A Americanas revelou na semana passada que detectou R$ 20 bilhões em “inconsistências contábeis”. Seu presidente- executivo e diretor financeiro renunciaram. As ações da varejista caíram quase 80% até agora neste ano
BTG Pactual, Bradesco e Santander Brasil estão entre os mais expostos à dívida da Americanas, mostraram estimativas de analistas na segunda-feira (16), depois que a varejista obteve uma liminar protegendo-a dos credores.
Analistas do JPMorgan e do Citi disseram que o Bradesco tinha a maior exposição nominal à empresa, enquanto o BTG Pactual liderava a exposição como proporção dos empréstimos.
A Americanas revelou na semana passada que detectou R$ 20 bilhões em “inconsistências contábeis”. Seu presidente – executivo e diretor financeiro renunciaram. As ações da varejista caíram quase 80% até agora neste ano.
Um juiz deu prazo de 30 dias para que a empresa peça recuperação judicial. No sábado, o BTG recorreu da decisão que protege a Americanas dos credores, atacando os acionistas da varejista, um trio de bilionários e fundadores da 3G Capital.
Nesta segunda-feira, Bank of America e BV também recorreram da decisão, segundo o jornal O Globo. Nenhum dos bancos respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Considerando estimativas do JPMorgan e do Citi, o BTG tinha exposição de R$ 1,9 bilhão à Americanas, o que representava cerca de 1,5% dos empréstimos, enquanto o Bradesco tinha exposição de R$ 4,7 bilhões, ou 0,5% dos empréstimos. O Santander Brasil tinha R$ 3,7 bilhões, ou cerca de 0,6% dos empréstimos.
“Achamos que o impacto de nossa cobertura pode variar de 1% a 7% no lucro líquido e de 0,1% a 1% em termos de patrimônio”, disse o Citi, observando que Santander Brasil, BTG e Bradesco seriam os mais afetados em ambas as contas.
Sergio Rial, o ex-presidente-executivo da Americanas que revelou as inconsistências contábeis, é ex-chefe do Santander Brasil, onde ainda atua como presidente do conselho.
“Com base em casos corporativos anteriores no Brasil, acreditamos que os bancos devem começar a provisionar cerca de 30% disso, o que pode eventualmente aumentar”, disse o JPMorgan.
De acordo com o Valor Online, o BTG Pactual foi mais uma vez à Justiça e pediu o bloqueio de R$ 1,2 bilhão em aplicações da Americanas no banco, como garantia de pagamento antecipado de dívidas, após uma negativa no fim de semana pelo desembargador de plantão.
O pedido foi novamente negado no fim da noite de segunda-feira (16) com o argumento de que o BTG possui “notório patrimônio líquido” de mais de R$ 42 bilhões, com valor de mercado próximo aos R$ 85,18 bilhões, e que, por isso, não haveria maior prejuízo ao banco.
As ações do BTG caíram mais de 4% na segunda-feira, enquanto as do Santander Brasil e do Bradesco caíram mais de 3% cada, ante queda de 1,5% do Ibovespa.
As ações da Americanas despencaram 38,4%, para R$ 1,94, na segunda-feira.
A Moody’s cortou a classificação da varejista para “Caa3”, colocando-a sob revisão para um novo rebaixamento.
A S&P cortou a nota de crédito da Americanas de ‘B’ na escala global para ‘D’ (default geral) e rebaixou as classificações de emissão das dívidas “senior unsecured” da varejista de “B” para “D”, retirando os ratings de recuperação.
Entenda o caso
As ações da Americanas despencaram na bolsa de valores na quinta-feira (12) depois que a empresa publicou comunicado em que diz que foram identificadas “inconsistências em lançamentos contábeis” no balanço, em valor que chega a R$ 20 bilhões.
Em outras palavras, a Americanas percebeu que o valor bilionário — que é referente aos primeiros nove meses de 2022 e anos anteriores — não havia sido registrado de forma apropriada nos balanços corporativos da empresa.
A empresa publicou documento em que afirma que a correção das inconsistências contábeis, cujo valor foi estimado em cerca de R$ 20 bilhões, levará à revisão dos resultados financeiros de anos anteriores. Segundo a Americanas, os números referentes ao grau de endividamento e seu ao capital de giro serão alterados.
Isso levará ao descumprimento de contratos e ao vencimento antecipado e imediato de dívidas. De acordo com o documento judicial, o montante de dívidas pode chegar a R$ 40 bilhões.
Uma decisão judicial de sexta-feira (13) determina, entre outras medidas, a interrupção de quaisquer cláusulas contratuais que imponham o pagamento antecipado de dívidas da empresa e a incidência de juros durante esse período. O documento também pede que qualquer valor recebido pelos credores por causa desse assunto seja devolvido à empresa.
Pela cláusula de vencimento antecipado, os bancos para os quais a Americanas deve poderiam pegar o dinheiro existente em contas correntes e de investimentos. Se isso acontecesse, a empresa quebraria.
Também na sexta, a Justiça deu prazo de 30 dias para que a empresa avalie se vai pedir recuperação judicial.