Danos irreparáveis à economia: Selic em 11,25% mantém Brasil entre os maiores pagadores de taxa básica real do mundo, enquanto país bate recorde de empresas com pedido de recuperação judicial
Com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, quarta-feira (6) de aumentar a já elevadíssima taxa básica de juros do país (Selic) de 10,75% para 11,25% ao ano a entidade volta a reafirmar que são os rentistas da dívida pública que determinam o índice e não a população.
O aumento de 0,5 ponto percentual (p.p.) mantém Brasil entre os maiores pagadores da taxa básica real de juros do mundo (resultado da Selic menos a inflação): na ordem 6,5% com base na inflação acumulada nos últimos 12 meses.
“O aumento da taxa Selic trava a economia, aumenta o custo de vida e aumenta as dívidas das empresas e consequentemente reduz postos de trabalho. Os únicos que ganham são os especuladores do dinheiro público, como por exemplo bancos e instituições financeiras de empréstimos”, avalia Elcio Quinta, presidente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região.
Em 2023, o país pagou mais de R$ 732 bilhões em juros dos títulos que, em sua maioria, estão nas mãos dos grandes especuladores do mercado financeiro.
Segundo cálculos do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a elevação de 0,5 p.p na Selic aumentará em R$ 26 bilhões os gastos da União com os juros dos títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional.
Recorde de empresas em recuperação judicial
Um balanço feito pela Serasa Experian e divulgado nesta semana revelou que o Brasil bateu recorde nos pedidos de empresas para recuperação judicial neste ano: 1,7 mil até setembro, maior número em 19 anos e 73% a mais em relação ao mesmo período de 2023.
Quando perguntados sobre o principal motivo para fecharem as portas, os empresários apontaram os juros altos, seguido por inadimplência dos consumidores, que não conseguem pagar os financiamentos das compras, com os juros nas alturas.
Sobre o principal argumento utilizado pelo Copom, de usar a Selic como única ferramenta para inibir o consumo e, com isso, controlar a inflação para que atinja o centro da meta, o economista do Dieese Gustavo Cavarzan avalia que a entidade não deveria considerar apenas as avaliações do mercado.
“Existe um vício do Copom em justificar as decisões com base nas orientações do mercado, que exagera em suas expectativas pessimistas em relação à inflação no país, na medida em que se beneficia da alta dos juros. Com isso, entramos num ciclo vicioso onde as movimentações dos juros perdem relação com as causas reais da inflação e passam a ser determinada unicamente pela vontade do mercado”, pontua, acrescentado que existem outras ferramentas para o controle da inflação, além da Selic, a exemplo da recomposição dos estoques reguladores de alimentos para amenizar variações sazonais de preços.