Mídia internacional repercute a passagem de veículos militares por Brasília e a tentativa de intimidação do Parlamento. “A frágil democracia brasileira está se desmantelando”. “Ridículo. Grotesco. Lamentável. Desnecessário. Coisa de republiqueta de bananas”
A “tanqueata” promovida pelo presidente Jair Bolsonaro na manhã de terça-feira (10), em frente ao Palácio do Planalto, chamou a atenção e provocou chacotas e charges de veículos de mídia de boa parte do mundo. Por exemplo, o The Guardian, um dos maiores periódicos ingleses, resumiu: “República de bananas”, referindo-se à tentativa do mandatário de intimidar o Congresso Nacional, no dia em que a Câmara dos Deputados votou (e derrubou) a PEC do voto impresso.
“Críticos denunciam Jair Bolsonaro por governar em um estilo de ‘república de bananas’ com sua decisão de mandar veículos de combate para as ruas da capital brasileira, em uma parada militar fora do comum. A atitude foi vista largamente como uma atitude beligerante do presidente de apoiar seu projeto (do voto impresso) a partir da força”, destaca o jornal inglês. Na sequência, o Guardian cita comentário do jornalista Brunno Melo no Twitter: “Ridículo. Grotesco. Lamentável. Desnecessário. Coisa de republiqueta de bananas”.
O jornal prossegue ao afirmar que o desfile foi “precipitadamente arranjado” e que não existem precedentes de movimentações do tipo desde o fim da ditadura civil-militar, em 1985. “A parada militar também vem acompanhada de uma sucessão de pronunciamentos incendiários e anti-democráticos do líder brasileiro. Um capitão aposentado do Exército com visão autoritária que afirma que não haverá eleições caso suas propostas não sejam aprovadas”, completa.
Democracia frágil
Um dos jornais mais lidos do mundo, o The New York Times não produziu reportagens ou editoriais, mas divulgou uma charge que mostra Bolsonaro em cima de um tanque com a palavra “ditadura” ao lado. Destaque também para o canhão do tanque, que vem em formato de uma urna para voto impresso.
O desfile militar fez parte da chamada operação Formosa, que é realizada todo ano no interior de Goiás. Para isso, parte do comboio se desloca do Rio de Janeiro até o local das simulações. Entretanto, a passagem pelas ruas de Brasília não faz parte do roteiro.
Bolsonaro defende o voto impresso e acusa, sem provas, o sistema eleitoral brasileiro de ser fraudulento. Mesmo diante da completa ausência de argumentos, o presidente ameaça a democracia brasileira com a não realização de eleições, se não for da forma como ele quer. Todo este imbróglio, aliado com a “passeata” de tanques de ontem.
Em queda e acuado
Outra crítica a mais uma ameaça às instituições por Bolsonaro veio do jornalista norte-americano Ben Norton, do veículo investigativo Brazil Wire. Ele ressaltou que “a parada militar coloca sombras sobre as esperanças de eleições em 2022”. Ben avalia que os riscos de golpe pelo presidente são reais, e que os Estados Unidos apoiam historicamente ações do tipo na América Latina. “Precisamos ter conhecimento sobre a realidade do governo brasileiro. Trata-se de um regime autoritário e militar apoiado pela extrema-direita norte-americana. Agora, Bolsonaro e os militares forçam mudanças no sistema eleitoral. A frágil democracia brasileira está se desmantelando”, completou.
Já a agência internacional de notícias Reuters destacou que Bolsonaro “tem sua popularidade em queda pela gestão da pandemia de covid-19, sendo o segundo país com mais mortes. Diante deste cenário desfavorável, o presidente “tem ameaçado não aceitar o resultado das eleições no ano que vem. As pesquisas apontam para sua derrota diante do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva”.
Outra agência internacional, a AP News, destacou a memória evocada da ditadura. “O anúncio da parada militar aconteceu na segunda-feira (9) e os críticos perceberam como uma tentativa de intimidar oponentes do presidente que, frequentemente, elogia a ditadura militar do passado brasileiro.”
Crédito: Rede Brasil Atual
Fonte: Rede Brasil Atual