Para trabalhadores, governador Tarcísio de Freitas “mente” quando diz que a privatização vai melhorar os serviços ou baratear as tarifas
A partir da 0h desta terça-feira (3), trabalhadores do Metrô, da CPTM e da Sabesp realizam uma greve de 24 horas em São Paulo. Em assembleia unificada segunda (2), os trabalhadores referendaram a paralisação contra as privatizações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Nas últimas semanas, os quatro sindicatos já haviam consultado suas bases, que decidiram pelo movimento grevista.
“Estamos convencidos de que apenas as nossas categorias isoladas não bastam para enfrentar esse projeto. É por isso que a gente apostou na unidade”, afirmou a presidenta do Sindicato dos Metroviários, Camila Lisboa. Ela classificou a greve unitária como “histórica”, e disse que governador mente quando propaga supostos benefícios da privatização.
Nesse sentido, os trabalhadores do movimento grevista unificado reivindicam o cancelamento de todos os processos de privatização e terceirização do Metrô, da CPTM e da Sabesp. Além disso, exigem a realização de um plebiscito oficial para consultar a população do estado sobre a privatização dessas três empresas.
Governo da Mentira
“O governador Tarcísio governa na base da mentira. E a nossa luta contra as privatizações é para a gente desmontar as mentiras que o governador tem propagado. Porque não é verdade que a privatização dessas empresas vai garantir mais eficiência. Olhem para as linhas 8 e 9 da antiga CPTM. Ao longo deste ano, foram oito descarrilamentos na linha Diamante e um na Esmeralda. Trem andando com a porta aberta, velocidade reduzida”, denunciou.
Para ela, Tarcísio também mente quando diz que o governo vai economizar com as privatizações. Isso porque, segundo ela, as linhas privatizadas do Metrô recebem repasses milionários do governo para garantir as operações. Além disso, ela destaca que os trens e o metrô do Rio de Janeiro, privatizados há mais de 20 anos, ostentam as tarifas mais caras do país – R$ 7,40 e R$ 6,90, respectivamente. “As privatizações não vão garantir nem mais eficiência e nem economia para o estado.”
Desmonte
No mesmo sentido, Valmir de Lemos, o Índio, presidente do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil, que representa os trabalhadores das linhas 11, 12 e 13 da CPTM, em São Paulo, e a Supervia, no Rio de Janeiro, destacou que as ferrovias fluminenses transportavam cerca de 1,1 milhão de pessoas diariamente, com 4 mil funcionários operando o sistema. Sem investimentos, os serviços foram paulatinamente sucateados e atualmente a Supervia tem apenas 1.600 trabalhadores, que transportam cerca de 300 mil passageiros.
Eluiz Alves de Matos, presidente do Sindicato dos Ferroviários de São Paulo, que representa as linhas 7 e 10 da CPTM, também ressaltou a piora dos serviços nas linhas privatizadas. “É descarrilamento, trem fantasma, falta de manutenção. As falhas quadruplicaram. Houve até morte de trabalhador eletrocutado.”
Ele também destacou que, nas linhas ferroviárias operadas pela Via Mobilidade – que os trabalhadores chamam de “Via Calamidade” –, a empresa terceirizada que operava a bilheteria faliu recentemente. Cerca de 170 trabalhadores da CPTM foram deslocados para operar a venda de bilhetes, sobrecarregando as funções dos demais.
Água: direito humano
Para o presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo (Sintaema), José Antonio Faggian, não se trata de uma greve corporativa para defender os interesses das categorias envolvidas. Desta vez, o objetivo da paralisação é garantir os direitos da população paulista. A paralisação não deve afetar o abastecimento da população.
“A gente sabe que quem usa e precisa desses serviços são os filhos da classe trabalhadora”, afirmou. “Quando a gente fala de água e saneamento, estamos falando de um direito humano garantido pela ONU. Mais do que isso, a gente está falando da saúde da população. Um serviço dessa natureza, quando coloca o lucro em primeiro plano, é um risco muito grande. A experiência mundial demonstra que onde o serviço de saneamento é privatizado, a tarifa aumenta e a qualidade do serviço piora, trazendo prejuízos para a população.”
Ponto facultativo
Assim, a paralisação de 24 horas vai atingir três linhas do Metrô – 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha. Do mesmo modo, os trabalhadores também devem interromper o funcionamento de seis linhas na CPTM: 7-Rubi, 10-Turquesa, 11-Coral, 12-Safira, 13-Jade e 15-Prata. Apenas as linhas 4-Amarela e 5-Lilás, do Metrô, assim como as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, da CPTM, devem operar normalmente.
Para tentar conter os efeitos da greve, tanto o governo de São Paulo como a prefeitura da capital decretaram ponto facultativo para os servidores.
Desta maneira, no âmbito dos serviços estaduais, as aulas desta terça nas escolas estaduais serão remarcadas. Além disso, o governo também vai reagendar os exames que estavam agendados nos postos de Saúde, bem como as consultas marcadas nos Ambulatórios Médicos de Especialidades (AMEs). Os serviços de segurança pública estadual, assim como os restaurantes e postos móveis do Bom Prato, não serão afetados.
Já a prefeitura suspendeu o rodízio de veículos na capital. No entanto, será mantido o funcionamento de escolas e creches, unidades de saúde, serviços de segurança urbana, de assistência social, do serviço funerário, e demais serviços essenciais.