Com aumento dos juros para 12,25%, Brasil ultrapassa a Rússia (em guerra) e fica novamente na 2ª posição entre os maiores juros reais do mundo, atrás apenas da Turquia
O lamentável aumento da taxa básica de juros (Selic) pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), na quarta-feira (11), foi recebido de forma negativa em diferentes setores da sociedade e da economia. Entidades sindicais e empresariais não enxergam justificativa para o aumento de 1 ponto percentual que elevou a taxa para 12,25%, o que devolve o país para a segunda posição entre os maiores juros reais do mundo.
O aumento foi tão fora de tom que surpreendeu até mesmo o mercado financeiro, que pressionava para a elevação, porém acreditava em uma alta mais contida.
Movimento sindical
O movimento sindical, que liderou as manifestações pelo início do ciclo de queda dos juros em 2023 e se manteve crítico às decisões do BC, enxerga este aumento com incredulidade e argumenta que a alta joga diretamente contra os interesses do país.
A Intersindical Central da Classe Trabalhadora, CUT, CTB, Força Sindical e outras são unânimes de que o aumento da taxa Selic para 12,25% está a serviço do capital financeiro-especulativo e contra as políticas públicas de desenvolvimento, de valorização do trabalho, emprego e de distribuição de renda.
Para o movimento sindical bancário a elevação da Selic aumenta o custo de vida para as famílias, para as empresas e para o Estado brasileiro e estagna o crescimento econômico do país por pressões do mercado financeiro.
“O aumento da taxa Selic de juros diminui o poder de compra a prazo, aumenta a taxa de financiamentos da casa própria, do carro, aumenta o preço dos alimentos, diminui o consumo, os investimentos na economia e, consequentemente, reduz empregos”, avalia Élcio Quinta, presidente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região.
Entidades empresariais
Diversas entidades empresariais também repudiaram o aumento dos juros. A Confederação Nacional de Indústria (CNI) publicou nota em que coloca: “alta da Selic é incompreensível e totalmente injustificada”.
Para a Confederação, manter o ciclo de alta da Selic “não faz sentido no atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote efetivo de corte de gastos apresentado pelo governo federal.” Neste aspecto, em outra parte da nota, a CNI lembra que o pacote apresentado é positivo e que a “reação adversa é provocada por temor injustificado de que a reforma da tributação da renda não será fiscalmente neutra”.
Os industriais ainda destacam que existe “a tendência de redução de juros nas principais economias globais, como os Estados Unidos, que partem para o terceiro corte seguido nos juros na próxima semana.”
Segundo a entidade, este cenário de elevação dos juros tem minado a confiança dos empresários, situação vista nas recorrentes quedas do Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), medido por eles. Nesse sentido, o BC está sendo diretamente responsável por reverter o otimismo dos empresários com o país para uma “situação de pessimismo.”
Na mesma linha, a FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) manifesta preocupação e ressalta “que juros excessivamente altos podem gerar mais danos à economia do que oferecer soluções eficazes”. Para a entidade o acréscimo da Selic “tende a restringir investimentos, prejudicar a competitividade da indústria e aprofundar os efeitos negativos sobre o crescimento econômico, o emprego e a renda.”
Já a Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro) reconheceu que o aumento é “excessivo e agrava ainda mais o quadro de baixa competitividade”, mas preferiu ponderar que a situação “reflete, em grande parte, o cenário atual de desconfiança com relação à trajetória da dívida pública.”
2º maior juro real do mundo
O aumento da Selic fez o Brasil retomar o ingrato posto de nação com o segundo maior juros reais do mundo (taxa de juros descontada da inflação). O país ultrapassou a Rússia, com o adendo de que estão em guerra, e fica atrás apenas da Turquia, segundo levantamento da consultoria MoneYou. Veja os cinco maiores juros reais:
- Turquia – 13,33%;
- Brasil – 9,48%;
- Rússia – 8,29%;
- Colômbia – 6,46%;
- México – 5,75%.
Quando se considera apenas os juros nominais (sem descontar a inflação), o Brasil está em quarto:
- Turquia -50%;
- Argentina – 32%;
- Rússia – 21%;
- Brasil – 12,25%;
- México – 10,25%.
A próxima reunião do Copom, já sob a presidência de Gabriel Galípolo, acontece nos dias 28 e 29 de janeiro. No comunicado do Comitê não é descartado novo aumento dos juros no mesmo patamar (1%) sob a justificativa de convergência da inflação à meta.