Resultado frustrou as expectativas do mercado, que apontavam para uma cifra de R$ 4,794 bilhões
Na manhã de quarta-feira (7/2), o Bradesco surpreendeu o mercado ao divulgar o balanço do quarto trimestre de 2023. Nesse período, o lucro líquido recorrente saltou 80,4% ante o mesmo período do ano passado, atingindo a ordem de R$ 2,878 bilhões. Apesar disso, o resultado frustrou as expectativas do mercado, que apontavam para uma cifra de R$ 4,794 bilhões.
Como reação, o Bradesco começou o dia em queda expressiva. Por volta de 10h50, o papel liderava as baixas do Ibovespa, com perdas de 7,05%, mas chegou a despencar mais de 8% ainda na abertura.
Como resposta, o Bradesco apresentou um plano estratégico para os próximos cinco anos com objetivo de retomar a rentabilidade e tornar a sua estrutura de decisões mais ágil.
O novo CEO do banco, Marcelo Noronha, que assumiu em novembro, afirmou que este será um ano de transição, e a expectativa é que os primeiros resultados comecem a ser percebidos em 2025.
Mas, afinal, qual a dimensão do resultado abaixo do previsto apresentado pelo banco?
Três economistas opinaram.
André Roncaglia
(Professor de economia da Unifesp e doutor em economia do desenvolvimento pela FEA-USP, professor do ICL)
“Trocaram o presidente, estão reduzindo custo administrativo (fechando agências basicamente) pra aumentar digitalização e tentando baixar a inadimplência (o que já está ocorrendo). O mercado esperava que os resultados fossem mais rápidos e se frustrou com os números após a especulação das últimas semanas.
Uma coisa que talvez importe aqui seja a exposição do Bradesco à Americanas em 3,5 bi.
O Banco cortou também a cadeia de comando para ficar mais ágil. Fará nova política de remuneração de executivos mais alinhada ao mercado, atrelada a desempenho, também para dar mais agilidade. Continua com foco no varejo, mas será mais estratégico em segmentos dentro dessa área. É um banco em recuperação, emprestou demais, teve o caso Americanas, tem muita PDD (Provisão para Devedores Duvidosos) e agora está se recuperando, mas leva tempo”.
Deborah Magagna
(Economista e historiadora, especialista em Investimentos e Mercado de Capitais, professora do ICL)
“O mercado aguardava o balanço do banco com ansiedade, especialmente após a divulgação de outro agente do setor, o Itaú, ter surpreendido as expectativas no dia anterior. O lucro da instituição foi mais fraco no quarto trimestre e ficou abaixo das estimativas de analistas do mercado, impactado por elevação de provisões e despesas operacionais. No último trimestre, o lucro líquido recorrente do banco foi de R$ 2,878 bilhões, frente a uma projeção de R$ 4,63 bilhões. Entre as métricas que chamaram a atenção no resultado ficaram o retorno sobre o patrimônio líquido (RoE) de apenas 6,9% e os números de inadimplência de 5,1%. No dia 07, em decorrência da quebra de expectativas que levaram as ações preferenciais (BBDC4) a subirem 6,21% no dia anterior, as ações recuaram 15,90% e seguiram em trajetória de queda com recuo adicional de 2,87% no dia seguinte (8).
Não somente a divulgação aquém do esperado pelo mercado pesou no desempenho das ações do banco nos últimos dois dias, as projeções apontadas nas orientações para o futuro (guidance) também decepcionaram. O lucro esperado para 2024 ficou em R$ 17 bilhões, abaixo das projeções de R$ 22,5 bilhões, indicando um processo de recuperação, mas em ritmo mais lento e ainda com um nível elevado de despesas com provisões. O banco também apresentou planos de reestruturação e investimentos em tecnologia, que devem render frutos no médio e longo prazo, deixando o mercado, com seu imediatismo por lucro no curto prazo, frustrado mais uma vez”.
Tony Volpon
(Economista, ex-diretor do Banco Central e atual professor da Georgetown University)
“Acho que é mais um sinal do passado. O Bradesco empresta muito para pequenas e média empresas. Quando a Selic foi para 2%, aceleraram, acreditaram quando o Banco Central disse que o juros iam ficar baixos por muito tempo. Aí, quando o BC quebrou a promessa, tiveram essa surpresa… Hoje é ainda a ressaca.
A lição para o mercado é: sejam céticos.
Como sequela, o sistema fica mais conservador, já que empresas também foram induzidas a se alavancar em excesso”.