fbpx
Início Notícias Flávio Dino denuncia visão militar que trata cidadãos como ‘inimigos internos’
Notícias

Flávio Dino denuncia visão militar que trata cidadãos como ‘inimigos internos’

Antonio Augusto/STF

21 de maio de 2025

Durante o julgamento do núcleo 3 da tentativa de golpe, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, fez um discurso contundente contra a permanência da doutrina do inimigo interno no imaginário militar brasileiro.

A declaração foi feita no plenário da Corte, enquanto votava pelo recebimento parcial da denúncia contra militares e policiais acusados de participar das articulações golpistas de dezembro de 2022. O julgamento se concentrou na atuação de agentes das Forças Especiais e da Polícia Federal, que teriam atuado em ações coordenadas para manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após o resultado das eleições.

Dino criticou um manifesto militar juntado aos autos que falava da existência de “inimigos internos” e exaltava a disposição de soldados em “enfrentar as adversidades atualmente presentes em nosso solo pátrio”. Segundo o ministro, esse tipo de visão revela uma herança autoritária da doutrina de segurança nacional criada durante a ditadura militar, que transforma cidadãos e autoridades democraticamente eleitas em ameaças a serem neutralizadas. O ministro destacou que essa perspectiva é incompatível com os princípios democráticos e representa uma distorção da função constitucional das Forças Armadas.

“Todos os cidadãos e cidadãs brasileiras são igualmente patriotas, sem exceção para as Forças Armadas”, afirmou Dino. Para ele, esse tipo de narrativa precisa ser definitivamente banida do etos militar brasileiro. “Nunca deu certo e é algo que deve ser banido. Ninguém nunca viu o Exército dos Estados Unidos impulsionar ações contra o seu próprio povo”, declarou, chamando atenção para o caráter excepcional e ultrapassado dessa doutrina, que persiste mesmo após o fim da Guerra Fria.

O ministro também relacionou esse pensamento à quebra dos princípios de hierarquia e disciplina que estruturam constitucionalmente as Forças Armadas. Ele destacou como anormal e preocupante o fato de oficiais subalternos terem participado de reuniões conspiratórias sem o conhecimento de seus superiores imediatos, apontando isso como indício de uma ambiência permissiva à tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito. Para Dino, a subversão da cadeia de comando militar reforça os riscos de insubordinação institucional e precisa ser combatida com firmeza.

Dino critica pensamento autoritário

Dino mencionou ainda que é comum em regimes autoritários a manipulação da noção de ameaça para justificar ações repressivas. Ele lembrou que a doutrina do inimigo interno surgiu no contexto da Guerra Fria e passou a orientar estratégias de contra-insurgência na América Latina.

No Brasil, foi usada para perseguir opositores do regime militar, enquadrando movimentos sociais, políticos e intelectuais como ameaças à soberania nacional. A retórica do inimigo interno, segundo Dino, serviu historicamente para legitimar a repressão, silenciar críticas e alimentar uma lógica de guerra permanente dentro das fronteiras nacionais.

O ministro também chamou atenção para os efeitos simbólicos do julgamento. Para ele, o enfrentamento dessa doutrina não deve ser apenas jurídico, mas político e institucional. A presença dessa lógica nos discursos e práticas de setores militares, segundo ele, compromete a estabilidade democrática e precisa ser enfrentada com um compromisso firme com os valores constitucionais. “A função preventiva geral deve se materializar na ideia de que isso deve ser definitivamente banido. Nunca deu certo e só conduziu a desastres na vida brasileira”, afirmou.

No julgamento, os ministros analisavam o envolvimento de agentes das Forças Especiais e da Polícia Federal que, segundo a denúncia da PGR, atuaram em ações de monitoramento, repasse de informações sensíveis e organização de um aparato logístico que daria suporte à permanência de Jair Bolsonaro no poder. O plano envolveria inclusive movimentações para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva. A fala de Dino se destacou por conferir às condutas um significado maior: a resistência de setores militares a aceitarem os limites constitucionais de sua atuação.

Ao concluir seu voto, Dino alertou que o Judiciário tem um papel decisivo na reafirmação dos limites legais da atuação das Forças Armadas. “É preciso deixar claro que quem classifica, distingue e pune é o Poder Judiciário e mais ninguém. As Forças Armadas não podem se colocar como tutoras da sociedade civil”, disse. Para ele, decisões como essa podem contribuir para a eliminação definitiva da doutrina do inimigo interno e fortalecer o Estado Democrático de Direito, não apenas para o presente, mas como legado para as próximas gerações.

Compartilhe

Mais resultados...

Generic selectors
Apenas pesquisar exatas
Pesquisar no título
Pesquisar no conteúdo
Post Type Selectors

Receba notícias de interesse da categoria!

Informação confiável é no Sindicato, cadastre-se para receber informações!

O SEEB Santos e Região foi fundado em 11/01/1933. As cidades da base são: Peruíbe, Itanhaém, Mongaguá, Praia Grande, São Vicente, Santos, Cubatão, Guarujá e Bertioga. O Sindicato é filiado à Intersindical e a Federação Sindical Mundial (FSM).

  ACESSAR EMAIL

Fale Conosco