Com aumento de mortes nas últimas semanas, OMS diz que é “prematuro” declarar vitória contra a pandemia e cobra retomada de medidas para conter a transmissão
O Brasil registrou nesta terça-feira (1º) 929 mortes pela covid-19 nas últimas 24 horas. É o maior número desde 19 de agosto, quando foram computados oficialmente 979 óbitos. A média móvel diária de mortos também subiu, para 603 nos últimos sete dias, maior marca desde o início de setembro. No mesmo período, foram mais 193.465 casos da doença confirmados em todo o país. Assim, a média móvel de casos subiu para 186.985, a maior desde o início da pandemia no Brasil, em março de 2020.
Ao todo, o país tem mais de 628 mil mortes pela covid-19 oficialmente registradas, e ultrapassou a marca dos 25,6 milhões de casos. Os dados são do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
O cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, lamentou que os apelos do órgão para conter a transmissão no início da onda ômicron não foram ouvidos. “Agir hoje evita a consequência de amanhã”, tuitou.
O neurocientista Miguel Nicolelis também alertou, igualmente, que o país está voltando ao patamar de mil mortes diárias “muito mais rapidamente do que esperávamos”.
Testes positivos saltaram de 3% para 37%
De dezembro a janeiro, o percentual de testes positivos para a covid-19 saltou de 3% para 37%, nos casos analisados pelos laboratórios da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Entre 16 e 22 de janeiro, também houve “forte aumento” no número de testes realizados. Foram 121.275 amostras analisadas, crescimento de 195% em relação à média das oito semanas anteriores. De acordo com a instituição, a variante ômicron, que chegou no país no final de novembro, é o que explica esse “aumento vertiginoso”.
Todas as centrais da Fiocruz, que coletam amostras de diversas regiões, notaram esse aumento na positividade dos testes. A Unidade de Apoio ao Diagnóstico da Covid-19 no Rio de Janeiro (Unadig-RJ), por exemplo, teve um salto de 2% em dezembro para 37% até 24 de janeiro. O total de amostras analisadas subiu de 52.795 para 88.495, com testes realizados também no Rio Grande do Sul e Minas Gerais.
No Ceará, que também processa amostras de Santa Catarina e São Paulo, o salto foi ainda maior. Em dezembro, o laboratório processou 13.181 amostras, com taxa de positividade de 4%. Um mês depois, das 58.285 amostras, 40% deram positivo.
Da mesma forma, no Paraná, que processa amostras apenas do próprio estado, a taxa de positividade também subiu de 4,23%, com 65.037 testes em dezembro, para 40,73% nas 120.642 amostras colhidas em janeiro.
Ressaca do fim de ano
Além da ômicron, muito mais transmissível, a “explosão de casos” de covid é consequência, principalmente, das festas do fim de ano. Para a coordenadora-geral da Unadig-RJ, Erika de Carvalho, as pessoas relaxaram as medidas de distanciamento social após o avanço da vacinação. “Isso fez com que a ômicron expandisse e contaminasse uma quantidade tão grande de pessoas. Sabemos que ela é uma cepa cujo contágio é mais fácil e isso explica bem os números”, afirmou à Agência Fiocruz de Notícias.
“Vínhamos de um momento em que observamos queda nos casos: 15 dias antes do Ano Novo, estávamos com menos de 10% de percentual positivo”. De acordo com a pesquisadora, esse rápido aumento de casos pode ser sazonal, como uma “onda”. “Ainda assim, temos que observar”, ressalta.
Mais transmissão, mais mortes
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, se disse preocupado com uma “narrativa” difundida em muitos países que considera a ômicron como uma variante “mais leve”. Nesse sentido, com a variante falsamente “menos grave”, apesar de mais transmissível, conter o aumento de casos seria “impossível”, ou mesmo “desnecessário”. “Nada poderia estar mais longe da verdade”, declarou hoje. “Mais transmissão significa mais mortes”, acrescentou.
Tedros afirmou considerar que todos estão cansados da pandemia. Contudo, é “prematuro”, segundo ele, declarar vitória contra a covid-19 ou abandonar esforços para combater a doença. Destacou, sobretudo, que o aumento de mortes observado nas últimas semanas em diversas partes do mundo é “preocupante”.
Para o diretor da OMS, terminar com a pandemia não é questão de “sorte”, mas de “escolha”. “O mundo não aguenta mais e nós precisamos terminar essa pandemia. Temos meios de fazer isso”. Primordialmente, ele disse que é necessário atingir 70% da população imunizada até o meio do ano. Por isso, Tedros voltou a defender o combate à desigualdade no acesso às vacinas.
Mundialmente, 53% das pessoas já receberam ao menos duas doses. Mas existe uma brutal diferença nos índices registrados nos países mais desenvolvidos em comparação com regiões da África e do centro da Ásia, por exemplo.
Crédito: Alex Pazuello/SemCom
Fonte: Rede Brasil Atual
Escrito por: Tiago Pereira