Banheiros imundos, insetos, ratos e pombos no refeitório, ar-condicionado em péssimo estado, ameaças, pressão desmedida pelo cumprimento de metas abusivas, assédio moral, desrespeito às pausas de descanso e salários muito baixos. Essa é a rotina de trabalho dos funcionários terceirizados que, por meio da empresa de call center Atento e outras, prestam serviços para os maiores bancos do Brasil.
Os terceirizados realizam tarefas exclusivas de bancários, como venda de produtos, concessão de crédito e cobrança, têm acesso aos dados bancários dos clientes, mas ganham muito menos do que o piso da categoria, atualmente em R$ 1.638,62. Essa prática é caracterizada como terceirização da atividade-fim e é considerada fraude pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).
"Não posso fazer trabalho de bancário recebendo R$ 800. Fui contratada para fazer cobrança, mas sou obrigada a vender produtos. Não trabalho para o Itaú, mas tenho que fazer acordo, argumentar para vender", relata uma trabalhadora da unidade Belém. "Reclamei com a gestora e ela me ameaçou, falou que se eu não produzisse mais ia me demitir. O banco ameaça a Atento e a Atento ameaça a gente. No mês passado consegui R$ 300 mil para o Itaú e não recebi nem 10 centavos de comissão. Eu me sinto com se fosse uma escrava que trabalha por um prato de comida", desabafa uma funcionária.
A comissão – conhecida como variável -, aliás, é uma ilusão para muitos daqueles trabalhadores, segundo relatos. "Qualquer coisa é motivo para pontuação negativa, como sair do sistema para ir ao banheiro, a ligação cair no meio do atendimento ou a secretária eletrônica atender. Com isso não recebemos a variável", conta outro terceirizado também do prédio localizado no bairro do Belém, na zona leste da capital paulista.
As condições físicas de trabalho também são deploráveis, segundo as denúncias, com banheiros imundos, pragas e infraestrutura precária. "Vira e mexe quebra o ar-condicionado, o calor fica insuportável, a gente passa mal. O sistema é lento, vive caindo", lembra um trabalhador.
"Tem barata e pombo no meio do refeitório, o banheiro é imundo, o prédio em que a gente trabalha quase não tem janelas, o carpete é sujo, tem todo aquele pó, a gente cansa de ficar doente", afirma uma colega.
Justiça
As péssimas condições de trabalho conferidas aos funcionários da Atento já motivaram punições na Justiça. O Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro condenou o Bradesco por terceirização ilegal, obrigando-o a contratar diretamente todos os trabalhadores da Atento e demais prestadoras de serviço que realizavam atividades bancárias, sob pena de multa diária de R$ 10 mil por cada trabalhador. Multa idêntica foi arbitrada à Atento, que ainda está proibida de prestar serviços bancários naquele estado. Cabe recurso.
Para reforçar a ação judicial em andamento no TRT do Rio de Janeiro, será informado àquela corte sobre a situação dos trabalhadores terceirizados em São Paulo e também a respeito de uma ação civil pública em andamento contra a Atento na 51ª Vara do Trabalho que trata da mesma matéria.
Fonte: Seeb São Paulo