A pílula anticoncepcional completou 50 anos e, ao longo destas cinco décadas, deixou de ser uma dor de cabeça. Hoje, evitar a gravidez já não é o principal trunfo dessa cinquentona revolucionária. Ela, hoje, é indicada até para amenizar os sintomas da TPM, além de diminuir o fluxo menstrual e cólicas. Além disso, melhora o cabelo e a pele, e diminui o risco de osteoporose. Hoje, um anticoncepcional tem dose hormonal dez vezes menor do que há 50 anos. Essa redução drástica diminuiu o risco de efeitos colaterais e garantiu o posto de um dos medicamentos mais vendidos no País.
“Há 50 anos, não se sabia qual era a dose necessária de hormônios para se bloquear a ovulação e, por isso, a dose era maior do que a necessária. E esse excesso provocava uma série de efeitos colaterais como náuseas, dores de cabeça, trombose e outros problemas”, lembra o ginecologista Rogério Bonassi, presidente da comissão de contracepção da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
Bonassi lembra que, na época, muitas mulheres duvidavam da eficácia do anticoncepcional. Aos 75 anos, a dona de casa Cemolina Moraes lembra que demorou a usar a pílula porque não acreditava que o comprimido pudesse evitar a gravidez. “Só comecei a usar depois que tive meu sexto filho e uma vizinha garantiu que funcionava”, lembra. Neusa Moreira, 71, usou o anticoncepcional e só teve dois filhos.
Só com prescrição médica
Gerente do Programa de Saúde da Mulher do Rio, Chrystina Barros afirma que devido às diversas combinações e dosagens, deve-se usar a pílula prescrita pelo médico. “O anticoncepcional indicado para uma mulher não é o melhor para a vizinha. Uma adolescente precisa de pílulas para regularizar o fluxo e uma mulher que amamenta precisa de outra que não deixa passar hormônio para o bebê, por exemplo.”
Hoje, 72% das mulheres afirmam ouvir mais comentários positivos do que negativos em relação aos anticoncepcionais, diz pesquisa Ibope e da Febrasgo. O trabalho indica que a pílula pode melhorar a autoestima e até o sexo. “A certeza da não gravidez aumenta a libido. Algumas pílulas mantêm a testosterona equilibrada, o que é bom para o sexo”, diz Gerson Lopes, presidente da Comissão de Sexologia da Febrasgo.
Do medo do câncer à prevenção do mal
O medo de que o produto novo, que prometia impedir a gravidez, provocasse câncer fez com que muitas mulheres evitassem e adiassem o uso do anticoncepcional. Hoje, sabe-se que o uso contínuo do remédio reduz a incidência de câncer de ovário e endométrio, segundo o Instituto Nacional de Câncer.
“Toda vez que a mulher ovula, ela tem uma pequena ruptura no ovário e isso, após muitos anos, pode aumentar o risco de câncer. O anticoncepcional impede a ovulação e reduz o risco”, afirma Luiz Mathias, chefe do serviço de ginecologia do Inca II.
Segundo o médico, estudos indicam que o índice de câncer de ovário entre freiras é maior do que na população geral porque elas não têm filhos nem usam anticoncepcionais.
Fonte: t