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Dia da Consciência Negra: o 20 de novembro e as lutas das mulheres negras

Tânia Rêgo/Agência Brasil

19 de novembro de 2024

Dia da Consciência Negra: o 20 de novembro e as lutas das mulheres negras | Para as mulheres negras, o Dia da Consciência Negra representa também a luta adicional contra o racismo e o machismo. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

20 de novembro é o Dia da Consciência Negra. A TVT News, comprometida com a diversidade e a representatividade, se une a essa celebração e destaca o papel fundamental das mulheres negras na luta contra o racismo, o machismo e a desigualdade.

O que é o Dia da Consciência Negra

O Dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de novembro e é feriado nacional no Brasil desde 2023. O Dia da Consciência Negra é uma data para refletir sobre a luta histórica e atual das negras e dos negros no Brasil contra o racismo, a discriminação e as desigualdades sociais. Instituída para honrar a memória e o legado de Zumbi dos Palmares, líder do Quilombo dos Palmares, a data é um marco de resistência e resiliência para a população negra, e destaca a importância de valorização das contribuições culturais, sociais e políticas afro-brasileiras.

Por que 20 de novembro é o Dia da Consciência Negra

O dia 20 de novembro foi escolhido para o Dia da Consciência Negra como homenagem a Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra no Brasil colonial. Ele liderou o Quilombo dos Palmares, comunidade formada por negros escravizados que fugiam das condições opressivas nas senzalas e buscavam liberdade.

Em 1695, Zumbi foi assassinado em combate, tornando-se mártir na luta contra a escravidão. Desde a oficialização da data em 2003, o Dia da Consciência Negra se consolidou como um momento de celebração da herança africana e de combate ao racismo estrutural, ressaltando a necessidade de uma sociedade mais justa para todos.

Ao longo dos anos, o 20 de novembro ganhou força como dia de reflexões e ações que promovem o respeito e a igualdade de direitos. A partir de 2023, o Dia da Consciência Negra é feriado nacional. A Lei 14.759/23, sancionada pelo presidente Lula, estabelece oficialmente o dia 20 de novembro como feriado em todo o país, reforçando a importância da data para a sociedade brasileira

Para as mulheres negras, essa data representa também uma luta adicional contra o racismo e o machismo. Elas enfrentam barreiras múltiplas, sendo muitas vezes sub-representadas nos espaços de poder. No entanto, apesar dos desafios, seguem contribuindo ativamente para o fortalecimento da identidade e da cultura negra no país.

Quem foi Dandara dos Palmares?

Dandara dos Palmares, companheira de Zumbi, desempenhou papel estratégico no Quilombo dos Palmares. Guerreira e estrategista, Dandara participou ativamente na defesa do quilombo, lutando contra o exército colonizador e resistindo às investidas que ameaçavam a comunidade quilombola. Embora muito da sua história permaneça pouco conhecida, seu nome se tornou símbolo da força e da luta das mulheres negras pela liberdade e pelos direitos da população negra. Hoje, Dandara é lembrada como uma heroína que lutou pela liberdade do povo negro, inspirando mulheres negras a seguirem em frente na busca por igualdade e justiça.

Ilustração atribuída a Dandara dos Palmares: Dia da Consciência Negra faz homenagem às heroínas da luta das mulheres negras

De acordo com o Memorial do Ministério Público Federal, “em 24 de abril de 2019, Dandara dos Palmares teve o nome incluído no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que está no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília (DF). A inclusão foi feita a partir da Lei nº 13.816/19, de autoria da ex-deputada federal Eronildes Vasconcelos, e se deu somente 22 anos após a inclusão do nome de Zumbi no mesmo livro”.

Para o MPF, “o resgate da história de vida de Dandara foi feito a partir da oralidade do movimento negro. Texto disponibilizado no site da Fundação Palmares aponta que há muitas lacunas sobre a origem de Dandara, sem registros sobre o local onde nasceu ou sua descendência africana. Relatos levam a crer que ela se estabeleceu no Quilombo dos Palmares ainda criança”.

Dia da Consciência Negra: mulheres negras da história do Brasil

Ao longo da história do Brasil, inúmeras mulheres negras desempenharam papéis importantes na luta contra o racismo e a opressão. Dentre elas, destaca-se Tereza de Benguela, líder quilombola que, no século XVIII, comandou o Quilombo de Quariterê, uma comunidade organizada que resistiu bravamente à escravidão. Também merece destaque a escritora Maria Firmina dos Reis, autora pioneira que desafiou os estigmas de sua época e abordou o tema da escravidão em sua obra “Úrsula”.

Na contemporaneidade, mulheres como Lélia Gonzalez e Sueli Carneiro continuam a deixar um legado importante. Lélia foi uma das precursoras do feminismo negro no Brasil, enquanto Sueli Carneiro fundou o Geledés — Instituto da Mulher Negra, atuando na defesa dos direitos das mulheres negras e na luta contra o racismo. Essas figuras inspiram gerações, mostrando que a resistência e a luta pela consciência negra seguem firmes e essenciais para uma sociedade mais igualitária.

