Ex-ajudante de ordens prestou depoimento ao ministro do STF e confirmou que tinha conhecimento do plano golpista de militares para assassinar autoridades, entre elas o presidente Lula
Pivô das investigações sobre a tentativa de golpe de Estado no Brasil, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, incriminou ex-presidente e o ex-ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quinta-feira (21/11).
Cid foi convocado a prestar um novo depoimento a Moraes após a operação da Polícia Federal (PF) da última terça-feira (19/11) que prendeu quatro militares das Forças Especiais (kids pretos) do Exército e um agente da própria PF envolvidos em um plano golpista para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o próprio ministro do STF.
O ex-ajudante de ordens, que foi preso em maio de 2023 e solto cerca de um ano depois após firmar um acordo de delação premiada, corria o risco de perder o acordo de delação após o novo depoimento e voltar para a prisão. Isso porque Moraes e a PF desconfiavam que Cid sabia da trama de militares para assassinar autoridades e que teria omitido o fato em suas outras oitivas. Acontece que o plano golpista foi descoberto pelos investigadores em mensagens encontradas no celular do próprio tenente-coronel.
Durante mais de três horas de depoimento a Moraes, Mauro Cid, para manter seu acordo de delação premiada e não voltar à prisão, teria confirmado que sabia da trama de golpe envolvendo assassinato do presidente, vice e ministro do STF, e teria revelado, tal como já desconfiava a PF, que tanto Braga Netto quanto Bolsonaro sabiam e endossavam o plano criminoso.
Segundo investigadores da PF, o plano para golpista que previa assassinar Lula, Alckmin e Moraes teria sido discutido por militares na casa de Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro na eleição presidencial de 2022, em novembro daquele ano. Naquele mesmo mês, um arquivo com o detalhamento da “operação” golpista teria sido impresso no Palácio do Planalto e, depois, levado ao Palácio da Alvorada, residência da presidência da República que, à época, era ocupada por Bolsonaro.
Bolsonaro é indiciado por tentativa de golpe de Estado
O ex-presidente Jair Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal pela tentativa de golpe de Estado que encabeçou a partir dos últimos dias de 2022, após ser derrotado nas urnas pelo presidente Lula (PT) e ficar inconformado com sua saída do poder.
Vários outros ex-integrantes de seu governo, aproximadamente 35, também foram indiciados pela PF, e os crimes pelos quais são acusados são inúmeros, com destaque para abolição violenta do estado democrático de direito, golpe de estado e organização criminosa.
Com 884 páginas, o inquérito policial foi concluído no início da tarde desta quinta-feira (21/11) e agora será entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF), ainda hoje. Desde já, a Procuradoria Geral da República (PGR) é quem fica incumbida de denunciar ou não os indiciados, para que então os réus, em caso de aceitação da denúncia, sejam julgados pelo STF.
Entre os principais indiciados estão:
Jair Bolsonaro, ex-presidente;
Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa e candidato a vice na chapa derrotada;
Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI);
Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Informações (Abin);
Valdemar da Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL)
Foram ainda indiciados outros 32 nomes envolvidos na trama:
Ailton Gonçalves Moraes Barros
Alexandre Castilho Bitencourt da Silva
Almir Garnier Santos
Amauri Feres Saad
Anderson Gustavo Torres
Anderson Lima de Moura
Angelo Martins Denicoli
Bernardo Romão Correa Netto
Carlos Cesar Moretzsohn Rocha
Carlos Giovani Delevati Pasini
Cleverson Ney Magalhães
Estevam Cals Theophilo Gaspar de Oliveira
Fabrício Moreira de Bastos
Filipe Garcia Martins
Fernando Cerimedo
Giancarlo Gomes Rodrigues
Guilherme Marques de Almeida
Hélio Ferreira Lima
José Eduardo de Oliveira e Silva
Laercio Vergilio
Marcelo Bormevet
Marcelo Costa Câmara
Mario Fernandes
Mauro Cesar Barbosa Cid
Nilton Diniz Rodrigues
Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho
Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira
Rafael Martins de Oliveira
Ronald Ferreira de Araujo Junior
Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros
Tércio Arnaud Tomaz
Wladimir Matos Soares
No caso de condenação, por cada um dos seguintes crimes, os indiciados podem ser condenados a:
4 a 12 anos de prisão por Golpe de Estado
4 a 8 anos de prisão por Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
3 a 8 anos de prisão por Integrar organização criminosa
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