O que está por trás desse modelo é a invasão da privacidade do empregado, a transferência de custos operacionais para o trabalhador, aumento de sobrecarga de trabalho e a drástica perda de direitos. Sem falar que o ambiente familiar vira um inferno com cobranças de metas
Seguindo à risca a reforma trabalhista, a Caixa anunciou a adoção do modelo de trabalho remoto. A possibilidade de trabalhar em casa ou em outro município e país pode ser atraente no início. No entanto, o que está por trás desse modelo é a invasão da privacidade do empregado, a transferência de custos operacionais para o trabalhador, aumento de sobrecarga de trabalho e a drástica perda de direitos.
O novo modelo de trabalho foi anunciado pelo vice-presidente de Gestão de Pessoas da Caixa (Vipes), Roney Granemann durante o evento Nação Caixa. A princípio, cerca de 100 empregados serão incorporados ao trabalho remoto, que será implantado em unidades das vice-presidências de Habitação (VIHAB), Governo (VIGOV), Tecnologia (VITEC), Logística e Operações (VILOP), Gestão de Pessoas e na Diretoria Jurídica.
A proposta da Caixa é clara: ampliar a adesão de empregados para reduzir custos. De acordo com o banco, foram mapeados 28 mil empregados que podem trabalhar remotamente. Caso 20% desses empregados façam a adesão ao projeto, o banco terá uma redução de custo anual de R$ 110 milhões. Ou seja, custos operacionais como telefone, água, manutenção de equipamentos e energia que serão jogados nas costas dos empregados.
Para implantar o projeto, uma pesada campanha de marketing sobre o trabalho remoto vem sendo feita pela Caixa, na tentativa de vender a ideia de mais autonomia, responsabilidade, foco, inovação. Mas bancários e bancárias devem ficar atentos: o trabalho remoto vem acompanhado de uma rotina perversa, com horas de trabalho intermináveis, cobrança por metas e perda de direitos.
“Com o trabalho remoto você perde o coletivo. As cobranças por metas serão individuais, o empregado terá que produzir mais sendo analisado individualmente, o salário será reduzido. O banco poderá retirar o auxílio-refeição sob a justificativa de que o bancário estará em casa. Todas as conquistas coletivas poderão se extinguir”, afirma Larissa Cunha, diretora do Sindicato dos Bancários de Santos e Região e empregada da Caixa.
Saúde e privacidade
Durante anos, as empresas propagaram que os problemas pessoais deveriam ser deixados em casa. Agora, para reduzir custos e aumentar o lucro, querem promover uma verdadeira invasão de privacidade na vida dos trabalhadores com a adoção do modelo de trabalho remoto. Conciliar ambiente doméstico com trabalho pode adoecer mais do que o cotidiano do próprio ambiente bancário.
No trabalho remoto realizado em casa, o empregado terá que lidar com a alta intensidade no trabalho, o aumento de metas e a jornada de trabalho excessiva dentro de sua própria casa. A falta de divisão entre o trabalho e a vida privada pode trazer consequências nefastas para os trabalhadores.
“Trabalhar dentro de casa, com obrigações de cumprimento de metas, prestação de contas, horas intermináveis exigidas pelo banco podem prejudicar a vida familiar, a saúde de todos. Nossa casa deve ser para descansar, ter tranquilidade, ler, paz, higiene mental e não ao contrário, virar um inferno. Pra onde devemos correr depois, quando vier o esgotamento?”, finaliza Larissa.
Fonte: Sindibancários/ES