Os infectologistas Eder Gatti e Raquel Stucchi explicam algumas questões relacionadas à covid-19. Em seu quarto guia epidemiológico, publicado em 10 de janeiro, o Ministério da Saúde reduziu de 10 para cinco dias o tempo mínimo de isolamento para pacientes contaminados e sintomáticos
Desde o início da pandemia de covid-19 no Brasil, em março de 2020, a ciência descobriu muitas informações sobre o novo coronavírus, o que levou a alterações de alguns protocolos sanitários.
Diante das mudanças, entretanto, muitas dúvidas podem ficar pelo caminho. Por exemplo: quanto tempo depois de contrair o vírus uma pessoa pode tomar a dose de reforço? O isolamento deve ser de cinco ou 10 dias? É possível tomar as vacinas contra influenza e covid-19 juntas?
Para responder a essas e outras perguntas, o Brasil de Fato conversou com os médicos infectologistas Eder Gatti, do Centro de Vigilância Epidemiológica Professor Alexandre Vranjac do estado de São Paulo e do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, e Raquel Stucchi, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Orientação de isolamento para os casos de covid-19
Em seu quarto guia epidemiológico, publicado em 10 de janeiro, o Ministério da Saúde reduziu de 10 para cinco dias o tempo mínimo de isolamento para pacientes contaminados e sintomáticos. A redução, no entanto, só pode ser feita caso, no quinto dia, o paciente apresente teste negativo para a doença e esteja sem sintomas respiratórios, sem febre e sem uso de medicamentos antitérmicos há pelos menos 24 horas.
Passados os cinco dias, caso os sintomas permaneçam e o paciente apresente teste positivo para a doença, o tempo de isolamento sobe para 10 dias. Por sua vez, o isolamento de 10 dias poderá ser interrompido somente se não houver registro de febre, sem uso de antitérmicos há pelos menos 24 horas, nem sintomas respiratórios. Não será necessário novo teste.
Outra possibilidade: passados os cinco dias, caso o paciente não tenha acesso aos testes de detecção do vírus, é possível deixar o isolamento após sete dias desde o início dos sintomas, caso esteja sem febre, sem o uso de medicamentos antitérmicos há pelo menos 24 horas e sem sintomas respiratórios. Neste caso, o paciente deve evitar aglomerações e contato com pessoas do grupo de risco até o décimo dia.
Por fim, outra situação: se transcorridos os 10 dias, caso o paciente permaneça com os sintomas respiratórios ou febre no sétimo dia, é necessário realizar a testagem.
Para os pacientes assintomáticos, o isolamento poderá ser interrompido transcorridos cinco dias, a partir do dia de realização do teste, desde que o paciente continue assintomático durante todo o período e apresente teste negativo para a doença. Caso o indivíduo não tenha acesso a testes, o isolamento deve terminar somente após o sétimo dia, com a recomendação de evitar aglomerações e contato com pessoas dos grupos de risco até o décimo dia.
Os testes podem ser o de antígeno, que verifica que há presença de vírus no organismo, ou PCR, que analisa a presença de anticorpos.
Lembrando que o primeiro dia de sintoma é considerado o zero. Logo, o primeiro dia só se dá após 24 horas do início de sintomas.
A nova recomendação do Ministério da Saúde está baseada nos protocolos do Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, sigla para Centers for Disease Control and Prevention), anunciados em janeiro deste ano. A recomendação não precisa de aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser aplicada pelos profissionais da saúde.
Eu e minha família contraímos o vírus, mas só eu testei negativo depois de 7 dias. E agora?
O paciente que passou pelo período de isolamento recomendado pelo Ministério da Saúde e deixou de testar positivo para a doença já não está mais transmitindo. Ainda assim, ao fazer o isolamento com outras pessoas contaminadas, as recomendações são as mesmas para todos: devem completar os 10 dias de isolamento se não conseguirem realizar o teste antes.
Tive contato com uma pessoa que testou positivo e estou sem sintomas, mas não tem teste nas farmácias. O que fazer?
