Mesmo com corte na taxa básica de juros (Selic) pelo Copom, país tem juros reais alto; entidades criticam corte baixo dos juros, uma vez que a inflação está controlada
Na quarta-feira (31) o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC) cortou em 0,5% a taxa básica de juros, a taxa Selic, que passou para 11,25% ao ano. Apesar disso o Brasil continua na segunda colocação de maiores juros reais do mundo.
Os juros reais são a composição da taxa de juros nominal descontada a inflação prevista (12 meses). Segundo a consultoria MoneYou, os juros reais brasileiro estão em 5,95%, perdendo somente para o México, com 6,49%.
Este entendimento dá margem por pedidos para uma maior redução dos juros pelo Copom, que realizou um corte tímido, segundo muitos analistas.
Considerando os juros nominais (sem inflação), o Brasil está em quinto junto com o México: (1º) Argentina: 100%; (2º) Turquia: 45%; (3º) Rússia: 16%; (4º) Colômbia: 13%; (5 º) Brasil/ México: 11,25%.
Corte maior
Após a nova decisão que levou a taxa para 11,25%, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), por meio de seu presidente, Ricardo Alban, criticou a redução: “conservadora e injustificável”.
“É necessário e desejável maior agressividade do Copom para que ocorra uma redução mais significativa do custo financeiro suportado por empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e consumidores. Sem essa mudança urgente de postura, seguiremos penalizando não só a economia brasileira, mas, principalmente os brasileiros, com menos emprego e renda”, advertiu.
Centrais sindicais criticam pequeno corte na taxa Selic
“Quem ganha com esses juros altos são os banqueiros e os rentistas. Vale ressaltar que é mais fácil comprar papéis da Dívida Pública porque você tem uma rentabilidade muita acima da inflação do que investir em produção e gerar empregos. Esse patamar de juros não incentiva a economia, diminui o emprego e as mulheres são as que mais sofrem. Não há motivo, a inflação está estabilizada, nada justifica os juros altos.
É necessário voltar, não ter mais a autonomia no Banco Central. Porque o Campos Neto é oriundo executivo do banco Santander e quando a gente tem como presidente do Banco Central executivos do mercado financeiro eles vão beneficiar o mercado financeiro e rentistas. E não a população em geral, comerciantes e as mulheres”, afirma Eneida Koury, secretária de Finanças do Sindicato dos Bancários de Santos e Região e da coordenação da Intersindical Central da Classe Trabalhadora.
O presidente da CTB, Adilson Araújo, observa que, sob a aparência de neutralidade e independência, “os juros altos servem, na verdade, aos interesses dos grandes bancos e rentistas. O Brasil pratica hoje a segunda maior taxa de juros reais do mundo e isto não deve ser naturalizado, é um absurdo que só responde a uma razão: enriquecer ainda mais um restrito grupo de parasitas que nada produzem e vivem à base dos juros. A luta pela redução dos juros no Brasil é fundamental”, disse.
A vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira, observa que o atual patamar atrasa o avanço do país: “Não tem como a Selic prosseguir nesses níveis. Como vamos implementar um projeto de reindustrialização no Brasil, investir na Saúde, em obras do PAC, como o Estado irá conseguir somar dinheiro para tantas áreas fundamentais, com os juros acima dos 10%?”, aponta.
Em nota, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) “ressalta que já há espaço para o direcionamento da política monetária para um cenário menos restritivo, com cortes mais intensos”. E complementa: “O retorno da inflação à meta em 2023 e a desaceleração do índice prévio de janeiro têm provocado reduções nas expectativas inflacionárias, especialmente para o ano de 2024. Os cortes mais acentuados dos juros também se justificam pelos dados de curto prazo, que indicam um cenário de desaceleração da atividade econômica.”