Essa postura no Brasil deve gerar aumento da concentração de renda e da desigualdade social
No primeiro trimestre de 2023, o Santander apresentou resultados que refletem uma mudança significativa em sua estratégia de negócios. Um dos principais destaques negativos no balanço do Santander é a queda do lucro e o aumento das Provisões para Devedores Duvidosos (PDD). Esses dados indicam uma deterioração na qualidade dos ativos.
Além disso, em comparação aos demais bancos de grande porte do país – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Bradesco e Itaú -, o Santander registrou o menor crescimento da carteira de crédito. Para o economista Gustavo Machado Cavarzan, da subseção do Departamento Intersindical de Estudos Socioeconômicos (Dieese), essa situação demonstra uma postura conservadora na concessão de crédito, adotada pelo banco desde o ano passado.
No próprio balanço, o Santander declara que espera um crescimento mais seletivo da carteira de crédito, com foco na “melhoria na qualidade do portfólio” e na “vinculação e expansão de alta renda”. “O banco tem direcionado esforços para atrair e atender clientes de alta renda, visando aumentar a receita nesse segmento, que é oito vezes maior do que a receita proveniente de clientes de varejo”, apontou Gustavo.
No último balanço o banco registrou um crescimento de 36% de clientes de alta renda, chegando aos 834 mil clientes, e o Santander estabeleceu a meta de alcançar 1 milhão de clientes deste segmento até o final do ano. É importante ressaltar que esse segmento já representa mais de 60% dos investimentos do banco em pessoas físicas, evidenciando a intenção do banco de crescer nesse nicho.
Enquanto a carteira de crédito do segmento de alta renda cresceu 16%, o dobro do crescimento da carteira total de pessoas físicas, a carteira de pequenas e médias empresas foi deixada em segundo plano em favor das grandes empresas. “Isso se deve ao fato de que o banco avalia que o segmento de grandes empresas e menos arriscado e por isso irá se concentrar nele”, explicou o economista.
“O Santander demonstra descaso no tratamento com os funcionários, com o ambiente de trabalho e com a situação econômica atual do país e revela uma falta de compromisso com a redução das desigualdades sociais. O banco espanhol não quer saber de financiar os trabalhadores, ele é voltado aos mais ricos, milionários e bilionários. Sempre foi só o que importou na política deste banco”, declara Fabiano Couto, diretor do Sindicato dos Bancários de Santos e Região e bancário do Santander.
Para Rita Berlofa, funcionária do Santander e secretária de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), a concentração do Santander em segmentos de alta renda e grandes empresas tende a contribuir para o aumento da desigualdade social e da concentração de renda no Brasil. Essas estratégias podem ampliar ainda mais as disparidades econômicas existentes.
“O Santander, ao priorizar o crescimento seletivo e direcionar seus esforços para atender apenas clientes de alta renda, está abandonando grande parte da população que precisa de crédito para impulsionar seus negócios ou realizar projetos pessoais. “É preocupante constatar que a instituição está contribuindo para ampliar as desigualdades e aprofundar a concentração de renda. É necessário que o Santander repense suas prioridades e adote uma postura mais responsável e inclusiva, visando beneficiar toda a sociedade”, completou Rita.