PF teria novas ordens de prisão emitidas. Advogado diz que blogueiro bolsonarista se escondeu no Alvorada e delegado que parte dos golpistas se refugiaram e estão acampados em frente ao QG do Exército
O secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, delegado Júlio Danilo, admitiu que parte dos participantes de atos terroristas que vandalizaram Brasília na noite desta segunda-feira (12) se encontra entre os bolsonaristas golpistas acampados no entorno do Quartel General do Exército e do Palácio da Alvorada. Apesar de o governador Ibaneis Rocha ter determinado “prisão para os vândalos”, o secretário não sabia, à meia-noite, três horas depois da noite de violência, se alguém estava preso.
Estava entre os acampados, por exemplo, o indígena bolsonarista José Acácio Tserere Xavante. Preso a pedido da Procuradoria-Geral da República por comprovadamente organizar e insuflar atos golpistas, o indígena é o suposto estopim do caos. Sua detenção pela PF, a 600 metros do hotel onde está o presidente Lula, teria sido a “causa” da noite de terror.
Danilo ponderou que as áreas onde se encontram os acampados são de jurisdição federal e que não poderia atuar no local. Mas assegurou que os envolvidos nos crimes desta segunda-feira serão responsabilizados, sejam acampados, sejam moradores da capital.
Abrigo
As evidências de que há golpistas terroristas entre os acampados do QG e do Alvorada cresceram desde as primeiras horas de ocupação. Ontem, o senador Randolfe Rodrigues afirmou que pediria ao Supremo Tribunal Federal para incluir a primeira-dama Michelle Bolsonaro no inquérito dos atos antidemocráticos. Isso porque, nos últimos dias, Michelle entregou marmitas a golpistas em vigília na residência presidencial.
Além disso, a notícia de que a PF teria outras ordens de prisão a cumprir fez com que potenciais investigados por crimes contra a ordem democrática fossem acobertados pelo Palácio da Alvorada. Entre eles o blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio. Segundo a CNN, seu próprio advogado revelou que Eustáquio entrou no Palácio da Alvorada para se “abrigar” nesta segunda.
“O caos não venceu nem vencerá”
O secretário acompanhou o senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), futuro ministro da Justiça do governo Lula, em entrevista iniciada por volta de 23h40 e encerrada pouco mais de meia-noite. O responsável pela segurança do presidente eleito, delegado da Polícia Federal Andrei Rodrigues – futuro diretor-geral do órgão, também participou.
Os três asseguraram que a segurança de Lula está intacta e que assim permanecerá até sua posse e depois dela. Diplomático e cauteloso, Flávio Dino elogiou as operações conjuntas da equipe do presidente eleito e das forças de segurança do DF.
Mas apontou para uma possível orquestração golpista com objetivo de macular a diplomação de Lula como presidente da República. Desse modo, considerou fracassado o objetivo dos “organizadores do caos” desencadeado justamente nesse dia. Dino assinalou que a diplomação do presidente da República – agora habilitado a tomar posse no dia 1º de janeiro – é uma vitória da democracia.
“Houve a diplomação de Lula, e não podemos achar que houve uma vitória dos que querem o caos. Essas pessoas não venceram hoje e não vencerão amanhã”, disse Dino.
Depois do jantar
A primeira intervenção pública do ministro da Justiça, Anderson Torres, ocorreu às 23h08, por mensagem no Twitter. O ministro, que momentos antes havia sido visto jantando no restaurante Dom Francisco, no Setor de Clubes, disse que “tudo será apurado e esclarecido” e que a situação estaria se “normalizando”.
Flávio Dino elogiou o Governo do Distrito Federal pelas operações conjuntas com a equipe de segurança de Lula. Disse que conversou cinco vezes com Ibaneis entre o início dos atos terroristas e momentos antes da entrevista.
Ao mesmo tempo, expôs de maneira categórica o compromisso do governador de que episódios como esse não voltarão a ocorrer. “Se há omissões, as omissões não estão aqui”, disse, sem citar nomes de autoridades federais que até o momento não haviam mantido um contato oficial.
“A diplomação ocorreu hoje sem nenhum intercorrência e o presidente Lula está apto a tomar posse. Houve plena integração entre os órgãos de segurança”, reiterou.
Ressaltou também que as ditas “manifestações” golpistas têm características de crimes. E que ordem judicial contra crimes tem de ser cumprida, assinalou, referindo-se à prisão do indígena. E possivelmente a outra que venham a ocorrer.
“As medidas de responsabilização pelos atos terroristas irão prosseguir. Não há hipótese de haver, em razão dessa ou qualquer violência, passos atrás na garantia da ordem pública. O estado democrático de direito exige a defesa da lei.”
Dino ponderou que não se pode responsabilizar todas as pessoas que estão nos acampamentos golpistas pelos crimes desta segunda. “Sabe-se que se trata de um pequeno grupo. Haverá investigações, mas não haverá pré-julgamentos”, defendeu.
O secretário Júlio Danilo reafirmou que a ordem estava restabelecida no início desta madrugada. “A polícia está nas ruas e assim seguirá”, garantiu. Mas até que a dita “minoria raivosa” se transformasse em noite de terror em Brasília, as incitações ao golpe que vêm sendo feita pelos bolsonaristas inconformados ainda estavam sendo interpretadas como “manifestações pacíficas” pelas autoridades locais.