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Lula prepara indicação de novo presidente do BC; conheça Galípolo, favorito ao cargo

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17 de agosto de 2024

Faltando pouco mais de quatro meses para o fim do mandato de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central (BC), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já prepara a indicação para seu sucessor. Em entrevista concedida nesta sexta-feira (16/8) à Rádio Gaúcha, de Porto Alegre (RS), Lula disse que quer acelerar o rito de troca de comando no BC para evitar desgastes políticos. O presidente negou que tenha um nome definido para o posto, mas não descartou a indicação de Gabriel Galípolo.

“Não sei se será Galípolo”, disse Lula. “Mas, antes de indicar, eu quero conversar com o presidente do Senado para que as pessoas, ao serem indicadas, sejam votadas logo. Para que não fiquem sofrendo desgaste de especulação política.”

Gabriel Galípolo trabalha no BC desde julho do ano passado. É o atual diretor de Política Monetária do órgão, cargo considerado o número 2 da instituição. Nessa diretoria, ele exerce um papel importante na discussão da taxa básica de juros da economia nacional, a chamada Selic, um tema de frequente tensão entre Lula e Campos Neto.

Economistas favoráveis a uma política monetária menos rígida no BC e uma taxa de juros mais baixa para o país esperam que a troca de Campos Neto por Galípolo abra uma oportunidade para um debate mais conciliador sobre a Selic. Dois deles, ouvidos pelo Brasil de Fato, não acreditam numa mudança brusca na rota do BC, até porque Galípolo tem um perfil profissional bem parecido com o de Campos Neto.

“Não espero muita ousadia, mas acho que o Galípolo deve ter um melhor entendimento sobre a relação entre a autoridade monetária e o sistema financeiro”, afirmou o economista Pedro Faria, que aposta que Lula vá mesmo promover o atual diretor do BC a presidente.

“Não podemos esperar nenhum cavalo-de-pau no BC, mesmo quando os indicados do Lula forem maioria, o que acontecerá neste ano. O perfil dos diretores se mantém e a pressão do mercado continua enorme”, ratificou Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), autor de um dos artigos do livro Os Mandarins da Economia: Presidentes e Diretores do Banco Central Do Brasil, de 2023.

Segundo ele, independentemente do governo, membros do Comitê de Política Monetária (Copom) costumam ter uma visão mais alinhada aos interesses financeiros.

Trajetória

Galípolo, assim como Campos Neto, é um ex-banqueiro. Foi presidente do Banco Fator, focado em investimentos financeiros, de 2017 a 2021. Campos Neto presidiu o Santander.

Bem antes disso, fez graduação e mestrado em Economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Ele deixou a academia em 2008. De lá, foi trabalhar em secretarias do governo do estado de São Paulo durante a gestão de José Serra (PSDB). No governo Serra, dirigiu a área de estruturação de projetos de concessões e parcerias público-privadas (PPPs).

Galípolo deixou o governo em 2009 e fundou uma consultoria própria. Trabalhou com consultoria mesmo ocupando cargo de chefia no Banco Fator, até 2022.

Depois, virou conselheiro da Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) e pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). Em 2023, após a posse de Lula, foi convidado para ser secretário executivo do Ministério da Fazenda, o número 2 da pasta comandada por Fernando Haddad (PT).

Banco Central

Galípolo ficou pouco na Fazenda. Após um semestre como braço direito do ministro, foi alçado a diretor do BC já como favorito a uma posterior presidência. Ele, então, passou a falar mais abertamente sobre o que pensa da economia nacional.

Em maio de 2023, Galípolo concedeu uma entrevista ao BdF. Na época, esperava a sabatina do Senado para ingressar no BC. Na ocasião, ele participou de uma reunião na Faria Lima, epicentro do mercado financeiro nacional, e depois foi almoçar na Feira Nacional da Reforma Agrária, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), onde conversou com a reportagem.

Na entrevista, elogiou a produção do MST e chegou a citar o livro As Vinhas da Ira, do escritor estadunidense John Steinbeck, de 1939, para defender a reforma agrária.

Ele também minimizou reações negativas do dito mercado à sua indicação ao BC. “Sempre saem matérias em todos os sentidos, ali, mas você tem razão. Quando a gente olha para o preço dos ativos, eu gosto de olhar mais os preços para ver o que está acontecendo. E os preços reagiram bem”, afirmou.

Alinhamento

O nome de Galípolo, aliás, tem enfrentado cada vez menos resistência do mercado pela postura dele como diretor do BC. Em todas as reuniões do Copom que Galípolo participou para discutir a Selic, apenas em uma ele votou contra Campos Neto, apesar de todas as queixas do governo Lula contra o atual presidente do BC.

Em maio, Galípolo e demais diretores indicados por Lula se posicionaram por um corte da Selic de 10,75% ao ano para 10,25% ao ano. Acabaram, entretanto, sendo vencidos pela maioria que optou por cortar a Selic em 0,25 ponto, abaixando para os 10,5% ao ano.

De lá para cá, a Selic não caiu mais, seguindo os posicionamentos de Galípolo, Campos Neto e de todos os outros sete diretores do BC.

Na reunião de julho, aliás, o Copom sinalizou por unanimidade que a Selic pode subir nos próximos meses. Galípolo esteve num evento na segunda-feira (12) e confirmou que a alta dos juros “está na mesa”, mesmo contra a vontade do governo.

Um dia depois, o PT publicou um texto em seu site com uma entrevista de Décio Lima, presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Lima diz que “subir juros não é o caminho para o crescimento do país”. O mesmo texto critica o gasto com juros que a alta Selic acarreta.

Estratégia

Segundo o economista Pedro Faria, Galípolo tem alinhado-se a Campos Neto uma estratégia política para minimizar reações negativas à sua promoção.

Weslley Cantelmo, economista e presidente do Instituto Economias e Planejamento, disse que essa concordância temporária faz muito sentido politicamente para Galípolo e até para a economia. “Aquela discordância de maio criou um ataque especulativo no país”, disse ele, lembrando do salto na cotação do dólar. “Acredito que haja discordância, mas que a minoria do Copom [da qual Galípolo faz parte] abriu mão de pôr isso em atas.”

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