Para o BC, execução do pacote de Haddad “atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação”
Um aceno de trégua foi dado nesta manhã pelo Banco Central na divulgação da Ata do Copom, que detalhou as discussões do encontro realizado nos dias 31 de janeiro e 1° de fevereiro, quando o colegiado decidiu manter a taxa básica de juros em 13,75%. No parágrafo 16 da Ata, o BC comenta explicitamente que o pacote fiscal anunciado no mês passado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pode ter um efeito benigno para as expectativas de inflação.
“O Comitê manteve sua governança usual de incorporar as políticas já aprovadas em lei, mas reconhece que a execução de tal pacote atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação”, diz o trecho do comunicado.
Uma prova disso, segundo a ata, é que alguns membros da diretoria do BC notaram na reunião que as medianas das projeções de déficit primário do Questionário Pré-Copom (QPC) e da pesquisa Focus para o ano de 2023 são sensivelmente menores do que o previsto no orçamento federal, possivelmente incorporando os possíveis resultados do pacote.
No Boletim Focus da última segunda-feira (6), a projeção de déficit primário para este ano foi mantida em -1,10%. Há quatro semanas, a projeção estava em -1,20%.
A comunicação da Ata, portanto, veio um tom abaixo do comunicado pós-decisão do Copom, que deu ênfase no balanço de riscos à “elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporados nas expectativas de inflação e nos preços de ativos”.
O recado duro foi mal-recebido tanto pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como pela equipe de Haddad. Lula aumentou as críticas à política monetária. Havia um temor no mercado que as tentativas de diálogo entre os formuladores das políticas fiscal e monetária tinham voltado à estaca zero.
Provas disso foram constantes. Ontem, durante a posse de Aloizio Mercadante na presidência do BNDES, Lula disse não haver justificativa para uma taxa de juros tão alta e chamou de “vergonha” tanto o aumento de juros como a explicação que o BC tem dado à sociedade. Ele ainda reforçou o questionamento à autonomia do BC.
Haddad, por sua vez, foi um pouco mais comedido, mas afirmou também na segunda-feira (6) que o BC “poderia ter sido mais generoso” com o governo no comunicado do Copom, uma vez que a atual gestão herdou uma “situação fiscal delicada” do governo Jair Bolsonaro.