Diante da falta de insumos para a produção de testes de covid-19, farmácias, laboratórios e até mesmo hospitais públicos e particulares registraram escassez do exame na última semana, devido à explosão de casos. Na semana passada, a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) alertou para a possibilidade de os testes acabarem em decorrência da falta de matéria-prima.
Na ausência de teste, a recomendação é a quarentena de 14 dias. Lembrando que uma pessoa pode se tornar um “comunicante de caso de covid” após permanecer por pelo menos 15 minutos em um ambiente fechado com alguém que testou positivo para a doença. “Esta pessoa deve ser isolar por 14 dias, podendo sair do isolamento após cinco dias, caso consiga se testar”, afirma Raquel Stucchi.
Quanto tempo depois de contrair o novo coronavírus é possível tomar a dose de reforço?
Com a circulação da variante ômicron, mais transmissível do que as outras cepas, e as festas de fim de ano, o número de casos registrados aumentou assustadoramente nas últimas três semanas no país. Dos infectados, muitos estavam na iminência de tomar a dose de reforço contra a doença.
Neste caso, para tomar a terceira dose, é necessário esperar 30 dias desde o primeiro dia de sintomas ou da data em que foi realizado o teste RT-PCR para a doença, no caso de assintomáticos.
Segundo o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), entre os dias 26 de dezembro e 1º de janeiro, foram registrados 56.881 casos. Nas duas semanas seguintes, os números subiram para 208.018 e 476.198 casos, respectivamente.
Posso tomar a terceira dose de um fabricante diferente das primeiras doses?
Sim. O Brasil reconhece a intercambialidade das vacinas para a dose de reforço. É possível, por exemplo, receber a terceira dose com o imunizante da AstraZeneca e da Fundação Oswaldo Cruz mesmo que o indivíduo tenha sido vacinado, na primeira e na segunda dose, com o imunizante CoronaVac, do Instituto Butantan. O mesmo vale para o imunizante da Pfizer. A exceção é para a vacina da Janssen, de dose única.
Posso tomar as vacinas contra Influenza e Covid-19 no mesmo dia?
Não tem problema tomar as vacinas contra Influenza e Covid-19 no mesmo dia. Mas a vacinação contra a nova cepa da gripe, a H3N2, que está circulando hoje no país, só deve começar em março. Segundo Eder Gatti, todo ano a vacinação contra a gripe é feita neste período, após a atualização dos imunizantes com a nova variante.
Existe algum tipo de restrição para a terceira dose da vacina contra a covid-19?
A pergunta mais feita pelos brasileiros no Google desde o início da imunização contra a covid-19 no Brasil foi “pode beber depois da vacina?”, segundo um levantamento feito pela empresa e obtido pelo G1. Quanto à terceira dose, a resposta é “não”.
“Não existe esse tipo de recomendação formal, porque a terceira dose serve para consolidar a memória dos anticorpos. Existem alguns grupos que têm algumas restrições, como os imunodeprimidos. Agora com relação à alimentação e atividade pessoal, não tem contraindicação”, afirma Gatti.
Tomadas todas as doses de vacina contra o novo coronavírus, devo continuar usando máscara?
Sim. A vacina evita as formas graves da doença e os óbitos, mas não impede a contaminação. Assim como as máscaras de proteção, os indivíduos devem continuar com o distanciamento social e a higienização das mãos. As melhores máscaras são aquelas que têm filtragem semelhante à da PFF2/N95, uma vez que filtram os aerossóis, tornando mais difícil a penetração do vírus.
O uso de máscaras só será reavaliado quando diminuir a circulação do vírus de modo expressivo. Isso deve ocorrer quando 80% da população estiver vacinada com as três doses. Anteriormente, o norte era 70% da população imunizada com duas doses. Com o surgimento da variante ômicron, a porcentagem e a quantidade de doses para atingir a imunidade coletiva aumentaram.
Crédito: PMS
Fonte: Brasil de Fato | São Paulo (SP)
Escrito por: Caroline Oliveira