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31 de outubro: Dia do Saci ou Halloween?

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31 de outubro de 2023

Iniciativa quer valorizar tradições brasileiras no dia 31 de outubro

Ele tem uma perna só, usa um gorro vermelho e jamais se separa do seu cachimbo. Uma das lendas mais famosas do folclore brasileiro, o Saci Pererê é um personagem marcante da nossa história. Porém, ele nem sempre, digamos, teve essa característica que todos nós conhecemos.

Ao longo da história, o Saci teve diversas formas. Ele reúne influências europeias, indígenas e africanas. Entretanto, foi Monteiro Lobato, escritor do pré-modernismo brasileiro, quem deu a fama ao rapazinho. Tudo começou no fascículo infantil do jornal O Estado de S. Paulo.

Lobato enviou para os leitores perguntas gerais sobre o Saci e, com as respostas, elaborou, em 1917, o livro O Saci Pererê. A partir de então, o personagem do folclore aparece como traquino, travesso e dono de muitas aventuras.

“O Saci é o mito da impostura. Ele enfrenta os poderosos, o racismo colonial, a elite agrária conservadora que tentava o dominar. Ele enfrenta isto com astúcia, e não com força bruta, e com riso, com humor”, define Andriolli Costa, pesquisador sobre folclore.

Mas o folclore não é só imaginação. Tem muita coisa da realidade das nossas vidas e sociedade. E o Saci, muitas vezes, é representado de forma negativa, evidenciando o peso da escravidão nos relatos folclóricos brasileiros. Por causa disso, tem muita gente “atualizando” o Saci para o debate contemporâneo.

É o caso do filme Além da Lenda, da Viu Cine, em Pernambuco, com direção de Marília Maffé e Marcos França. Nele, o Saci surge com uma vibe positiva, descontraído e super amigo das outras lendas, sem perder as características originais.

“A gente tentou desconstruir essa associação de Saci, por ser um personagem negro, à malícia, para tirar esse estereótipo do negro malandro, traquino, que só faz travessuras. Aqui, a gente reconstrói ele, e apresenta um Saci amigão de todo mundo. Justamente por ser uma lenda muito conhecida no Brasil, a gente entendeu que ele era o líder das lendas brasileiras”, explica Erickson Marinho, roteirista do filme. “A gente tenta manter a essência. O nosso Saci continua de uma perna só, ele continua de gorrinho vermelho, ele continua sendo um personagem da natureza. Mas tudo aquilo que a gente acha que é inadequado e que não cabe mais na nossa sociedade, a gente realmente reconfigura”, complementa.

No filme, o Saci é uma espécie de guardião de um livro sagrado das lendas brasileiras. E nessa trama ele vive outro dilema: proteger a tradição brasileira da influência estrangeira, representada no filme pelos ícones do Halloween. Para Erickson Marinho, há um desequilíbrio no consumo dos dois tipos de cultura.

“A gente tem aí dez anos de filmes da Marvel incessantemente sendo lançados no cinema. Então, uma criança hoje que tem entre dez e onze anos, ela cresceu dentro desse universo. Então é isso que ela conhece. Muito forte. Todas as culturas são bem-vindas, inclusive é o que a gente defende no nosso filme, no nosso projeto. Mas que a gente tem que equilibrar um pouquinho mais para não ficar olhando só para o que vem de fora”, pontua o roteirista.

Há vários projetos de lei que tentam oficializar a criação do Dia do Saci. Mas a data não é consenso. Muita gente acha que é uma forma de criar uma confusão onde não existe. Acontece que os pesquisadores e adoradores do Saci reforçam que a ideia é exatamente confrontar a onda imperialista “de doces e travessuras” do Halloween que tem afogado as tradições brasileiras.

“A gente vai tirar sarro do Halloween mesmo. A gente vai fazer, pegar a cultura estadunidense e remexer ela ali, e incomodar. Esse é o maior motivo do dia do Saci ser no dia 31: incomodar. E se a gente não incomoda, se a gente não gera essa inquietação, que é uma inquietação que vem numa defesa de uma cultura que não é nossa, a gente não movimenta esse debate”, afirma o pesquisador Anderson Awas.

“E o Saci nos fala: ‘olha, em frente a um inimigo tão gigantesco, não adianta bater de frente. A gente tem que usar a cabeça, tem que usar a ginga e tem que usar o riso'”, afirma Andriolli Costa.

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