Funcionários são pressionados pelo Itaú a vender a qualquer custo para manter seus empregos, bater metas, produzir lucros bilionários e quando incorre em alguma irregularidade o banco escolhe um bode expiatório para demitir
A pressão absurda por metas de vendas de produtos bancários no Itaú não para de aumentar. Tal situação está levando os funcionários a adoecerem e cometerem erros, que em última instância podem levá-los a perder o emprego.
Em âmbito nacional existem diversos trabalhadores que foram contatados, ou até mesmo desligados, pela Gerência de Inspetoria do Itaú. Em alguns casos, alguns bancários não deveriam nem mesmo terem sido acionados, uma vez que foram reclamações de clientes que realizaram as contratações de produtos bancários seguindo todos os procedimentos de segurança.
Já em outros casos, bancários foram demitidos por descumprimento da Política Corporativa de Prevenção a Atos Ilícitos. Entretanto, na grande maioria destes casos, este descumprimento – especialmente em vendas de Consórcios e Seguros, itens que geraram vários desligamentos em novembro – é resultado de erros cometidos pelo trabalhador por conta da enorme pressão para bater metas e falta de treinamento com foco na RP-50.
Apesar de por vezes o sistema estar inoperante nas agências, feriados, jogos do Brasil na Copa e outros impedimentos a pressão incessante por metas não diminui. Os bancários são levados a vender a qualquer custo pelo GERA para ficar com o emprego. Isso é injusto e massacrante”, explica Élcio Quinta, presidente do Sindicato dos Bancários de Santos e Região e bancário do Itaú.
GERA
O Itaú incentiva que os bancários busquem pontuações bem acima dos 1.000 pontos no GERA, que na teoria seria a meta de empregabilidade. Ocorre que, caso o trabalhador entregue somente os 1.000 pontos, é enquadrado como “baixa performance”. Já os que entregam 1.200 pontos, vislumbrando uma remuneração variável melhor, passam também a ser pressionados a pontuarem cada vez mais.
Conforme os sindicalistas, o Itaú está interessado em performances de 1.300, 1.400, 1.500 e até 1.600 pontos. Os bancários que não alcançam essas ‘hiper vendas’ são pressionados a buscar de qualquer forma tais resultados. Na política desumana e meritocrática de trabalho do banco o pensamento é: se alguns conseguem, todos deveriam conseguir. Não leva em conta as especificidades de cada agência ou de cada trabalhador como se fossem robôs, assim como do período avaliado.
Adoecimento e demissão
Toda essa pressão leva ao adoecimento, principalmente psicológico; e também a praticar alguns erros para se livrar todos os meses das ameaças e demissão. Neste momento aparece a inspetoria para passar a imagem de que o banco não pactua com irregularidades e demite os já espremidos funcionários.
“Na gestão existe uma enxurrada de pressão por metas, mas faltam avaliações e treinamento adequados, para que os bancários possam de fato trabalharem de acordo com o perfil do cliente de sua região. O Itaú não oferece espaço e tempo de comunicação correta sobre a Política Corporativa de Prevenção a Atos Ilícitos; Regras Conheça seu funcionário; e RP-50, Regras de Orientação e Aplicação de Medidas Disciplinares”, denuncia o movimento sindical.
Omissão e bodes expiatórios
Bancários demitidos alegam que foram penalizados por práticas comuns e que gestores compactuam com elas. Por trás desta postura, está a pressão absurda e ameaças de demissão que os trabalhadores são submetidos rotineiramente nas agências. De acordo com as denúncias dos trabalhadores ao movimento sindical nacional, muitas performances fora da curva não estão totalmente em conformidade com as regras, que gestores fazem vista grossa e, quando alguma situação cai na Gerência de Inspetoria, um trabalhador é feito de bode expiatório e demitido.
“É muito triste quando atendo um trabalhador e pergunto se ele tinha conhecimento dos procedimentos internos e o mesmo diz que não. Afirmam que todas as reuniões são para falar de metas, metas e metas. Não existe tempo para ler circulares e fazer cursos cujo foco não seja vendas. Cobramos que o Itaú reveja esse modelo de gestão. Por exemplo, o trabalhador poderia ter a autonomia de focar em itens de pontuação maior, ao invés de ser pressionado pela venda de itens como Consórcios e Seguros, rentáveis, mas com pontuação menor. Além disso, é necessário que sejam consideradas as especificidades de cada agência e do período. Enfim, este modelo de gestão tem diversos erros graves que precisam ser corrigidos. O que é inadmissível é que o bancário perca o emprego e a saúde por conta de um modelo de gestão que o massacra”, conclui Márcia Basqueira, dirigente do SEEB de São Paulo e funcionária do Itaú.
Crédito: Fabiano Couto
Fonte: SEEB de São Paulo com edição da comunicação do SEEB de Santos e Região