Dirigentes esperam influenciar Congresso na discussão de decretos governistas: “Vamos continuar nas ruas”. A Intersindical Central da Classe Trabalhadora e outras centrais sindicais participaram de ato em solidariedade em São Paulo
Uma multidão tomou as ruas centrais de Buenos Aires, nesta quarta-feira (24), na primeira greve geral contra o governo Javier Milei, que tomou posse em dezembro e em seguida anunciou uma série de medidas de desregulamentação. Reunidas no Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) 70 e o Projeto de Lei de Bases e Pontos de Partida para a Liberdade dos Argentinos, chamada resumidamente de Lei Ônibus. Para os trabalhadores da Argentina, projetos de destruição continuarão sendo combatidos. “Pátria não se vende” foi o lema dos protestos neste dia de paro nacional.
Para o secretário-geral da Central de Trabalhadores e Trabalhadoras da Argentina (CTA), Hugo “Cachorro” Godoy, o presidente da República quer o controle do poder público. “Os deputados e senadores que validarem isso serão traidores da pátria”, disse em entrevista a uma rádio. Ele acrescentou que os parlamentares precisam ouvir a demanda da população, manifestada nas ruas. “Para rechaçar o DNU e a Lei Ônibus, e não permitir que se governe por decreto contra o povo.”
Pobreza e fome
Segundo ele, a resposta, referindo-se ao protesto de hoje, com duração de 12 horas, “tem a ver com a magnitude da agressão”. Ele acusou o governo Milei de “entregar o patrimônio nacional e condenar à pobreza e à fome mais da metade da população argentina”. Para Godoy, as pessoas já estão no limite. “Estamos iniciando um plano de luta que vai continuar. Não sairemos das ruas.” O governo fez bloqueios em alguns pontos, mas não foram registrados incidentes ou conflitos.
Os DNUs são instrumentos legislativos que dão ao Executivo o poder de legislar em situações consideradas extraordinárias – sem passar pelo Congresso. Já a “Lei Ônibus”, originalmente, era um megaprojeto com 664 artigos, que trata de temas como privatização (de todas as empresas públicas), aposentadoria, punições contra protestos de rua, sistema eleitoral, normas ambientais e sistema educacional. Nesta semana, o governo mandou nova versão ao Congresso, cortando parte dos itens, para tentar facilitar a aprovação. Mas enfrenta resistência. Nesse sentido, pode haver nova paralisação na semana que vem.
“Bala ou prisão?”
Durante ato na Praça do Congresso – principal ponto de concentração, a dois quilômetros da Casa Rosada –, uma das frases que mais chamaram a atenção foi de Pablo Moyano, líder da Confederação Geral do Trabalho (CGT) e dos caminhoneiros, sobre “atirar no (rio) Riachuelo” o ministro da Economia, Luis Caputo. Depois, comentou com jornalistas: “Te pareceu infeliz quando Espert disse ‘bala ou prisão’?”. Ele se referia a ameaça do deputado governista e direitista José Luis Espert dirigida, ainda em dezembro, a parlamentares de esquerda.
Moyano disse ainda que o presidente Javier Milei já agrediu o próprio papa Francisco, evocou (Margareth) Thatcher e (Ronald) Reagan e “ninguém falou nada”. E completou: “Muitos trabalhadores não têm dinheiro suficiente, não conseguem pagar o aluguel… É uma frase metafórica! Não vamos atirá-lo no Riachuelo!”.
Para porta-voz, greve é “política”
Já o porta-voz do governo, Manuel Adorni, declarou que a greve convocada pela CGT é um movimento mais político do que em defesa dos trabalhadores. E reafirmou que o governo descontará o dia de funcionários do setor estatal que não foram trabalhar. Enquanto isso, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, publicava vídeos nas redes sociais para passar a ideia de que este era um dia normal na Argentina. O movimento atingiu diversos setores da economia, como transportes, educação, bancos e serviços públicos. Alguns voos foram cancelados.
Intersindical e centrais protestam na Paulista
O ato em apoio a greve geral e solidariedade aos trabalhadores e ao povo argentino foi na Avenida Paulista em frente ao consulado da Argentina. Participaram além da Intersindical Central da Classe Trabalhadora, várias centrais sindicais.
Os dirigentes brasileiros pediram a revogação do DNU e da “Lei Ônibus”. “Ambos retiram direitos dos trabalhadores e aumentam a desigualdade social na Argentina”, afirmam.