No último dia 11 de julho, o presidente do Banco Santander e da Febraban, Fabio Barbosa, utilizou o espaço mensal que a Folha de S. Paulo lhe reserva para propor renovadoras mudanças de paradigma na sociedade, com palavras afinadas aos ‘modernos’ discursos capitalistas de responsabilidade social, ética em todas as relações da vida e conselhos de boa governança.
Em seu desinteressado artigo, ele também se utiliza do discurso padrão dos grupos hegemônicos do país, ao elogiar avanços econômicos e políticos alcançados pelas políticas de crédito que permitiram uma maior inclusão no mundo do consumo a boa parcela da população, que somados às panacéias do Pré-sal, da Copa do Mundo e das Olimpíadas teriam tudo para fazer o país decolar de vez.
No entanto, alerta que devemos ainda superar antigos gargalos, todavia limitantes de nosso crescimento, que poderiam ser suplantados por reformas políticas, previdenciárias e trabalhistas, obviamente com o condão de desonerar mais ainda a classe empresarial, pois tamanhos ‘gastos’ (habilidosa desconstrucão patronal) ‘minam nossa competitividade externa’.
No entanto, todo este preâmbulo ideológico não poderia estar desacompanhado da mais peremptória de todas as reformas: a de valores. Ele alerta a todos que não podemos esperar que o governo nos resolva tudo, de modo que a sociedade precisa mostrar todo seu potencial de transformação, o que não exige “apoio no Congresso nem em nenhuma instância de governo. Também não é necessário projeto de lei”.
É bom nos atermos ao fato de que as conseqüências de ‘dispensar o Estado de ter mais trabalho do que já tem’ abriram feridas na vida de milhões de brasileiros que tiveram seus padrões de vida rebaixados. Por isso, talvez tenhamos de ter os dois pés atrás quando o presidente do banco que atualmente mais envia funcionários adoecidos à previdência e que até hoje sonega as aposentarias de 14 mil ex-funcionários do Banespa sugere que sigamos as novas tendências empresariais, que já “acordaram para a relevância de rever princípios e valores, mas podem acelerar”.
O presidente do ex-patrimônio público arrematado fraudulentamente coroa seu libelo civilizatório reforçando a toda a cidadania nacional que “está cada vez mais claro que não existe incompatibilidade entre fazer as coisas de forma ética e transparente e ter bons resultados financeiros. Esse ‘falso dilema’ tem que ser abolido de vez das conversas empresariais, pois não se sustenta na realidade que observamos e não se coaduna com o país que queremos construir”.
Abaixo, você poderá ver o que pensam a respeito da sugerida transformação social os aposentados do antigo Banespa, que até hoje esperam pelas aposentadorias que amealharam após décadas de trabalho para uma das instituições que mais enriqueceu os cofres públicos de São Paulo. A resposta do ex-bancário João Bosco Galvão de Castro, endossada prontamente por mais de 600 banespianos, põe em dúvida mais este decrépito manual de sociedade neoliberal.
Resposta ao artigo ‘Reforma de Valores’
João Bosco Galvão de Castro
Somos cerca de 14.000 aposentados do Banespa, hoje infelizmente dependentes do Banco Santander, o qual Vossa Senhoria preside em nosso país. Consideramos o seu texto muito interessante. Contudo, em que pese a sua proficiência, há que se considerar que o mesmo pode levar as pessoas – afora nós que estamos sendo prejudicados pelo seu banco desde a privatização do Banespa – a ter um entendimento ambíguo sobre o seu teor.
Como se diz comumente, apesar de suas belas palavras, o papel aceita tudo. Poderíamos considerar sua reflexão como uma apologia para que se estimule a “Hora da Reforma de Valores” que deve ter aflorado em sua mente e em seu espírito cristão, e que possivelmente venha a ser colocada em prática, de modo que a também nos beneficiar.
Caso contrário seria um amontoado de palavras, que terá o efeito desejado apenas perante o mercado e os leitores desavisados do jornal Folha de S. Paulo. Para tais leitores, que não conhecem o problema dos aposentados do Banespa – e não são obrigados a conhecê-lo – o seu raciocínio é digno de constar na galeria dos maiores defensores dos direitos do cidadão.
Para nós, porém, sobrevivendo desde o ano de 2000, quando o glorioso Banespa foi entregue ao capital estrangeiro e após perdermos mais de 2.750 colegas que morreram sem verem seus direitos restituídos, resta nos defrontarmos com um banco que, sob o seu comando, permanece insensível a tudo.
Para quem conhece o assunto, seu comentário poderia sugerir um jogo de cena, uma cortina de fumaça para encobrir a irresponsabilidade social praticada pelo seu banco contra aqueles que destinaram os melhores anos de suas vidas ao engrandecimento do Banespa.
Quando Vossa Senhoria enumera uma série de atos que deveriam ser transmitidos aos nossos filhos, não sabemos exatamente a quem se refere, se aos que defende na teoria ou se aos que usa na prática. Relutamos, doutor Fábio, em alimentar alguma esperança ao vermos no bojo de sua matéria um trecho, não sabemos se dito com o sentimento de cidadão ou com o pragmatismo de um empresário bem sucedido, afirmação de que “uma sociedade nada mais é do que o somatório das atitudes de cada um de nós, de cada uma de nossas empresas”.
A grande verdade é que para nós, aposentados do Banespa, embora correta a sua definição, falta muito para a empresa que Vossa Senhoria dirige possa vir a ser nela enquadrada da forma sugerida, com as atitudes e valores prescritos pelo senhor.
SÃO 14.000 APOSENTADOS BANESPIANOS CARENTES DE JUSTIÇA!
João Bosco Galvão de Castro.
Contato: boscoguara@gmail.com
Fonte: c