Na propaganda do Itaú tudo é respeito, bondade, humanidade e esperança. Na realidade, o banco coloca obstáculos para que o morador em situação de rua ou mesmo pessoas comuns não se abriguem nas suas marquises, em São Paulo/Capital
Causou indignação nas redes virtuais a foto de pinos de concreto colocados pelo Itaú sobre a calçada de uma agência do banco em São Paulo para impedir que moradores de rua pudessem ali se abrigar. A internauta Liih Guimarães foi uma das que fez um comentário crítico ao banco no Twitter: “Na propaganda é tudo lindo, hein, Itaú? Respeito tbm com os que precisam das marquises para se abrigar. Comecem dando o exemplo e sendo mais humanos. Podem ajudar o projeto do padre Júlio Lancellotti”, escreveu.
O comentário é uma referência à campanha publicitária de fim de ano em que o Itaú, num vídeo, mostra uma criança e artistas famosos. A criança diz que o mais importante é o respeito. A atriz Fernanda Montenegro pergunta com carinho: “Mas as outras palavras, bondade, humanidade, esperança, hum?” E a criança responde: “Sem respeito, elas não existem”. A atriz e outros artistas concordam. Uma voz ao fundo, acompanhada da logomarca do Itaú, completa: “respeito por todo o mundo, muda o mundo”.
A publicidade, no entanto, mostra uma clara contradição com a realidade, não só em relação ao uso de instalações para impedir que pessoas que não têm onde morar se protejam dormindo debaixo das marquises. Também às bancárias e bancários demitidos ou os que ficam e enfrentam a sobrecarga de trabalho e o assédio moral das metas abusivas. E ainda os clientes dos quais o banco cobra juros e tarifas altíssimas.
Pinos são ilegais
A colocação de peças para impedir a presença de população sem moradia é proibida por lei aprovada pelo Congresso Nacional e vetada no fim do ano pelo então presidente Jair Bolsonaro, veto este derrubado pelo Congresso em 16 de dezembro, sendo a lei promulgada em 21 de dezembro. Por isto o texto da postagem feita no Twitter sugere que o Itaú leve a sério a sua propaganda apoiando ‘o projeto do padre Júlio Lancellotti’.
Como é uma legislação proposta pelo padre, bastante conhecido pelo seu trabalho de proteção aos que não têm onde morar, ganhou o nome de Lei Padre Júlio Lancellotti. O projeto, de autoria do senador Fabiano Contarato (PT-ES), tramitou no Senado, onde foi aprovado, o mesmo acontecendo na Câmara dos Deputados.
O texto proíbe o uso de materiais ou estruturas para afastar pessoas em situação de rua de locais públicos, a chamada “arquitetura hostil”.
“Me surpreendeu a velocidade com que o veto foi derrubado”, disse o padre Júlio em conversa com a jornalista Camila da Silva, do site da CartaCapital. “É o início de uma luta contra a aporofobia (termo que significa ódio aos pobres). Eu recebi com alegria, com emoção e com gratidão. Esperamos agora que todos se empenhem muito para que esses obstáculos sejam removidos e tenham respostas de acolhimento, porque não basta tirar, é preciso ter respostas”.