Emergência da covid acabou, mas risco continua
“Uma das grandes tragédias é que não precisava ter sido assim”, disse Tedros, denunciando o fracasso da comunidade internacional nesses mais de três anos. “Perdemos vidas que não precisavam ter sido perdidas”, insistiu. “Precisamos prometer a nossos filhos e netos que não voltaremos a cometer esses erros”, disse.
O diretor-executivo da OMS, Michael Ryan, alertou que a emergência acabou, mas o risco continua. “Mas a ameaça não. A batalha não acabou”, disse. “O vírus continua a contaminar. Levou anos para que a pandemia de 1918 terminasse”, afirmou. “Na verdade, a história mostra que uma pandemia só termina quando outra aparece”, insistiu.
A covid-19 zombou de fronteiras, de ideologias e da postura de líderes supostamente “fortes” que se recusavam a aceitar a gravidade da crise. “Ninguém estava preparado”, disse Jarbas Barbosa, ex-diretor da Anvisa que atualmente dirige a Organização Pan-americana de Saúde (Opas).
Pandemia marcada por enterros coletivos e desigualdades no acesso ao cuidado
Os mais de três anos de pandemia da covid foram marcados inicialmente por medidas de lockdown em grandes capitais internacionais. Pela primeira vez o mundo viu ruas e metrôs vazios, cidades turísticas sem ninguém. E ao mesmo tempo reportagens mostrando hospitais lotados, caminhões frigoríficos para acondicionar corpos e tratores abrindo valas comuns. Seja na Vila Formosa, em São Paulo, em Manaus – onde o governo de Jair Bolsonaro deixou faltar até oxigênio – como em Nova York. Tudo em meio a disputas pela narrativa política pró e contra a ciência, as medidas preventivas, a falta de investimentos sociais.
A OMS esperava decretar o fim da pandemia há um ano. Nos primeiros meses da crise, em 2020, a expectativa do órgão era de que, até 2022, a pandemia perderia força. No entanto, houve um recrudescimento em 2021. Uma segunda onda veio a onda mais forte. Para piorar, os países pobres foram os últimos a receber as vacinas.
Novo coronavírus veio para ficar
A desigualdade na distribuição do imunizante, aliás, é um dos capítulos mais dolorosos da crise. E um exemplo do fracasso da comunidade internacional, na avaliação do diretor da OMS. Segundo ele, as desigualdades no acesso a intervenções que salvam vidas também continuam a colocar milhões de pessoas em todo o mundo em risco desnecessário, principalmente as mais vulneráveis.
“E a fadiga da pandemia ameaça a todos nós. Todos nós estamos doentes e cansados dessa pandemia e queremos deixá-la para trás”, afirmou. “Mas esse vírus veio para ficar, e todos os países precisarão aprender a gerenciá-lo juntamente com outras doenças infecciosas”, completou.