A manutenção dos juros hoje com o fim do ciclo de cortes vem em meio a conflitos entre o presidente do BC, Roberto Campos Neto, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que considera que Campos Neto atua contra o interesse do país
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve a taxa de juros (Selic) nesta quarta-feira (19) em 10,5% ao ano. Para essa decisão, tomada por unanimidade, o banco sustentou que “em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”.
Nas últimas sete reuniões, a autoridade monetária reduziu a Taxa Selic, com seis cortes de 0,5 ponto e um corte de 0,25 ponto, na última reunião, em maio. Mas não informou o que faria nos encontros seguintes, quando se aguçaram as divergências com o governo federal. O mercado financeiro já mantinha expectativa pela manutenção da taxa anunciada nesta quarta-feira.
A manutenção dos juros hoje vem em meio a conflitos de Campos Neto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem, Lula criticou o presidente do BC por conta de suas declarações político-partidárias. Campos Neto participou de um jantar oferecido pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e no encontro manifestou o desejo de ser ministro da Fazenda em um eventual governo de Tarcísio em 2026.
Além disso, chegou também para o presidente Lula a informação de que em conversas com representantes do mercado financeiro, Campos Neto estaria dando declarações contra a saúde financeira do país e favorecendo instituições financeiras.
O peso de cada ponto percentual
É fato que cada ponto percentual a menos na taxa Selic representa R$ 41,4 bilhões de redução na dívida bruta do país. Esse montante corresponde a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) e poderia ser um recurso fundamental para investimento em programas sociais no país, em vez de ir para os bancos por conta do pagamento do serviço da dívida.
“Nós só temos uma coisa desajustada no Brasil neste instante: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, declarou Lula em entrevista à Rádio CBN.
Repercussão
“Lamentável decisão do Copom de interromper trajetória de queda da Selic e manter a taxa básica de juros em 10,5%. Mais lamentável ainda ter sido por unanimidade”, afirmou no X (antigo Twitter) o deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ). “É uma vergonha essa decisão. Esse Roberto Campos Neto não tem independência alguma, é um político bolsonarista (…). Interromperam o ciclo de redução da taxa de juros, e não há justificativa técnica para isso”.
O deputado lembrou que no ano passado, a inflação fechou em 4,62%, e em abril de 2022 acumulava um resultado anual de 12%. “A inflação despencou, e agora está em 3,92%”, destacou ainda. “Qual é a justificativa técnica? Não existe”, disse Farias, ao lamentar que diretores do BC indicados pelo próprio governo possam ter se acanhado com a pressão do mercado.