O “home office” precisa ter respaldo de leis que protejam os trabalhadores, principalmente no setor bancário. Apesar de muitos gostarem, a categoria vem sofrendo com jornadas extensas, sobrecarga de trabalho, novas doenças e a dificuldade cotidiana conciliar trabalho e tarefas domésticas. Sem falar nos gastos com energia, internet, mobiliário, equipamentos e outros que correm por conta do bancário
O home office que até 2013, ocorria de forma tímida no setor bancário foi acelerado devido a pandemia de Covid-19 e pode ser uma modalidade de trabalho que deve permanecer na categoria bancária. Os dados foram apresentados durante a terceira mesa da 22ª Conferência Nacional dos Bancários que falou sobre os impacto da crise sanitária no sistema financeiro.
Para o economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Gustavo Cavarzan, há uma forte tendência de que a digitalização e o tetetrabalho nos bancos sejam a nova realidade e passam a ser cada vez mais implementados a partir deste anos já que a crise sanitária impactará significativamente no lucro dos bancos em 2020.
“Os bancos tiveram um lucro recorde de R$ 108 bilhões em 2019, e como neste ano, os resultados serão menores, eles precisarão reagir a esse cenário. E para conseguir alcançar o resultado que esperam estão investindo pesado na automação e digitalização dos sistemas por conta do crescimento nas transações via mobile e internet banking e com os bons resultados gerados por conta do teletrabalho, o que reduz drasticamente as despesas de pessoal e administrativas, além dos custos fixos”, destaca.
Outra reação dos bancos para retomar o crescimento será com o fechamento de postos de trabalho e de agências físicas, migrando cada vez mais para o digital.
“Com a pandemia, os bancos fizeram um investimento de 25 bilhões em tecnologia. Desde que começou o isolamento social, as transações via internet banking cresceram cerca de 40% em 2020, e somente no mês de abril subiu para 67% as operações via aplicativos. As interações com robôs também cresceram 78% e está substituindo cada vez o trabalho humano, o que gera uma economia para os bancos”, explica.
Ainda segundo o Dieese, desde 2013, houve uma redução de 70 mil postos, e em 2014 foram fechadas 3.400 agências físicas em todo o Brasil.
Saúde fica debilitada
Por mais que a maioria dos bancários esteja preferindo a opção do teletrabalho, por conta da pandemia, uma pesquisa realizada pelo Dieese na categoria bancária, comprovou alguns debates que já vem sendo discutindo pelo movimento sindical: jornadas extensas, sobrecarga de trabalho, novas doenças e a dificuldade cotidiana conciliar trabalho e tarefas domésticas.
Apresentada pela sociológa e também economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Barbara Valejjos, a pesquisa foi respondida por 11.133 bancários, sendo 48% do sexo feminino e 51% do sexo masculino, entre os dias 1 e 12 de julho.
A pesquisa revelou que 98% passaram para o “home Office” por conta da pandemia; a maioria(30,5%) dividem a residência com 3 pessoas; (49%) têm filhos em idade escolar; usam a sala (44%), para realizarem o ¨home office; e que para as mulheres (15,7%) há uma grande sobrecarga de trabalho por conta do acúmulo de tarefas domésticas e se têm, filhos, fica mais difícil se concentrarem no trabalho.
A pesquisa revelou também que o ¨home office¨ tem causado mais pressão para o cumprimento de metas e mais problemas de saúde como dores musculares, fadiga, ansiedade por conta das horas trabalhadas, mobílias e equipamentos inadequados para o desenvolvimento do trabalho.
“Os bancários acabam sendo responsabilizados por gerir o próprio trabalho e lidar com as metas e ao mesmo tempo aparece a insegurança pelo medo de ser esquecido ou de perder algumas oportunidades. Isso gera um desconforto na saúde que já aparecia, e agora, em apenas quatro meses, aparece de forma mais intensa. O movimento sindical precisa ficar atento porque daqui a um ano, os resultados podem ser ainda bem piores para os trabalhadores”, destaca.
Barbara ainda mostra que o “home Office” acabou transferindo os custos das empresas para os trabalhadores e isso precisa ser rediscutido com os bancos. Já que 31% dos participantes disseram ter tido um aumentou na conta de luz; 16% revelou ter aumentado muito os gastos com internet e 34,9% notou gastos excessivos com supermercado.
“Os desafios dessa campanha será discutir jornada de trabalho, saúde e questões relativas a gênero. Essa conta não pode ser transferida para os trabalhadores e tudo precisa ser acordado ponto a ponto com os bancos”, finaliza.
Proteção ao trabalhador
“O movimento sindical deve exigir na negociação da Campanha Salarial com a Fenaban, que os bancos sejam responsáveis por materiais, equipamentos, gastos com luz e internet, mobiliário adequado para salvaguardar a saúde dos bancários e bancárias. Mas acima de tudo um acordo coletivo que traga segurança para o trabalho em casa no setor bancário. Trazer o que é estabelecido na CLT para o que está ocorrendo com os bancários, ou seja, que os direitos trabalhistas deem suporte aos que trabalhem no sistema de “home office”, afirma Ricardo Saraiva Big, presidente em exercício do Sindicato dos Bancários de Santos e Região e secretário de Relações Internacionais da Intersindical – Central da Classe Trabalhadora.
De acordo com dirigentes da Contraf, é preciso deixar claro o que é teletrabalho, como será realizado e onde, e quais as atribuições que serão de responsabilidade do empregador e empregado. Isso precisará constar num aditivo à convenção dos bancários para que se faça valer a lei e não gerar prejuízos aos trabalhadores.
Fonte: Comunicação do SEEB de Santos e Região com spbancarios