Levantamento do TCU aponta que, de 2 milhões de doses de vacinas doadas pelos Estados Unidos, 1,9 milhão foi incinerada por negligência
O Tribunal de Contas da União (TCU) apurou que o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) incinerou 1,9 milhão de doses de vacinas contra a covid-19. Isso porque o governo negligenciou a logística de distribuição dos imunizantes. A falta de ação é correlata ao negacionismo do grupo político bolsonarista. Desde o início da pandemia de covid-19, a cúpula do governo negou a ciência, desconsiderou medidas preventivas e, inclusive, atacou vacinas com mentiras.
Entre as mentiras do governo Bolsonaro contra os imunizantes, estão as de que eles não seriam eficazes, nem seguros. O presidente chegou a dizer que as vacinas transformariam quem a tomasse em “jacaré” e cruzou, em muito, a linha do aceitável ao relacionar vacinas com a transmissão do HIV. De acordo com o TCU, o 1,9 milhão de imunizantes perdidos foi desperdiçado pelo Ministério da Saúde em um momento em que a pandemia deixava mais de mil mortos por dia.
À época, o então ministro Marcelo Queiroga, atuou, segundo o TCU, com falta de planejamento e cuidado. “Ocasionando descarte da quase totalidade dos imunizantes, gerando despesas de quase R$ 1 milhão, com transporte, desembaraço aduaneiro, armazenagem e incineração, sem trazer benefícios à população”.
Doação de vacinas
Estes imunizantes chegaram ao Brasil no dia 21 de novembro de 2021. O prazo de validade era 31 de dezembro. O recebimento das doses foi fruto de uma doação do governo dos Estados Unidos. “Chegaram agora pela manhã mais de 2 milhões de doses de vacina Covid-19 doadas pelos Estados Unidos. Agradeço pela parceria. Juntos, vamos vencer esta pandemia”, disse o ministro na ocasião.
As doses enviadas pelos Estados Unidos faziam parte do consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). A iniciativa global buscou enfrentar a pandemia através do redirecionamento de vacinas de países com sobra para economias mais frágeis. O argumento do governo para o descaso foi de que a imunização já avançava no país. Contudo, a irresponsabilidade persiste, já que muitos países da comunidade internacional até hoje carecem de imunizantes.
Então, para entender o tamanho do desperdício de imunizantes durante o governo Bolsonaro, o TCU pediu esclarecimentos para a atual administração. O órgão exigiu, em 10 dias, que o Ministério da Saúde levante um histórico da “quantidade de vacinas contra covid-19 em estoque, data de validade, quantidade de produto já descartado, entre outras questões”.
Inimigo da ciência
Desde os primeiros casos da covid-19 no Brasil, em março de 2020, Bolsonaro atuou como inimigo da ciência. Acompanhe um breve histórico do negacionismo durante a pandemia:
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