Negros são 56,1% da força de trabalho, mas recebem os piores salários. Entre as mulheres está a maior desigualdade. Elas recebem em média R$ 1.908, ante R$ 3.096 de não negras
O Dieese divulgou nesta sexta-feira (17) dois estudos que relacionam a desigualdade no mercado de trabalho à questão racial. Os levantamentos e estatísticas referem-se ao mês da Consciência Negra, que tem seu ápice na próxima segunda-feira (20), data da morte de Zumbi dos Palmares.
Entre os destaques, a desigualdade entre negros e não negros. Por exemplo, apesar de representarem 56,1% da força de trabalho do Brasil, negros recebem piores salários. Entre os homens, o rendimento médio é de R$ 2.390 para negros e R$ 4.013 para não negros. Entre as mulheres, R$ 1.908, em comparação com R$ 3.096.
Novas perspectivas
“Após quatro anos de retrocesso econômico e social, em 2023, abre-se novamente espaço para a retomada do debate sobre a construção da igualdade entre negros e não negros”, afirma o Dieese. A entidade marca as dificuldades que o país enfrentou nos anos da presidência de Jair Bolsonaro (PL), que nunca escondeu sua aversão à luta antirracista.
Inicialmente, a entidade pondera os avanços econômicos e sociais velozes do novo governo. “Em 2023, há algumas mudanças. A melhora da atividade econômica no início do ano foi uma surpresa positiva e a expectativa é que o PIB cresça aproximadamente 3%. Essa recuperação traz impactos positivos também no mercado de trabalho. A taxa de desocupação diminuiu e o emprego formal cresceu. Além disso, a inflação mais baixa e o aumento do salário mínimo permitiram recuperação dos rendimentos médios dos ocupados.”
Entretanto, o Dieese pondera que os desafios estão distantes da superação. O racismo estrutural é um fato no país e fere de morte a busca por desenvolvimento sustentável, igualitário e racional do país. “O mercado de trabalho ainda é espaço de reprodução da desigualdade racial. Tanto a inserção quanto as possibilidades de ascensão são desiguais para a população preta e parda. E as mulheres negras acumulam as desigualdades não só de raça, mas também de gênero.”
Questão histórica e Consciência Negra
Assim, a conclusão do Dieese sobre o mercado de trabalho é que o racismo segue como o normal, particularmente entre o setor privado, conforma avança a pesquisa. “Mesmo com a indicação do crescimento da atividade econômica, o mercado de trabalho continua reproduzindo as desigualdades sociais. Os trabalhadores negros enfrentaram mais dificuldades para conseguir trabalho, para progredir na carreira e entrar nos postos de trabalho formais com melhores salários. E as mulheres negras encaram adversidades ainda maiores do que os homens, por vivenciarem a discriminação por raça e gênero.”
Finalmente, o Dieese recomenda e sentencia que a “construção de uma sociedade mais justa e desenvolvida, não pode deixar que mais da metade dos brasileiros seja sempre relegada aos menores salários e a condições de trabalho mais precárias apenas pela cor/raça ou pelo gênero. É necessário amplo trabalho de sensibilização para que todas as políticas públicas sejam desenhadas e implementadas com o objetivo de atacar o problema das desigualdades – especialmente no mercado de trabalho. O caminho a ser percorrido é longo, mas o trajeto precisa ser feito com determinação e agilidade”.
O boletim pode ser conferido neste link e o infográfico, aqui.