Mesmo com a desaceleração da economia, que levará o Brasil a um crescimento bem abaixo do esperado este ano, o país é o que paga as maiores remunerações da América Latina. Segundo estudo da empresa global de recrutamento Michael Page, na comparação com Argentina, México e Chile, as empresas verde-amarelas registraram os salários mais elevados em 72% dos 29 cargos pesquisados. Participaram do levantamento seis mil executivos de empresas de médio e grande porte da região.
Áreas como infraestrutura, vendas e finanças chegam a pagar duas vezes mais por um profissional no Brasil do que as concorrentes latino-americanas. Um CFO brasileiro, por exemplo, pode ganhar até US$ 26 mil por mês, o dobro do executivo mexicano. O mesmo ocorre com o diretor de incorporações do mercado imobiliário. Em território nacional, o profissional ganha em torno de US$ 21 mil por mês, enquanto que a remuneração é de cerca de US$ 11 mil no Chile. Já um diretor geral no setor de varejo recebe US$ 25 mil mensais no Brasil, em média, ante US$ 12 mil do profissional argentino que ocupa um cargo semelhante.
“Há uma contradição entre o crescimento da economia e os salários no Brasil. Mas o cenário de escassez de talentos em áreas técnicas acaba impulsionando a remuneração de algumas profissões, com o objetivo de reter talentos e elevar a competitividade das empresas”, afirma João Nunes, diretor da Michael Page.
Segundo ele, o gargalo da formação profissional não é apenas um problema brasileiro, mas seus efeitos são mais “devastadores” aqui, em razão do volume expressivo de investimentos recebidos nos últimos anos.
Esse é o caso de áreas como construção civil e petróleo e gás, cuja formação de engenheiros no país é insuficiente para suprir a demanda das empresas por profissionais qualificados, elevando as remunerações. O segmento de tecnologia da informação passa por uma experiência semelhante. Um diretor de TI pode ganhar até US$ 20 mil por mês, mais que o dobro da remuneração de um profissional na Argentina (US$ 8,5 mil).
Na área financeira, porém, o motivo para a inflação da folha de pagamentos dos profissionais tem outra origem. “A crise elevou a busca por gestores mais competentes, focados em conquistar resultados maiores com orçamentos menores. Eles precisam ser capazes de compreender a complexa legislação fiscal brasileira”, diz Nunes.
A crise também tem sido o principal motivo para a alta dos salários dos executivos de vendas. “Em cenário de desaquecimento, garantir demanda por bens e serviços é uma tarefa bastante complicada e requisitada pelas companhias”, explica.
Em meio ao cenário de disputa pelos melhores talentos, o papel estratégico do gestor de recursos humanos também ganha relevância nas companhias. De acordo com o levantamento, um gerente de recrutamento e seleção ganha 17% mais no Brasil do que os seus pares da América Latina. Já um gerente de desenvolvimento organizacional pode ganhar até US$ 12 mil, o dobro dos seus colegas no México e na Argentina.
Entre os países pesquisados, o Brasil está no topo dos melhores pagadores, mas o Chile tem ganhado destaque no ranking. A estabilidade da economia chilena fez com que a remuneração média no país superasse a da Argentina e a do México em 2012. “O Chile tem atraído investimentos externos nos últimos anos por conta da maior solidez econômica. Além disso, a qualificação profissional é um forte alvo de desembolsos do governo.”
Fonte: Valor Econômico