Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Santander estão em negociações finais para, finalmente, tirar do papel o plano de criação de uma empresa que irá interligar e operar as máquinas de autoatendimento (ATMs) das quatro instituições, segundo apurou o Valor. Por enquanto, serão compartilhadas aquelas localizadas fora das agências, num total de 13 mil máquinas.
Por trás da decisão estão divergências antigas entre esse bloco de bancos e a TecBan, que administra a rede de caixas Banco24Horas e tem o Itaú Unibanco como principal acionista.
O principal problema estaria na desproporcionalidade entre a participação acionária de cada um desses bancos na TecBan e o volume de transações produzido por eles. Os bancos acreditam que suas fatias acionárias são pequenas perto da receita que geram para a empresa.
Não deve haver, a princípio, alienação das fatias acionárias que os três bancos possuem no capital da TecBan – amealhadas ao longo de décadas de aquisições de outras instituições financeiras. Seus caixas também não devem sair da rede Banco24Horas inicialmente. A TecBan se recusou a fornecer a composição acionária atualizada da empresa e a falar com a reportagem.
O Valor apurou que Bradesco detém 17% do negócio, o BB tem 14% e Santander, que vendeu a parcela que tinha para a matriz espanhola em 2009, 22%. Procurados, os bancos também não atenderam à reportagem.
A criação de uma empresa para gerir os terminais dos três bancos – mais os da Caixa, que não tem participação na TecBan – surge, nesse sentido, como a solução mais “apropriada”, segundo uma fonte envolvida na negociação.
O movimento é semelhante ao que ocorreu no mercado de credenciamento de lojas e captura de transações com cartões, em que BB, Bradesco e Santander se uniram para montar a Visanet (agora Cielo) e o Itaú, de seu lado, ficou com a Redecard. O Santander deixou posteriormente o capital da antiga Visanet para seguir voo solo no setor de adquirência em parceria com a processadora GetNet.
“A ideia é ir além de um acordo operacional de compartilhamento de caixas para transformar a parceria estratégica em ‘business'”, conta um executivo envolvido nas tratativas.
Os bancos que se tornarão sócios da empresa de gestão de ATMs vão economizar com aluguel de espaço para a instalação de caixas eletrônicos em aeroportos e shopping centers, entre outros estabelecimentos comerciais, com a manutenção das máquinas, transporte de valores e suprimento de numerário.
Mas eles também pretendem obter receita com o “aluguel” desses terminais para outras instituições financeiras – a exemplo de bancos estrangeiros que podem querer utilizar o sistema para atender clientes que venham em massa para o Brasil participar da Copa do Mundo e da Olimpíada.
De acordo com o último balanço da TecBan, relativo ao exercício de 2010, a receita líquida da empresa foi de R$ 490,2 milhões. O lucro líquido, de R$ 8,45 milhões, superou em 170,5% o resultado de 2009 (de R$ 3,1 milhões).
O projeto da nova operadora de caixas eletrônicos que irá concorrer com a TecBan está em estágio avançado, segundo a mesma fonte a par das negociações, e depende agora de aprovações internas. É provável que as participações de BB e Bradesco na companhia sejam feitas por meio da holding Elo. A expectativa é que a nova empresa saia do papel ainda neste primeiro semestre.
O projeto piloto de compartilhamento de caixas eletrônicos teve início em novembro de 2010 (sem a participação da Caixa) e desde aquele ano já era cogitada a formação de uma “joint-venture” como alternativa para gerir os terminais.
Mesmo com todas as divergências, a condução dos testes com 170 caixas eletrônicos do BB, 360 do Bradesco e outros 170 do Santander, que começaram em novembro de 2010, foi entregue à TecBan porque a empresa já contava com uma solução rápida para colocar o projeto de compartilhamento de pé. “O piloto serviu para provar que o compartilhamento era operacionalmente viável”, explica a mesma fonte.
A expectativa era de que os testes durassem seis meses. Mas o tempo foi estendido por conta de ajustes que precisaram ser feitos no sistema dos terminais. Em 14 meses, o número de operações compartilhadas chegou a 3,5 milhões nos 700 ATMs – fora as transações feitas por clientes nos caixas dos próprios bancos nos quais têm conta corrente.
Segundo Gustavo Roxo, consultor da Booz Allen Hamilton, um terminal, para ser considerado eficiente, deve apresentar de 3 mil a 5 mil transações mensais.
Fonte: Valor Econômico