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Pará investiga pólio em criança de 3 anos. Seria 1º caso em mais de 40 anos

7 de outubro de 2022

A cada vez mais desprestigiada vacinação no Brasil, que põe a saúde de todos em risco, traz de volta o fantasma de uma doença grave. Um menino de 3 anos do interior do Pará testou positivo para o vírus da poliomielite após apresentar sintomas. Mas o governo continua investigando outras possibilidades

A cada vez mais desprestigiada vacinação no Brasil, no caso a contra a pólio, já faz a primeira vítima no Brasil depois de a doença ter sido erradicada no Brasil. O contágio pelo vírus por uma criança de 3 anos é investigado pela Secretaria Estadual de Saúde do Pará. De acordo com uma “Comunicação de Risco” emitida pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS/SESPA), o caso de paralisia, com teste positivo para poliovírus (Sabin Like 3), foi detectado por meio da metodologia de isolamento viral em fezes.

 

O comunicado, no entanto, afirma que é preciso afastar outras possibilidades. “Outras hipóteses diagnósticas não foram descartadas, como Síndrome de Guillain Barré.” Trata-se de um distúrbio autoimune, em que o próprio sistema imunológico ataca parte do sistema nervoso central que se conecta com outras partes do corpo. Por causa disso, a investigação continua sendo feita conforme protocolos de vigilância epidemiológica do Ministério da Saúde.

 

A criança que testou positivo para pólio é um menino, residente do município de Santo Antônio do Tauá, no interior do estado. Os primeiros sintomas, incluindo febre, dores musculares, mialgia e paralisia flácida aguda (PFA), surgiram no dia 21 de agosto. Algumas semanas depois, ele perdeu a força nos membros inferiores, sem conseguir se manter em pé.

 

A coleta de fezes foi realizada no dia 16 de setembro e encaminhada ao Laboratório de Referência do Instituto Evandro Chagas. O laudo, com o resultado positivo para Sabin Like 3 foi emitido na última terça-feira (4).

 

O caso não chega a surpreender, embora a doença já tenha sido erradicada do Brasil em 1994. Também chamada de paralisia infantil, a doença contagiosa aguda, causada por um vírus (poliovírus selvagem), pode ser letal conforme a proporção da infecção no cérebro. A doença fez milhões de vítimas em todo o mundo durante décadas.

 

Em alguns casos, põe em risco a musculatura dos membros inferiores ou mesmo daqueles envolvidos na respiração e deglutição. E pode também afetar adultos.

 

A baixa cobertura vacinal vem sendo alertada por diversos especiaistas e pesquisas, como a da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Esta aponta que a redução na vacinação de crianças, adolescentes e pessoas de grupos de risco, observada a partir de 2013, acentuou-se com a pandemia de covid-19. É um grave problema de saúde pública, porque compromete a imunidade coletiva e favorece a formação de bolsões de pessoas vulneráveis.

 

O crescimento do movimento antivacina, com o fortalecimento da extrema direita, teve como expoente no Brasil o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição. O governante que tanto combateu a vacina da covid-19 – chegou a sugerir efeitos colaterais como “virar jacaré” – cita o Programa Nacional de Imunizações (PNI) apenas uma vez em seu plano de governo. E mesmo assim junto a outras iniciativas a ter continuidade, como “Vigilância em Saúde, onde está inserido o fundamental e bem sucedido Programa Nacional de Imunizações, que tantas vidas salvou desde sua idealização”. Ou seja, a proposta não é de fortalecimento.

 

Para complicar, têm ressurgido em alguns países, como Israel e Malaui, na África, alguns casos. Em julho houve registro de um caso nos Estados Unidos, no estado de Nova York. No Brasil, o último foi em 1989, mas o risco de reintrodução da doença não pode ser descartado. Isso porque a cobertura vacinal caiu de 96,55% em 2012 para 67,71 em 2021.

 

Ataque ao SUS faz vacinação contra pólio cair

Segundo o Ministério da Saúde, a vacina inativada contra a poliomielite foi introduzida em 2012 com duas doses, mas foi ampliada para três doses em 2016. O PNI recomenda que elas sejam administradas aos 2, 4 e 6 meses de idade, conferindo uma imunidade que só é reforçada aos 15 meses e aos 4 anos, com as gotinhas da vacina oral.

 

As doses previstas para a vacina inativada contra a pólio atingiram a meta pela última vez em 2015, quando a cobertura foi de 98,29% das crianças nascidas naquele ano. De 2016 para cá, do governo Temer até hoje, com os ataques e retirada de verbas do SUS, a cobertura caiu para menos de 90%, chegando 84,19% no ano de 2019. Em 2020, a pandemia de covid-19 afetou as coberturas de diversas vacinas, e esse imunizante chegou a apenas 76,15% dos bebês. Em 2021, que ainda pode ter dados lançados no sistema, o percentual ficou abaixo de 70% pela primeira vez, com 69,9%. 

 

Caso três em cada 10 crianças não tenham sido vacinadas, a situação pode ser pior em uma leitura regional. Enquanto, no Sul a proporção é de 79%, no Norte é de 61%. O estado em pior situação, segundo o painel de dados, é o Amapá, onde o percentual é de apenas 44% de bebês imunizados. Ou seja, o Pará está na região de maior risco.

 

Mais dados de falta de vacinação

O alerta acontece em um momento crítico para a cobertura vacinal contra a paralisia infantil no país. Segundo os últimos dados do Ministério da Saúde, apenas 61,9% das crianças em todo o país foram vacinadas contra a doença na campanha deste ano, encerrada em 30 de setembro. O objetivo era vacinar 95% delas.

 

Nenhum dos estados conseguiu atingir a marca dos 95% (o número mais próximo foi o da Paraíba, 93,4%). O Pará, onde o caso é investigado, vacinou apenas 44,7%. Os números foram atualizados nesta quinta, 6 de outubro de 2022

Crédito: Tomaz Silva/Agência Brasil
Fonte: Rede Brasil Atual e Brasil de Fato
Escrito por: Cida de Oliveira

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Publicado por: Gustavo Mesquita

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