Proposta deve provocar grandes embates entre governistas e oposição. “Isso não é reforma trabalhista; é a cassação de direitos historicamente conquistados. É jogar a CLT no lixo”, diz líder do Psol
A Câmara Federal prepara para esta terça-feira (14) a abertura dos trabalhos da comissão que irá analisar a proposta de reforma trabalhista enviada por Michel Temer ao Congresso Nacional.
Tendo como relator e presidente os deputados Rogério Marinho (PSDB-RN) e Daniel Vilela (PMDB-GO), o colegiado deverá ser palco de um dos maiores embates entre governo e oposição neste primeiro semestre do ano.
A medida tem como espinha dorsal o Projeto de Lei (PL) 6.787/16, que determina a prevalência do negociado sobre o legislado. Isso significa que eventuais convenções e acordos coletivos entre patrões e empregados tendem a se sobrepor aos ditames da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), prevista no Decreto-Lei 5.452/43. O PL também altera a Lei nº 6.019/1974, que dispõe sobre o trabalho temporário em empresas urbanas.
Centrais sindicais e parlamentares da oposição têm dito que, na prática, a medida implica o esvaziamento dos direitos trabalhistas. Para o líder do Partido do Socialismo e Liberdade (PSOL) na Câmara Federal, Glauber Braga (RJ), a reforma vem com o objetivo de fragilizar ainda mais o funcionário no contexto das relações com o patronato.
“O trabalhador é a parte mais frágil das relações de trabalho, exatamente porque o outro tem o poder da contratação. Então, a lei vem justamente pra tornar essa relação menos desigual. Se você retira isso, surge um desequilíbrio ainda maior”, avalia o deputado.
O PL prevê, a partir dos acordos coletivos, possibilidade de flexibilização em 13 pontos específicos dos contratos de trabalho. Entres eles, estão: jornada de 220 horas mensais; fracionamento de férias em até três vezes; participação nos lucros da empresa; intervalo de trabalho com mínimo de 30 minutos; banco de horas; trabalho remoto; remuneração por produtividade; e registro de jornada.
Para Braga, caso a proposta seja aprovada, o atual contexto econômico servirá de mote para acelerar ainda mais a deterioração da CLT.
“A partir do momento em que se tem o apelo da negociação para passar por cima de qualquer direito, isso será utilizado como instrumento de retirada de mais direitos, principalmente em um momento de crise econômica. Isso não é reforma trabalhista; é a cassação de direitos historicamente conquistados. É pra jogar a CLT no lixo”, critica o líder.
Velocidade
Assim como vem ocorrendo com outras medidas de austeridade, o governo trabalha para acelerar a apreciação da matéria e garantir a aprovação da reforma o mais breve possível.
Segundo o relator, Rogério Marinho, a estimativa é que o parecer seja votado no colegiado até julho. Ele tem um prazo de dez sessões do plenário para apresentar o relatório sobre o PL.
Em entrevista à imprensa nos últimos dias, Marinho defendeu a proposta, dizendo que a medida visa à modernização da legislação e que, na avaliação dele, deve ajudar o país no enfrentamento da crise econômica.
“Essa pressa é uma forma de evitar que o povo perceba o verdadeiro caráter da medida e o quanto ela é cruel para o país. (…) É preciso que nós nos mobilizemos porque estamos falando de medidas de retirada de direito que nem a ditadura militar ousou fazer”, disse a deputada Érika Kokay (PT-DF), acrescentando que o governo Fernando Henrique Cardoso também tentou emplacar a proposta do negociado sobre o legislado, mas não conseguiu, dado o caráter repulsivo da matéria.
“Por isso o governo tem pressa pra implementar a reforma, e é nesse sentido que precisamos reagir e traduzir tudo isso pra população”, destacou Kokay, correlacionando o PL 6.787 com a reforma da Previdência, também bastante criticada pelos segmentos populares.
Trâmite
Nesta terça, a comissão deve traçar um cronograma de atividades e decidir quais nomes devem ser convidados para participar dos debates sobre a matéria. No mesmo dia, também devem ser escolhidos o segundo e o terceiro vice-presidentes do colegiado.
Pelo regimento da Casa, a deliberação da comissão a respeito da matéria é considerada conclusiva, ou seja, o PL não precisa ser encaminhado para discussão em plenário, a não ser em caso de apresentação de recursos.
Mas a oposição já começa a trabalhar no sentido de estender o trâmite do projeto. O deputado Weverton Rocha (PDT-MA), por exemplo, apresentou um requerimento à comissão solicitando que o PL seja discutido também em plenário.
Fonte: Brasil de fato