Economistas do mercado financeiro estimam crescimento do PIB de 1,6% enquanto governo fala em 2,2%. Quando os bancos preveem inflação mais alta, isso acaba sendo usado como argumento para que a Selic permaneça alta. Hoje, ela está em 11,75% ao ano
Os economistas de bancos iniciaram o ano com previsões abaixo da média para a economia em 2024. Assim como em 2023, eles preveem um crescimento menor que o governo e uma inflação mais alta.
Ao longo do ano passado, as projeções dos bancos demonstraram-se erradas. Em 2024, segundo estudos de órgãos do governo, elas estarão novamente equivocadas.
As previsões desses economistas “de mercado” são coletadas semanalmente pelo Banco Central (BC) para a elaboração do Boletim Focus. O BC divulgou nesta segunda-feira (8) a primeira edição do ano do boletim.
Nele, está registrado que os bancos estimam que o PIB cresça 1,59% em 2024. Há uma semana, a previsão era ainda menor: 1,52%. Já a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda prevê um crescimento de 2,2%. A projeção foi divulgada em novembro.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mantido pelo governo federal, prevê crescimento de 2%. A previsão consta de carta de conjuntura divulgada em dezembro. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), por sua vez, estima 1,8%. Também no Focus está informada a previsão de inflação dos bancos para o final de 2024: 3,9%. A SPE, da Fazenda, estima 3,55%.
Para 2024, a meta de inflação para o Brasil é de 3%. Ela, contudo, tem margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. Na prática, portanto, a inflação deve ficar entre 1,5% e 4,5% para cumprir o fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Superando expectativas
A economia brasileira terminou 2023 bem melhor do que os economistas ligados ao mercado financeiro esperavam. O primeiro ano do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio da Lula da Silva (PT) foi de crescimento acima do previsto, inflação mais baixa e balança comercial mais favorável que o projetado.
Economistas de bancos e corretoras de investimentos estimavam no final de 2022 que a economia brasileira cresceria 0,8% em 2023. Os mesmos economistas de bancos estimam que ela cresceu 2,92%.
Eles também esperavam que a inflação ficasse em 5,31% ao final deste ano. O índice oficial ainda não foi divulgado, mas deve ficar abaixo dos 4,5%.
Miguel de Oliveira, economista e diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), afirmou que a maioria dos seus colegas desconfiava das políticas econômicas de Lula no início de 2023. Esse sentimento acabou refletido no pessimismo exagerado – algo que demonstrou-se infundado em 2023, mas que permanece em 2024.
Mauricio Weiss, economista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também já notou uma predisposição ideológica de bancos contra governos de esquerda, como o de Lula.
Pedro Faria, economista e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), alertou, ainda em junho de 2023, que bancos teriam que rever suas previsões pessimistas para o ano pois elas seriam negadas pelos dados, o que efetivamente aconteceu.
Expectativa conta
As previsões dos bancos são levadas em conta pelo BC para definir a taxa básica de juros (Selic), por exemplo. Se os bancos preveem inflação mais alta, isso acaba sendo usado como argumento para que a Selic permaneça alta. Hoje, ela está em 11,75% ao ano.
“O que temos visto é que o BC consulta quase na totalidade agentes do mercado financeiro. Eles têm errado sistematicamente para pior a leitura da economia brasileira. O BC usa como justificativa principal para manutenção da taxa de juros essas expectativas”, explicou Faria.