O HSBC divulgou na segunda-feira (5) que teve lucro líquido mundial de US$ 2,5 bilhões no terceiro trimestre deste ano, bem abaixo do ganho de US$ 5,22 bilhões registrado em igual período do ano passado. O resultado no Brasil não foi anunciado.
O banco inglês também revelou que vai destinar mais US$ 1,15 bilhão para cobrir potenciais multas relacionadas a lavagem de dinheiro e custos de produtos inapropriados vendidos a clientes do banco.
A instituição está sendo investigada pelo Congresso dos Estados Unidos sob a suspeita de que parte de suas operações globais tenha sido usada para atividades de lavagem de dinheiro vinculado ao tráfico de drogas ou ao financiamento de terrorismo.
Apenas para possíveis multas, o banco provisionou outros US$ 800 milhões, elevando o total para US$ 1,5 bilhão. O HSBC admitiu, porém, que as multas poderão ser “significativamente maiores”. A instituição também provisionou outros US$ 353 milhões para possíveis indenizações a clientes.
Lucro ajustado
Já o lucro ajustado antes de impostos, que exclui fatores contábeis, mais do que dobrou na mesma comparação.
O HSBC registrou um lucro ajustado – descontado o impacto de alienações e de mudanças no valor de sua dívida própria – de US$ 5 bilhões no terceiro trimestre deste ano, valor bem superior ao total corrigido de US$ 2,2 bilhões do mesmo período do ano passado.
A instituição foi ajudada pela queda superior à prevista dos prejuízos decorrentes de dívidas não quitadas e pelo desempenho sólido de seu braço de banco de investimentos.
As despesas operacionais subiram 16% durante o trimestre, comparativamente ao mesmo trimestre de 2011, devido ao aumento dos custos com conformidade e de natureza regulatória, que, segundo o banco, totalizaram de US$ 200 milhões a US$ 300 milhões.
Multa nos Estados Unidos
Uma multa imposta pelos Estados Unidos por infração da norma de antilavagem de dinheiro poderá custar ao HSBC significativamente mais do que US$ 1,5 bilhão, e deverá levar à formalização de acusações de natureza penal, informou a instituição.
O HSBC declarou que a investigação americana prejudicou a reputação do banco e obrigou-o a fazer uma provisão adicional de US$ 800 milhões para cobrir a multa potencial por descumprimento dos controles de antilavagem de dinheiro do México. O valor se soma à provisão de US$ 700 milhões feita em julho.
“Pode ser significativamente maior”, disse o principal executivo do banco, Stuart Gulliver, à imprensa em teleconferência. Ele informou que essa última provisão se baseou em discussões com as várias autoridades americanas envolvidas na investigação.
O momento da pactuação de um possível acordo está nas mãos das autoridades reguladoras e deverá envolver acusações corporativas penais e cíveis, disse o banco.
Relatório do Senado dos EUA divulgado em julho criticou o HSBC por permitir que clientes transferissem recursos potencialmente ilícitos de países como México, Irã, Ilhas Cayman, Arábia Saudita e Síria. O HSBC tinha advertido poucos meses antes que poderia enfrentar acusações criminais ou cíveis como parte da investigação.
O banco, sediado em Londres, disse que a questão era “vergonhosa e constrangedora”, após o relatório ter criticado a cultura “impregnantemente poluída” do banco e ter dito que a divisão mexicana do HSBC tinha transferido US$ 7 bilhões para a divisão americana entre 2007 e 2008.
“O relatório, sem dúvida nenhuma, causou considerável prejuízo à reputação do HSBC. Em que grau isso resultou em perda de negócios é algo difícil de medir, mas o documento, seguramente, lesou nossa marca”, disse Gulliver. Ele disse que muitos funcionários deixaram a empresa em decorrência da investigação e que vários deles sofreram reapropriação de valores pagos a título de remuneração.
“A reserva por conta de lavagem de dinheiro é uma preocupação, principalmente em vista da incerteza sobre qual será o valor final”, disse Richard Hunter, diretor de ações da corretora Hargreaves Lansdown.
O problema representa um golpe a mais para a reputação dos bancos britânicos, após o concorrente Barclays ter recebido, em junho, multa de US$ 450 milhões, acusado de manipular a taxa interbancária Libor, e o setor ter tido de fazer uma reserva de mais de 12 bilhões de libras esterlinas para indenizar clientes britânicos por venda enganosa de produtos ligados à área de seguros.
Gulliver disse que o saneamento dessa confusão exigirá algum tempo.
“Há toda uma série de coisas que entrou, provavelmente de uma década, no período de 2000 a 2008-09, que veio à superfície agora e que o setor precisa destrinchar, sanar e assegurar que não volte a ocorrer.”
“Vai levar um certo tempo para sanear o sistema e, depois, um período ainda maior para restabelecer mais plenamente a confiança”, disse ainda Gulliver, acrescentando ser sua função reconduzir o HSBC à posição “em que é encarado como o melhor do grupo”.
O presidente do conselho de administração do HSBC, Douglas Flint, se apresentaria ainda ontem perante os parlamentares britânicos que investigam a cultura e os padrões do banco. Previa-se que ele seria interrogado juntamente com o novo principal executivo do Barclays, Antony Jenkins, e a diretora do Santander britânico, Ana Botín.
Gulliver já cumpriu boa parte do plano de reestruturação de três anos destinado a enxugar o banco e disse prever ultrapassar sua meta de reduzir os custos anuais em aproximadamente US$ 3,5 bilhões, após já ter promovido uma economia de US$ 3,1 bilhões.
O HSBC assumiu ainda mais um encargo de US$ 357 milhões por venda enganosa de seguros de proteção a pagamentos no Reino Unido, o que eleva o total do valor posto em reserva para US$ 2,1 bilhões. O banco disse ter pago US$ 1 bilhão em indenizações.
Corte de 30 mil vagas nos últimos dois anos
Gulliver disse que provavelmente haverá fechamento de novos postos de trabalho antes do fim de 2013 por parte do banco. A instituição, cujas origens remontam a 1.865 como concessora de financiamento do comércio entre a Europa e a Ásia, opera em 84 países.
O HSBC extinguiu quase 30 mil vagas nos últimos dois anos – total próximo ao que Gulliver tinha previsto em seu programa de reformulação -, embora cerca de 50% delas tenham se devido a alienações. “Em termos de redução orgânica, ainda há certas coisas por fazer”, afirmou o executivo.
A instituição já vendeu ou fechou 41 divisões como parte desse plano, incluindo a venda de seu braço americano de cartão de crédito e metade de suas agências nos Estados Unidos e disse que tinha chegado a cumprir 75% desse plano.
Fonte: Contraf