Veículo foi criticado por não verificar se houve, de fato, a aplicação de milhares de doses fora da validade. Entenda o caso na Baixada Santista
A Folha de S. Paulo publicou nesta terça-feira (6) uma matéria em que admite que houve um equívoco na reportagem sobre a aplicação de 26 mil doses de vacinas da AstraZeneca com prazo de validade vencido.
O veículo, que levou em conta dados levantados pela pesquisadora Sabine Righetti, da Universidade de Campinas (Unicamp), admite que não considerou que os dados do DataSUS poderiam estar desatualizados. Na reportagem havia uma afirmação de que “Milhares no Brasil tomaram vacina vencida contra a Covid; veja se você é um deles”.
Segundo a Folha, “a diferença entre as versões é que, na primeira, estava embutida a suposição de que os dados do DataSUS constituem retrato fiel da realidade, ao passo que, na segunda, não há essa suposição”.
O veículo foi bastante criticado por trazer tal afirmação sem checar com as prefeituras se houve, de fato, essa aplicação de doses vencidas. O jornal trazia um levantamento que mostrava em quais cidades isso teria ocorrido e gerou alarme na população. Em nota, a grande maioria dos municípios negou a ocorrência.
Entenda a repercussão do caso na Baixada Santista
As secretarias de Saúde das cidades da Baixada Santista, no litoral de São Paulo, afirmaram, na última sexta-feira (2), que “não houve registro de vacinas aplicadas fora do prazo de validade” nos municípios. A declaração ocorre após levantamento da Folha de S. Paulo apontar que 460 pessoas teriam recebido doses da AstraZeneca fora do prazo de validade em postos da rede pública da região.
Pesquisadores levaram em conta números do sistema DataSUS, onde as secretarias estaduais registram os atendimentos. Os dados foram relacionados às informações dos lotes. O Ministério da Saúde disse que todas as doses são enviadas dentro do prazo e que, caso aplicações fora do período ocorram, é preciso passar por uma nova aplicação, “respeitando um intervalo de 28 dias entre as doses”.
De acordo com o levantamento, teriam sido aplicadas 460 doses fora do prazo em oito municípios da Baixada Santista: Santos, Guarujá, São Vicente, Itanhaém, Peruíbe, Cubatão, Mongaguá e Praia Grande. Porém, todos os municípios negam que isso tenha ocorrido. Confira abaixo a resposta de cada prefeitura:
A Secretaria de Saúde de Cubatão informou que nenhuma dose vencida de vacina contra a Covid-19 foi aplicada na cidade. De acordo com o levantamento divulgado, 13 doses vencidas da vacina AstraZeneca teriam sido aplicadas no município, das quais 12 pertenceriam aos lotes CTMAV501 e CTMAV505, usados no Pronto-Socorro e na Unidade Básica de Saúde da Vila Nova. Porém, ao analisar os registros de chegada de imunizantes, o Serviço de Vigilância Epidemiológica de Cubatão detectou que a cidade não recebeu qualquer dose desses dois lotes.
Em relação à 13ª dose, o município afirma que houve um erro no preenchimento do cadastro de um profissional de Saúde da UBS Jardim Nova República. Ele havia tomado a primeira dose do lote 4120Z005 (com vencimento em 14 de abril) em 1º de fevereiro. Ao tomar em 26 de abril a segunda dose de outro lote (213VCAO20U, vencimento em 17 de setembro), o lote da primeira dose acabou sendo repetido no preenchimento do cadastro. A situação, segundo a prefeitura, foi identificada por meio da conferência do cartão de vacinação do profissional, que traz o lote correto na segunda dose.
Itanhaém afirma que, em 26 de janeiro, recebeu 1.070 doses do lote 4120Z005, com vencimento em 14 de abril. O presente lote foi utilizado na vacinação dos profissionais da saúde em janeiro e fevereiro, muito antes do vencimento. A Secretaria de Saúde ressalta que não aplicou doses vencidas da Oxford AstraZeneca, distribuídas pela Fiocruz, em nenhum momento. O outro lote apontado, CTMAV501, com vencimento em 30 de abril, não foi distribuído para o município.
A Prefeitura de Guarujá informa que não aplicou qualquer dose do imunizante AstraZeneca/Oxford, ou de qualquer outro fabricante, com data de validade expirada. “Dos oito lotes que a cidade teria recebido, de acordo com a matéria veiculada pela Folha de S. Paulo, apenas dois efetivamente chegaram ao município. O primeiro, o ‘4120Z005’, entregue no dia 27 de janeiro, com 3.530 doses, teve sua última dose aplicada no dia 2 de março. O vencimento constante na caixa era 14/04/2021. O segundo, o ‘CTMAV520’, entregue no dia 26 de abril, com 1.220 doses, teve sua última dose aplicada no dia 13 de maio. O vencimento constante na caixa era 31/05/2021”, afirmou.
A Secretaria Municipal de Saúde de Peruíbe informa que a cidade não recebeu o lote mencionado, e que o Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE), do Governo do Estado, também já confirmou que estas doses não foram enviadas para a cidade.
A Secretaria de Saúde de Praia Grande informa que não recebeu nenhum dos lotes citados como vencidos, e afirma que, na verdade, na hora de passar para o sistema do Governo do Estado, três pessoas vacinadas foram incluídas com lote errado. Na hora de selecionar o lote, o funcionário acabou clicando em um lote diferente do verdadeiro. As três pessoas já foram contatadas, e as carteirinhas, onde consta o lote correto, estão sendo apresentadas para a correção do erro de digitação. O Departamento de Vigilância Epidemiológica do município destaca que a data de validade de todos os frascos de vacina é verificada quando os mesmos são recebidos, e também quando são distribuídos aos polos.
A Prefeitura de Santos esclarece que não disponibilizou vacinas vencidas no município. Afirma que, de todos os lotes mencionados pela reportagem da Folha de S. Paulo, apenas o 4120Z005, com validade para 14/04/21, foi recebido em Santos, na manhã do dia 26 de janeiro. No mesmo dia, no período da tarde, as doses foram encaminhadas aos hospitais, unidades de pronto atendimento (públicos e privados) e Samu, para que as instituições aplicassem as doses em seus profissionais de saúde.
Ainda no mês de janeiro, o município afirma que também foram contemplados com o lote os idosos em instituições de longa permanência. A prefeitura destaca que mantém um controle rigoroso em relação a qualquer imunizante oferecido no município, não disponibilizando doses vencidas. “A administração municipal já iniciou o rastreio das doses, de forma a apurar eventuais problemas e responsabilidades na aplicação de todas as doses do imunizante. Caso seja identificada qualquer irregularidade, o município adotará as medidas para garantir a imunização”, finalizou.
A Prefeitura de São Vicente, por meio da Secretaria da Saúde (Sesau), informa que recebeu a vacina do lote 4120Z005 e distribuiu para as unidades de saúde em fevereiro. O vencimento do frasco expirava em 14 de abril, portanto, não estavam vencidas. Afirma, ainda, que os outros três lotes, CTMAV520, CTMAV501 e 4120Z001, não foram entregues na cidade.
Mongaguá afirma que recebeu o lote 4120Z005, com vencimento no dia 14 de abril, e que foi aplicado dentro da validade, no fim de janeiro e na primeira quinzena de fevereiro.
Crédito: Tânia Rêgo/Agência Brasil
Fonte: SEEB do RJ e G1 Santos e Região