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Empresas portuguesas avaliam adotar semana de quatro dias

Agliberto Lima/Fotos Públicas

2 de julho de 2024

Portugal tem sido palco de uma revolução no ambiente de trabalho com a implementação da semana de quatro dias. A experiência, conduzida em 41 empresas, mostra que a redução da jornada semanal de trabalho trouxe benefícios significativos para os funcionários sem comprometer a saúde financeira das empresas.

De acordo com o relatório final “Semana de Quatro Dias – Projeto-Piloto” apresentado pelo economista Pedro Gomes, coordenador do programa do governo, e divulgado no dia 24 de junho pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), houve uma melhora notável na saúde mental dos trabalhadores. “A autoavaliação da saúde mental e física dos trabalhadores revelou aumentos significativos na categoria ‘muito boa’ ou ‘excelente’ entre os participantes.

Na saúde mental, a categoria ‘muito boa’ ou ‘excelente’ duplicou de 15% para 30%, e na saúde física aumentou de 20% para 27%”, destacou Gomes. Além disso, foi registrado um aumento médio de 11 minutos no tempo de sono e uma diminuição da exaustão e dos sintomas negativos de saúde mental: o índice de ansiedade diminuiu em 21%; o de fadiga em 23%; o de insônia ou problemas de sono em 19%.

Os dados também mostram que, apesar de não haver uma coleta direta de informações financeiras, “a maioria dos administradores registou um aumento nas receitas e lucros em 2023, em comparação com o ano anterior, sugerindo que a semana de quatro dias não está associada a um desempenho financeiro negativo”, diz o relatório final, assinado também pela professora Rita Fontinha, associada de Strategic Human Resource Management na Henley Business School da Universidade de Readinge.

Benefícios extensivos e desafios futuros

Os impactos positivos não se restringiram ao ambiente de trabalho. A satisfação com o tempo livre e os relacionamentos pessoais também aumentaram significativamente. “A satisfação com o tempo livre aumentou consideravelmente e os trabalhadores relataram maior satisfação com várias áreas de suas vidas, incluindo relacionamentos pessoais, situação financeira e trabalho atual. Esses benefícios foram observados tanto em homens quanto em mulheres, mas com um efeito quantitativo maior entre as mulheres”, apontou o relatório.

A experiência foi tão bem-sucedida que 93% dos funcionários das empresas participantes gostariam que a semana de quatro dias continuasse. Apenas quatro companhias decidiram voltar ao modelo tradicional de cinco dias. Este resultado levou o primeiro-ministro Luís Montenegro a considerar a adoção da semana de quatro dias na administração pública, embora com algumas ressalvas. “A questão de o fazermos na administração pública é uma boa questão. É uma questão que eu não vou conseguir responder já, mas também lhe vou dizer que não excluo, talvez com a manutenção da carga horária semanal”, declarou Montenegro no Parlamento.

Outro destaque é a valorização do modelo pelos trabalhadores com salários e qualificações mais baixas, desafiando a ideia de que essa prática seria destinada apenas a uma elite altamente qualificada. A redução marginal de trabalhadores com uma segunda atividade e a diminuição dos níveis de estresse e exaustão foram notáveis, com 65% dos participantes afirmando ter passado mais tempo com a família.

Considerações sobre a igualdade de gênero

Apesar dos resultados promissores, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Maria do Rosário Palma Ramalho, considera “cedo” para avançar na semana de quatro dias e alerta para possíveis efeitos indiretos do modelo na igualdade de gênero. “Temos uma repartição dos papéis sociais em Portugal muito tradicional e, portanto, a mulher continua a ser quem mais tem as responsabilidades familiares. É preciso medidas que promovam uma maior equidade e não que contribuam para aumentar essas responsabilidades de forma desequilibrada sobre as mães”, afirmou a ministra.

O projeto-piloto, que começou em junho de 2023, envolveu várias mudanças organizacionais nas empresas participantes, como a diminuição da duração de reuniões e a criação de blocos de trabalho para garantir que a redução da jornada não interferisse nas entregas semanais. A jornada de quatro dias, conhecida como 100-80-100 (100% do salário, 80% do tempo e 100% da produtividade), mostrou que funcionários mais descansados trabalham melhor e com mais criatividade.

Próximos passos

Com a conclusão do projeto-piloto, o coordenador Pedro Gomes e sua equipe planejam disponibilizar um kit de iniciação (ou starter pack) para empresas interessadas em testar o modelo. Este material, que inclui sessões gravadas e outros recursos, será disponibilizado a partir do último trimestre deste ano.

Além disso, está em estudo uma possível parceria com o Instituto Nacional de Estatística (INE) para continuar a investigação acadêmica “visando uma análise mais detalhada e de longo prazo dos efeitos da semana de quatro dias”. Apesar dos resultados positivos, Gomes alerta que as empresas participantes não são representativas do mercado português como um todo, por isso, é importante incentivar as diferentes organizações a irem testando este formato, afirma o relatório final, “especialmente as grandes empresas”.

Principais dados do projeto-piloto

Empresas:

  • 41 empresas participantes
  • 12 distritos representados
  • 56% das líderes mulheres
  • Setores de Consultoria, Ciência e Tecnologia em destaque
  • 52,5% das empresas optaram por 36 horas semanais
  • 52,4% das empresas manterão o modelo de semana de quatro dias
  • As empresas participantes avaliaram positivamente o projeto, destacando o profissionalismo da equipe e a importância do projeto no contexto das relações laborais em Portugal

Trabalhadores:

  • 332 trabalhadores no grupo experimental
  • 160 trabalhadores no grupo de controle
  • 67% do sexo feminino
  • 55% com menos de 40 anos
  • 79% com ensino superior, mestrado ou doutorado
  • Redução da jornada de 41,6 para 36,5 horas semanais
  • Melhorias na saúde mental e física
  • Evidente redução da exaustão e desgaste
  • Melhor equilíbrio entre trabalho e vida pessoal
  • 93% dos trabalhadores desejam continuar com o novo formato
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