Estudo avalia 49 pesquisas que tratam do assunto.
Pesquisadores da UFRGS, da Universidade La Salle, da UERJ, da UFRJ e de outras sete universidades estrangeiras desenvolveram um estudo que avalia a relação entre a prática de exercício físico e a incidência de depressão. O artigo, que analisa dados de 49 outras pesquisas, foi publicado em abril de 2018 na revista The American Journal of Psychiatry. O professor da UniLaSalle Felipe Schuch explica: “Pegamos todos os dados dos estudos que já foram publicados e fizemos uma análise estatística desses dados. Não colhemos dados de pessoas individualmente, apenas escrevemos essa meta-análise, esse estudo de revisão”.
O objetivo do trabalho, segundo o professor, é ver o quanto as pessoas que tinham um nível mais alto de atividade física no início do estudo do qual participaram, e que não tinham depressão, diminuem a probabilidade de desenvolver a doença ao longo da vida. Centenas de pesquisas foram feitas sobre o assunto, mas os cientistas não encontraram uma conclusão comum entre elas. “Vários estudos tinham o mesmo objetivo e avaliaram os mesmos pontos, mas têm resultados diferentes. Cria aquela dúvida: qual dos resultados é o mais próximo da realidade? Quando fazemos uma meta-análise, a gente tenta responder a essa pergunta, e foi essa a nossa motivação especial para fazer o estudo”, explica Schuch.
Analisando dados de mais de 265 mil pessoas de 20 países diferentes, o estudo conclui que, sim, independentemente de idade ou localização geográfica, a atividade física funciona como prevenção à depressão. “Este estudo especificamente se refere à prevenção, e não ao tratamento. Há bastante evidência na literatura de que, para pessoas que têm depressão, o exercício pode ajudar a aliviar sintomas. Mas o nosso estudo especificamente é um marco dizendo que quem não tem depressão hoje tem um risco menor de desenvolver depressão no futuro se fizer atividade física”, diz Schuch.
# Ansiedade e depressão não são quadros opostos
Quanto ao nível de atividade física necessário para prevenir a depressão, os pesquisadores não conseguiram chegar a uma definição exata. “A grande limitação do estudo é que o ‘nível alto de atividade física’ é um conceito que variou muito entre um estudo e outro. Então não sabemos exatamente o que é esse alto nível de atividade física. Sabemos que fazer mais é melhor do que fazer menos; todos os estudos que compararam o ‘fazer mais’ e o ‘fazer menos’ chegaram a essa conclusão, porém não sabemos o quanto é esse mais e o quanto é esse menos”, esclarece Schuch. Seis dos trabalhos analisados, entretanto, indicam que, ao completar o nível de atividade física recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de 150 minutos de exercício moderado por semana, se reduz em 32% a probabilidade de desenvolver depressão.
A prática da atividade física acelera a regeneração neuronal, e esta é uma das formas pela qual ela pode ajudar na prevenção ao transtorno depressivo. “Em pessoas com depressão, isso é diminuído. Elas perdem mais neurônios do que conseguem regenerar. Nós acreditamos que a aceleração da regeneração por meio do exercício pode prevenir ou diminuir o risco do desenvolvimento de depressão”, explica Schuch. Além disso, em longo prazo, pessoas com depressão acabam com partes do cérebro atrofiadas, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, e a atividade física também diminui o risco de isso acontecer.
O grupo de pesquisadores segue trabalhando em outros projetos de meta-análise. “O próximo estudo, que já está escrito, é sobre o quanto a atividade física reduz ou previne alguém de desenvolver transtornos ou sintomas de ansiedade. Esse é o próximo passo. Vamos replicar isso também para transtornos de álcool e drogas e avaliar ainda para a esquizofrenia”, finaliza Schuch.
Artigo científico: SCHUCH, Felipe B. et al. Physical activity and incident depression: a meta-analysis of prospective cohort studies. American Journal of Psychiatry, 25 abr. 2018.
Crédito: Triatleta Andrea Crescenzo
Fonte: UFRGS Ciência