Economista do Dieese apresenta dados que comprovam que reajustes da categoria nos últimos 20 anos mostram que, apesar das perdas no período FHC, a soma dos reajustes levou a um aumento real de 11,18% no período entre 1994 até 2023
Os reajustes obtidos pelos trabalhadores em suas campanhas salariais nos últimos 15 meses – a maioria teve aumento real em seus acordos coletivos – e a manutenção da alta rentabilidade dos bancos podem favorecer as negociações da categoria bancária deste ano. Na 26ª Conferência Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, realizada em São Paulo dias 7,8 e 9/6, economistas do Dieese explicaram:
Lucro recorde – Segundo a economista Rosângela Vieira, houve assimetria no resultado financeiro dos principais bancos em 2023, com recorde de lucro do Itaú e BB, e lucros expressivos também no Bradesco e Santander, mas abaixo do esperado pelo mercado. Os resultados podem impactar positivamente as negociações. Dados do Banco Central para Instituições Financeiras, considerando BB, CEF e bancos múltiplos, mostram: ampliação do lucro em 6,4% em relação ao ano de 2022; 76,5% apresentaram lucro; 23,5% apresentaram prejuízo; 36,5% registraram piora no resultado; 63,4% registram melhora dos resultados.
Aumento real – Rosângela também apresentou um gráfico com os dados dos índices de reajustes obtidos pelas categorias nas últimas 15 datas-base, que aponta que a grande maioria das categorias obteve aumento acima da inflação medida pelo INPC-IBGE. Nas negociações de 2024, 86,1% das categorias obtiveram aumento real. Apenas 3,2% tiveram perdas e 10,8% a reposição integral da inflação. Este resultado positivo expressivo é uma referência importante para as negociações bancárias.
Juros altos fazem endividamento crescer – Ao apresentar os dados sobre o desempenho recente dos cinco maiores bancos, Vivian Machado ressaltou que de 2019 a 2023, em termos reais, o lucro líquido teve uma queda de 19,7%. No mesmo período, a provisão para devedores duvidosos (PDD) aumentou 30,4%, e a carteira de crédito cresceu 22,4%, ambos em valores reais.
“A alta na inadimplência no período recente, uma das responsáveis pelo aumento da PDD, está associada aos impactos da pandemia, alta taxa de juros e menor rendimento das famílias durante o Governo Bolsonaro”, explicou. Os dados apontam que, em dezembro de 2023 77,6% das famílias possuíam dívidas; 28,8% possuíam dívidas em atraso; 11,3% não tinham condições de pagar as dívidas em atraso.
“Um estudo recente do Centro de Estudos de Mercado de Capitais da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Cemec-Fipe), com dados de 2023, mostra que o endividamento das empresas fechou o ano em 35,9% do Produto Interno Bruto (PIB). Este nível é próximo ao registrado durante a crise econômica de 2015, quando essa relação estava em 36,1%”, ressaltou Vivian.
Fechamento de agências – Outros dois dados preocupantes são referentes ao fechamento de agências bancárias e a redução dos postos de trabalho nos bancos. Nos últimos cinco anos, foram fechadas 3,2 mil agências em todo o país (88% delas de bancos privados) e houve uma redução de 20,7 mil postos de trabalho bancário.
Mudanças – Rosângela alertou sobre o crescimento da participação das cooperativas e das instituições não bancárias na carteira de crédito. “O Relatório de Economia Bancária aponta que a concentração diminuiu em todos os agregados, ativos totais, depósitos totais e operações de crédito, decorrente do aumento da participação das cooperativas de crédito e das instituições não bancárias na maioria dos mercados relevantes de crédito”, disse.
E isso tem consequências para os bancos tradicionais e para a categoria bancária. Em síntese, temos estes movimentos comuns: queda no emprego bancário e fechamento de agências; ampliação nas Provisões para Devedores Duvidosos (tendência estabilidade); e investimentos robustos em tecnologia (aumento emprego em ocupações TI).
Segundo e economista, há movimentos distintos no sistema financeiro, entre eles, a heterogeneidade em relação a expansão da carteira de crédito, com os bancos públicos apresentando maior expansão que privados; e uma assimetria no resultado financeiro dos bancos, apesar de lucro.
Balanço positivo das negociações bancárias – A economista do Dieese recordou que a reforma trabalhista feita durante o governo Temer, que entrou em vigor em 2017, promoveu um verdadeiro desmonte da legislação, com inúmeros cortes de direitos.
“Mas as negociações da categoria bancária não apenas conseguiram manter todos os direitos previstos na Convenção Coletiva (a reforma poderia alterar 43 das 71 cláusulas), inclusive os direitos dos trabalhadores hipersuficientes (dois tetos do INSS), como estabeleceu o reconhecimento do modelo de organização sindical que é tido como referência para as demais categorias em todo o país”, lembrou.
Bancários têm aumento real – Rosângela também apresentou informações sobre os reajustes da categoria nos últimos 20 anos, que mostram que, apesar das perdas no período FHC, a soma dos reajustes levou a um aumento real de 11,18% no período entre 1994 a 2023. Em sua apresentação, a economista do Dieese lembrou também dos diversos avanços obtidos nas cláusulas sociais:
Regulamentação do teletrabalho: Controle de jornada; direito à desconexão; fornecimento de equipamentos para teletrabalho; promoção da saúde do trabalhador, igualdade de tratamento que inclui todos os benefícios; auxílio para trabalhadores 100% em Home Office; Combate à violência sexual; Iniciativas de prevenção à violência contra mulher; Discussão de metas e seu acompanhamento em reuniões com bancos.