A lista de mulheres negras que desempenharam papéis essenciais na luta contra o racismo e na construção da consciência negra no Brasil é enorme. Além de Dandara, Tereza de Benguela, também podem ser destacadas:

Luíza Mahin – Ativista de origem africana, participou de revoltas importantes contra a opressão escravagista na Bahia, como a Revolta dos Malês (1835). Sua atuação é lembrada como símbolo de resistência cultural e social do povo negro.

Carolina Maria de Jesus – Escritora e autora de “Quarto de Despejo”, um dos maiores relatos sobre a pobreza e o racismo no Brasil. Carolina foi pioneira ao dar visibilidade às dificuldades enfrentadas por negros e pobres nas favelas brasileiras, além de influenciar gerações de escritores e ativistas.

Antonieta de Barros – Primeira deputada negra eleita no Brasil, em Santa Catarina, na década de 1930, e educadora dedicada à alfabetização e ao combate ao racismo e ao machismo, trabalhando pela inclusão e reconhecimento do papel das mulheres negras na sociedade.

Lélia Gonzalez – Intelectual e ativista, foi uma das pioneiras na defesa dos direitos das mulheres negras e do movimento negro no Brasil. Sua obra e atuação questionaram as raízes estruturais do racismo e do machismo, sendo uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado.

Marielle Franco – Socióloga, feminista e vereadora do Rio de Janeiro, Marielle Franco foi uma voz incansável na defesa dos direitos humanos, especialmente da população negra, periférica e LGBTQIA+. Nascida no Complexo da Maré, ela usou a trajetória política para denunciar a violência policial, o racismo e a opressão de minorias, inspirando milhares de mulheres e jovens. O assassinato de Marielle em 2018 foi um choque para o Brasil e para o mundo, transformando-a em símbolo de resistência e luta por justiça. O legado de Marielle Franco segue vivo, mobilizando movimentos sociais que exigem igualdade e respeito pelos direitos de todos.

Outras datas que celebram a luta da mulher negra: 25 de julho

No dia 25 de julho é celebrado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha, outra uma data para reconhecer as lutas, conquistas e a importância da mulher negra na construção da sociedade.

Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha foi instituído em 1992 durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana. O objetivo de marcar essa data é promover a visibilidade e o reconhecimento das lutas e conquistas das mulheres negras em toda a América Latina

Dia Internacional da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha surgiu como uma resposta à necessidade de unir e fortalecer as mulheres negras contra o racismo, a discriminação e a desigualdade. Em vários países da América Latina e Caribe, além do Brasil, diversas atividades são realizadas para comemorar a data e debater temas relevantes para essa parcela da população, que ainda enfrenta inúmeros desafios tanto sociais quanto econômicos.

“O dia 25 de julho é muito importante. Eu não me via representada em lutas de outras datas conhecidas, mas que tinham, geralmente, um olhar branco. Mas, há 9 anos, todo 25 de julho, nós fazemos a Marcha das Mulheres Negras nas ruas de São Paulo, com cerca 3 a 7 mil mulheres, que participam de uma programação política, cultural e que também inclui um momento de celebração às nossas ancestrais que participaram das lutas passadas”, conta a jornalista e militante da Marcha das Mulheres Negras, Juliana Gonçalves.

Tereza de Benguela, a escravizada que se tornou a líder quilombola e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas. Imagem: Wikimedia Commons

Além disso, a escolha do dia 25 de julho tem um simbolismo especial, pois coincide com o aniversário de morte de Tereza de Benguela, uma das líderes negras mais importantes na história da resistência à escravidão no Brasil. A data também é reconhecida oficialmente no Brasil como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, através da Lei nº 12.987, sancionada em 2014, reforçando o compromisso do país com a luta das mulheres negras.

“O 25 de julho é uma maneira de vocalizar as vozes apagadas, silenciadas, esquecidas das milhares de mulheres negras latino-americanas que deram seu suor e sangue para erguer nações. É restaurar memórias daquelas que chegaram antes de nós nesta terra para a qual fomos trazidas à força e sofremos tantas violência e resistimos até hoje”, explica a pesquisadora da História da África, Carolina Morais.

Dia da Consciência Negra também é uma oportunidade para celebrar as conquistas e a resistência. Em meio às adversidades, as mulheres têm conseguido avanços significativos em diversas áreas, incluindo educação, cultura e política e empreendedorismo. Essas vitórias são fruto de lutas contínuas e organizada, que merecem ser reconhecidas e apoiadas por toda a sociedade. “Ser mulher negra no Brasil para mim, hoje, é ter a possibilidade de apontar caminhos reais para a formação de uma outra sociedade menos desigual, menos predatória, menos exploratória. É falar a partir de uma potência de transformação para todas e todes”, aponta Juliana Gonçalves.

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