Presidente argentino retira delegação da COP29 e enfrenta ONU sobre mudanças climáticas, intensificando polêmica antes de encontro com Trump na CPAC
A delegação argentina abandonou a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), em Baku, no Azerbaijão, sob o comando do presidente ultradireitista Javier Milei, reforçando sua postura de ceticismo em relação às mudanças climáticas e suas medidas de mitigação. Milei, que questiona a veracidade da crise climática e considera parte de uma “agenda ideológica” da ONU, pediu o retorno dos técnicos enviados pela Secretaria de Meio Ambiente ao país, evitando maior participação argentina na cúpula.
A postura do governo de Milei causou desconforto entre representantes de outros países e ONGs presentes no evento. A delegação argentina, composta por técnicos e diplomatas, apresentou um perfil discreto e evitou discussões diretas, agindo “por medo”, segundo fontes locais. Embora a Argentina tenha participado simbolicamente dos grupos de negociação do Grupo Sul e do G77 + China, a ausência de voz e engajamento por partes dos seus representantes foi notada.
A saída da COP29 ocorre em um momento estratégico para Milei, que nesta semana se encontrará com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que também é crítico das políticas climáticas e cogita retirar os EUA do Acordo de Paris. Ambos os líderes discursarão na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), em Mar-a-Lago, na Flórida, em uma sinalização de alinhamento político que promete intensificar o ceticismo de ambos diante das pautas globais de desenvolvimento sustentável.
Divergências com o G20
Além da COP29, a postura de Milei impactou também as negociações na cúpula do G20, onde a chancelaria argentina contestou trechos do rascunho de declarações finais. Os representantes argentinos apontaram oposição a compromissos com a Agenda 2030 e ao Pacto para o Futuro, iniciativas chaves da ONU específicas ao desenvolvimento sustentável. Essa postura promete dificultar o consenso nas declarações finais do G20, de acordo com fontes próximas às negociações.
Diplomatas de outros países, incluindo o Brasil, têm sido mostrados apreensivos com o “radicalismo” de Milei. Fontes afirmaram à colunista do GLOBO, Renata Agostini, que a postura argentina indica o desafio de conciliar o texto final do G20, que deverá buscar “acomodar as sensibilidades” da Argentina sem comprometer os compromissos globais firmados pelo grupo.
Diplomacia controversa e respostas internacionais
O estilo provocador de Milei, descrito como “diplomacia da lacração” por um membro da delegação brasileira, tem gerado reações no cenário internacional. Durante a Assembleia Geral da ONU, Milei já havia declarado que a organização busca “impor uma agenda ideológica” com objetivos irrealistas e ultrapassados. Essa visão é refletida em sua recusa às políticas ambientais, que segundo ele, “são falsas” e usadas para “angariar fundos para financiar socialistas preguiçosos que escrevem artigos de segunda categoria”.
Com a retirada da COP29 e as críticas ao G20, Milei destaca seu distanciamento das pautas ambientais globais, polarizando ainda mais as discussões em fóruns internacionais e levantando dúvidas sobre o papel futuro da Argentina em compromissos multilaterais.