Novaes saiu, atestando sua incompetência, mas pretendendo orientar a pauta para o seu sucessor: desmontar a inteligência da cultura organizacional dos funcionários do Banco do Brasil para assim seguir os planos de fatiamento da empresa
O Banco do Brasil, em fato relevante divulgado ao mercado neste 24 de julho de 2020, comunica que “o Sr. Rubem de Freitas Novaes entregou ao Exmo. Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, e ao Exmo. Ministro da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes, pedido de renúncia ao cargo de presidente do BB, com efeitos a partir de agosto, em data a ser definida e oportunamente comunicada ao mercado, entendendo que a Companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário”.
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Incumbido da missão de privatizar a instituição, indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, Novaes deixa o Banco do Brasil e seguramente não deixará saudades. Inábil na compreensão da gestão da empresa, preferiu em todos os momentos de publicidade que teve atacar a instituição e seus funcionários, de maneira que com o tempo a ignóbil rotina de confundir e desviar sua notória incompetência com a gestão pública tornou-se previsível. Rubem Novaes nunca esteve à altura do Banco do Brasil.
Em seus pronunciamentos – com o tempo – totalmente previsíveis, disparava: “No BB, por exemplo, me sinto com as mãos atadas e como se tivesse bolas de chumbo na perna. Não tenho a mesma liberdade de contratação e de demissão”, afirmou em março do ano passado, em evento sobre liberalismo econômico, no Rio de Janeiro.
Para agradar ao seu chefe maior, não se conteve nem mesmo neste período em que o Brasil atravessa uma das maiores crises de sua história, quando as empresas públicas têm se mostrado cruciais para sustentar uma economia que já vinha combalida, chegando a colocá-la acima da vida humana, além de criticar duramente as medidas de isolamento social.
“Muita bobagem é feita e dita, inclusive por economistas, por julgarem que a vida tem valor infinito. O vírus tem que ser balanceado com a atividade econômica”, polemizou, em março passado, num grupo de WhatsApp, numa conversa vazada à imprensa. Antes, também em março, havia defendido que a população fosse infectada “o quanto antes” para “que a economia volte a funcionar”.
Sua pública irresponsabilidade ainda pode ser associada à lamentável perda da vida do trabalhador terceirizado que atuava como garçom da presidência do BB, que nesta semana, não suportando os efeitos da Covid-19, veio a óbito.
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Na reunião ministerial de 22 de abril, Novaes assistiu complacente aos rompantes de Paulo Guedes defendendo ferozmente que era preciso “vender logo essa porra”, numa referência ao BB.
Um dos seus últimos atos nesse campo e que foram rechaçados pelo movimento sindical e objeto de questionamentos – prova inacabada de que seu principal objetivo era o de entregar o BB à iniciativa privada – foi a cessão da carteira de crédito da empresa, da ordem de R$ 2,9 bilhões, ao BTG Pactual, que não por acaso tem como fundador o atual ministro da Economia.
Mas o que há por trás da renúncia?
Algumas hipóteses tidas a partir das leituras da conjuntura política, somadas a uma pitada de disputas pessoais, podem ajudar a explicar as fissuras no ‘trium viratum’, que resultou na ‘lima’ ao Novaes.
Fontes informam que há um mês a convivência do trio Guedes, Pedro Guimarães (presidente da Caixa) e Novaes vinha estremecida. Para o criador, a criatura rendia-lhe ameaças e saía do seu controle, projetando desejos e vida independente, fora dos planos do criador.
Impulsionado pelos louros dos serviços a duras e compromissadas penas realizados pelos trabalhadores da Caixa Econômica Federal, na atuação imprescindível do pagamento do benefício de renda emergencial em socorro aos milhões de brasileiras e brasileiros atingidos pelos efeitos da pandemia, Pedro Guimarães, segundo consta, queridinho do Flávio Bolsonaro, passou a ser figura cativa em live ao lado do presidente Jair Bolsonaro.
Este ‘prestígio’, segundo consta, reacendeu há duas semanas o desejo, agora revelado em movimento, a partir da renúncia do Novaes, de Pedro Guimarães vir a assumir a presidência do Banco do Brasil. “Pedro Guimarães não tem limites. Deu um copo d’água para ele, já quer sentar à sala servindo-se de café. Ou seja, é espaçoso, como diria na gíria”, explica uma fonte sob compromisso de sigilo.
Mas esta é uma disputa impublicável. Onde os interessados precisarão ralar muito mais pra garantir seus planos e dos seus sócios ocultos. Bolsonaro, que nunca teve nada de outsider, e joga o jogo da mais rasteira política, agora, para evitar seu impeachment e assegurar governabilidade, abraça-se, sem pouse nem protocolo – ao Centrão, que segundo consta entrará forte na disputa.
Mais do que nunca precisaremos organizar os trabalhadores, mobilizar os parceiros e a sociedade para defender o Banco do Brasil. Novaes caiu, atestando sua incompetência, mas pretendendo orientar a pauta para o seu sucessor: desmontar a inteligência da cultura organizacional dos funcionários do Banco do Brasil para assim seguir os planos de fatiamento da empresa com o falso argumento da renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações do sistema bancário e assim concretizar a privatização. É preciso estarmos atentos e coletivamente fortes para a luta.
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Fonte: SEEB Brasília – 24/07/2020
Escrito por: Redação Bancários DF