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Reajustes salariais abaixo da inflação atingem a maioria dos trabalhadores

27 de agosto de 2021

Cerca de 59% das negociações realizadas em julho os reajustes foram abaixo da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em outras 16% foram iguais à inflação, e em cerca de 25% resultaram em aumentos acima da inflação aos salários, diz o IBGE

A crise econômica, agravada pela pandemia do novo coronavírus, aliada a péssima gestão de Jair Bolsonaro (ex-PSL) e do ministro da Economia, Paulo Guedes, tanto no combate à pandemia quanto ao desemprego e a escalada da inflação, está corroendo o poder de compra dos trabalhadores e trabalhadoras, que ganham cada vez menos e não conseguem sequer repor a inflação nas negociações salariais.

 

O boletim de “Olho na Negociação” do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e o “Salariômetro”, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), mostram que o mês de julho deste ano foi o pior dos últimos 12 meses para o trabalhador que, junto com seu sindicato, lutou por reajuste em suas campanhas salariais.

 

De acordo com o Dieese, em cerca de 59% das negociações realizadas em julho os reajustes foram abaixo da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em outras 16% foram iguais à inflação, e em cerca de 25% resultaram em aumentos reais aos salários.

 

A variação real média das correções salariais em julho foi negativa (-1,87%). Para chegar a este total o Dieese analisou 129 reajustes com data base no mês passado.

 

Já o “Salariômetro” da Fipe mostra que em julho, a média do reajuste foi de 7,6%. Como a inflação do período bateu os 9,2%, houve perda real nos salários de 1,6%.

 

Ao longo deste ano, de acordo com o Dieese, os reajustes acima do INPC representam 17,5% do total; sendo que os iguais à inflação oficial ficaram em 32,2%.

 

Já as negociações que terminaram em perdas salariais, com índice abaixo da inflação foram a maioria, com 50,3%. A variação real média no ano, até julho, foi negativa (-0,71%).

 

As causas para as perdas salariais dos trabalhadores estão no índice de desemprego, no desalento, na carestia, principalmente com os reajustes da energia elétrica e combustíveis, e na precarização das relações de trabalho provocadas pela reforma trabalhista, na avaliação da coordenadora de pesquisas do Dieese, Patrícia Pelatieri.

 

“Com 15 milhões de desempregados, 5 milhões de desalentados, somados aos milhões de subocupados, a negociação salarial fica mais complicada. Soma-se o aumento acelerado dos preços dos alimentos, dos combustíveis e da energia elétrica, o desmonte da legislação trabalhista e o enfraquecimento da Justiça do Trabalho, ao desemprego e ao desalento, e está construída a situação ideal para o patronal tentar retirar direitos tão duramente conquistados”, afirma Patrícia Pelatieri.

 

O mesmo entendimento tem o diretor-técnico do Dieese, Fausto Augusto Júnior. Para ele, “a atual política econômica do governo Bolsonaro que resultou na volta da inflação e os ataques ao movimento sindical se refletem nas negociações coletivas, reduzindo a renda do trabalhador, que não consegue repor o seu poder de compra, penalizando, principalmente, os trabalhadores mais pobres”.

 

Outro problema apontado por Pelatieri é o fim da Política de Valorização do Salário Mínimo, uma conquista das centrais sindicais, durante o governo Lula, que Bolsonaro acabou em seus primeiros meses de governo.

 

Como os reajustes de diversas categorias têm como base o mínimo, o fim do ganho acima da inflação resultou em perdas mesmo para quem tem salários acima do piso nacional.

  

Fortalecer sindicatos, fortalece os trabalhadores

 

Uma das categorias que mais tem sofrido perseguições é a dos petroleiros que vive sob a ameaça de privatização da Petrobras.

 

Apesar das tentativas de retrocesso em seus direitos, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) tem conseguido manter os ganhos da categoria. O último Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) com vigência de dois anos garante a reposição salarial pela inflação, a partir de 1º de setembro, data-base dos petroleiros.

 

O reajuste, porém, não é para toda a categoria porque, segundo Deyvd Bacelar, Coordenador-Geral da FUP, os trabalhadores que fizeram acordos individuais tiveram perdas salariais com reajustes abaixo da inflação.

 

“A reforma Trabalhista permitiu que esses trabalhadores fizessem acordos individuais sem a proteção sindical, e eles tiveram perdas em relação aos que buscaram se unir”, diz Deyvid se referindo a reforma de Temer.

 

“Por isso, é importante que o trabalhador procure o seu sindicato para que unidos sejam mais fortes numa negociação”, acrescenta.

 

O dirigente, no entanto, diz que petroleiros que operam em campos de produção de petróleo de terra, em empresas privadas, também conquistaram reajustes melhores graças às greves como as da categoria na Bahia, Rio Grande do Norte e no Espírito Santo.

 

“As dificuldades foram grandes para estabelecermos negociações coletivas, seja na Petrobras, seja em empresas privadas, mas conseguimos manter boa parte dos direitos e benefícios, apesar dos pequenos prejuízos no plano de saúde e nas liberações sindicais”, afirma.

 

O reajuste pela inflação foi conquistado numa luta coletiva, uma luta individual, com certeza, não conseguiria manter acordos e repor a inflação- Deyvid Bacelar

 

 

 

Fonte: SEEB do RJ

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Publicado por: Gustavo Mesquita

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