, a operação movimentaria de R$ 48 bilhões a R$ 64 bilhões. Considerando a posição de caixa livre dos bancos brasileiros potenciais compradores, o Bradesco tem R$ 104 bilhões e o Banco do Brasil, R$ 56 bilhões. O Itaú, com R$ 105 bilhões, seria o menos provável, segundo especialistas, porque ainda digere a fusão com o Unibanco.
Uma fonte próxima ao banco espanhol diz que a intenção não é deixar o Brasil, mercado mais lucrativo para o grupo e responsável por 30% dos resultados mundiais. O objetivo da venda é levantar capital para fazer face às novas exigências do governo espanhol, que quer 30 bilhões a mais de provisão dos bancos, em meio ao agravamento da crise naquele país.
Além disso, o Santander Espanha tem em sua carteira de crédito participação importante de empréstimos imobiliários. Os analistas observam que, com a recessão e as altas taxas de desemprego naquele país, há o risco da inadimplência aumentar, a bolha imobiliária estourar e o banco precisar ainda mais de capital.
Capitalização
Um dos atrativos do Santander Brasil, segundo analistas do setor financeiro, é a alta capitalização do banco, que tem índice de Basileia de 24%, bem acima dos 11% mínimos exigidos pelo Banco Central e o maior entre as grandes instituições financeiras locais. Isso significa que, para cada R$ 100 emprestados, o banco tem R$ 24 em caixa.
Além disso, chama a atenção da concorrência os R$ 400 bilhões em ativos. O ponto fraco do banco é o baixo retorno sobre o patrimônio, atualmente em 14%, de acordo com o balanço do primeiro trimestre, contra a média de 20% dos grandes bancos brasileiros. Um analista lembra, porém, que quem comprar a fatia da operação brasileira do Santander vai ficar exposto ao risco da matriz.
O Santander já vem tentando levantar recursos em outras parte do mundo para fazer frente aos problemas enfrentados pela matriz na Espanha. Mas, segundo analistas, isso não seria suficiente para as necessidade de capital do banco, caso a situação na Espanha se agrave ainda mais.
O mais recente movimento é a abertura de capital de sua subsidiária no México, que pode render US$ 4 bilhões. Antes disso, o Santander se desfez de algumas unidades e áreas de negócio para se capitalizar. No Brasil, começou no ano passado com a venda de ações que correspondem a 8% de seu capital. No Chile, vendeu uma fatia semelhante de sua unidade. Com as duas operações, o banco levantou U$ 3,6 bilhões em recursos.
Fonte: O Estado de S.Paulo