Em 2021, a OMS declarou as três novas cepas como “variantes de preocupação”; veja o que isso representa
O mundo encerra o segundo ano de pandemia de covid-19 com mais incertezas sobre o fim da crise sanitária. Apesar mais de 50% da população global ter sido vacinada com pelo menos uma dose, a distribuição dos imunizantes ainda é muito desigual. Isso, somado à escassez de medidas de isolamento social, criou o ambiente para o surgimento de novas variantes do vírus sars-cov2.
Em 2021, a Organização Mundial da Saúde declarou três cepas como “variantes de preocupação”, determinadas a partir do aumento da gravidade, transmissibilidade, redução da resposta imunológica e mudanças na estrutura genética do vírus: a Gama, a Delta e a Ômicron.
Também foram identificadas duas “variantes de interesse”, menos infecciosas que as demais, mas em monitoramento pelos organismos de saúde. A variante Lambda (C.37), identificada em julho no Peru, e Mu (B.1.621), com primeiro contágio em setembro na Colômbia.
Desde 2019, a pandemia de covid-19 gerou 273.900.334 contágios e 5.351.812 mortes, segundo a OMS. Somente no Brasil, houve um salto de 7.698.862 casos e 195.441 mil mortes, em 1º de janeiro, para 22.215.856 contágios e 617.873 óbitos confirmados até dia 20 de dezembro – um aumento de 14,5 milhões de infecções e 422 mil falecidos.
Gama
A primeira foi a variante gama (P.1), identificada em novembro de 2020 no Brasil e classificada como variante de preocupação pela OMS em janeiro de 2021.
O surgimento da nova cepa representou a segunda onda de contágios no Brasil e em países vizinhos como Venezuela, Bolívia, Peru e Paraguai. Em março, a diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), Carissa Etienne chegou a considerar o Brasil uma ameaça para a região. Na época, o país tinha uma média de nove pessoas mortas por covid-19 a cada 10 minutos.
Por conta do surto da variante P1 no Norte do país, Manaus viveu a maior crise de escassez de oxigênio hospitalar — situação denunciada como crime de responsabilidade do Governo Federal no relatório final da CPI da covid-19.
A variante gama era mais grave por sua maior capacidade de transmissão e reinfecção, além da capacidade de neutralizar e escapar da atividade dos anticorpos circulantes.
Os principais sintomas da variante são febre, tosse, dor de garganta, falta de ar, diarreia, vômito, dor no corpo, cansaço e fadiga, segundo o Instituto Butantan.
Delta
A Delta (B.1.617.2) foi identificada em outubro de 2020 na Índia e considerada variante de preocupação em maio de 2021 pela OMS.
Com oito mutações na proteína S (spike) – que conecta o vírus às células – a delta é até 50% mais contagiosa que a cepa original do vírus. Além disso, é capaz de driblar a resposta imune de algumas vacinas que se baseiam no princípio de RNA mensageiro, como as fórmulas da Pfizer e Moderna. Por isso, rapidamente tornou-se predominante no Brasil e no mundo.
Os principais sintomas são coriza, dor de cabeça, espirros, dor de garganta, tosse persistente e febre, também de acordo com o Butantan.
Ômicron
A última cepa identificada do vírus possui cerca de 50 alterações no padrão genético – o maior número já identificado -, sendo 32 mutações na proteína S, o que fez com que em apenas duas semanas do seu reconhecimento, a OMS a declarasse como variante de preocupação.
“Existem agora evidências consistentes de que a ômicron está se espalhando significativamente mais rápido do que a variante delta. E é mais provável que as pessoas vacinadas ou recuperadas do covid-19 possam ser infectadas ou reinfectadas”, disse o diretor-geral da OMS Tedros Adhanom Ghebreyesus em coletiva de imprensa na última segunda-feira (20).
Em menos de um mês, a ômicron tornou-se a cepa predominante no Reino Unido e nos Estados Unidos. Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, 73% dos novos contágios em nível nacional são da Ômicron.
As infecções causadas pela variante ômicron parecem ser tão graves quanto as infecções da delta, e ela é até cinco vezes mais contagiosa, de acordo com os primeiros estudos do Imperial College London.
Para vacinas disponíveis no Reino Unido (AstraZeneca-Oxford), a resposta imunológica contra a infecção sintomática de Ômicron variou de 0% a 20% após duas doses e de 55% a 80% após uma dose de reforço.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Hong Kong aponta que a infecção causada pela Ômicron se multiplica 70 vezes mais rápido nos brônquios quando comparada à delta.
Os sintomas mais comuns seriam cansaço extremo, dores no corpo, dor de cabeça e dor de garganta.
Novas vacinas
Até o momento, a Oxford (no Reino Unido) e o Instituto Gamaleya (na Rússia) são os dois laboratórios com os testes mais avançados registrados para o desenvolvimento de uma nova fórmula de reforço para agir sobre a variante Ômicron.
O laboratório russo assegura que uma dose de reforço da Sputnik Light aumentou a eficácia da vacina contra o vírus em até 80%, nos casos recentemente analisados.
Para a OMS ainda faltam informações para indicar doses de reforço e a gravidade que a nova cepa poderá ter, no entanto, a recomendação é suspender as festas de fim de ano.
“Se pudermos manter a transmissão do vírus ao mínimo, poderemos acabar com a pandemia”, disse o diretor da OMS, Mike Ryan, em relação às expectativas pra 2022.
Até o momento, diante de testes em andamento, todas as vacinas disponibilizadas têm alguma eficácia contra as variantes circulantes, mesmo a Ômicron, como no caso dos testes realizados com a AstraZeneca-Oxford citados acima.
Essas conclusões são feitas a partir da verificação de que a administração da vacina seja capaz de estimular uma resposta imunológica, diminuir a transmissão do vírus e a sua letalidade.
Fonte: Brasil de Fato | São Paulo (SP)
Escrito por: Michele de Mello