A arte brasileira pode ser visionária e futurista; relembre essa música de Chico Science e Nação Zumbi que previu o futuro
Muito antes da inteligência artificial se tornar um tema central nas discussões tecnológicas e sociais do século XXI, a música brasileira já fazia reflexões ousadas sobre o futuro. Um exemplo notável é “Computadores Fazem Arte”, lançada por Chico Science & Nação Zumbi no álbum Da Lama ao Caos (1994).
O contexto de Da Lama ao Caos
O disco Da Lama ao Caos foi um marco da música brasileira e o ponto de partida do movimento Manguebeat, que misturava ritmos regionais do Nordeste, como maracatu e coco, com influências globais — do hip hop ao rock alternativo e à música eletrônica. A proposta era criar uma nova linguagem musical e cultural que unisse o arcaico e o moderno, o local e o global.
Dois anos depois, em 1996, o grupo lançaria Afrociberdelia, aprofundando ainda mais essa fusão entre o ancestral e o digital — uma espécie de evolução estética e ideológica do Manguebeat. Mas já em Da Lama ao Caos, a visão futurista estava presente, especialmente na faixa “Computadores Fazem Arte”.

A letra da música é bastante direta, quase como um mantra:
“Computadores fazem arte
Artistas fazem dinheiro
Computadores fazem arte
Computadores fazem arte…”
O uso repetido da frase soa como um aviso, uma constatação e, ao mesmo tempo, uma provocação. Em 1996, essa ideia parecia futurista e até abstrata. Hoje, com IAs criando imagens, textos, músicas e vídeos, essa previsão soa surpreendentemente precisa.
A arte feita por máquinas
A música levanta uma questão fundamental: a máquina pode ser criativa? Em pleno 2025, a resposta é: sim, mas com nuances. Softwares de IA como o ChatGPT, DALL·E, Midjourney e Sora conseguem gerar conteúdos artísticos complexos, mas ainda se baseiam em dados humanos. Mesmo assim, os limites entre arte feita por pessoas e por máquinas estão cada vez mais difusos — exatamente o que a música antecipa.
“Computadores Fazem Arte” não é apenas uma música experimental. É um manifesto cultural que une o cangaço digital e a estética da periferia com uma visão futurista da criatividade. Chico Science, que vocaliza, e Fred Zero Quatro, compositor da faixa, souberam captar os sinais do tempo e projetar reflexões que só agora estamos começando a compreender plenamente.