O número de afastamentos do trabalho por conta de transtornos afetivos saltou de 3.918, em 2007, para 6.403, em 2009, aponta o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS).
Uma das justificativas para o aumento, segundo o órgão, foi a instituição do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário (NTEP), mecanismo que estabelece a causa da doença com o trabalho, em 2007. Como esse nexo ainda não estava regulamentado, muitas doenças eram subnotificadas.
Diagnósticos mais precisos e a disseminação de informações sobre a doença também auxiliaram os trabalhadores a reconhecerem os sintomas da enfermidade que pode ter sua origem no ambiente de trabalho e no estresse.
Trabalho e depressão
Um estudo feito pelo Instituto do Trabalho e da Saúde (Instituto of Work and Health), no Canadá, conduzido em 2006, constatou que as condições de trabalho estão conectadas com a depressão, especialmente em mulheres.
Segundo a pesquisa, das 218 mulheres entrevistadas, 30% mostraram ter sintomas de depressão que sugeriam um tratamento clínico. Entre os fatos que estariam relacionados à doença estão grande esforço no trabalho e pouca recompensa, falta de equilíbrio entre vida profissional e pessoal e ter crianças menores de 18 anos em casa.
Doença de milhões
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a doença atinge 121 milhões de pessoas no mundo inteiro, 17 milhões só no Brasil. Estima-se que em 2020, será a segunda doença de maior impacto global, perdendo apenas para as cardíacas.
“O cansaço físico excessivo e a perda de interesse em geral dificultam a realização das atividades rotineiras. Tudo parece demandar esforço extra. O raciocínio e a memória ficam lentos e o que antes era fácil de entender e de resolver, agora não é mais”, explica a psicóloga clínica Viviane Sampaio.
“O deprimido esquece-se do que devia fazer, para quem ia ligar, o que escreveu ou falou. Por não conseguir armazenar os dados em sua memória, tem mais dificuldade para tomar decisões, se concentrar, se organizar e planejar suas tarefas”, acrescenta a psicóloga.
“Só chorava”
A advogada G.P, 30, que toma remédio para conter a depressão há quatro anos, conta que antes da medicação pensou em tirar a própria vida. “Eu só chorava. Não conseguia pensar, me vestir, comer, nada. Um dia, reuni forças e fui ao trabalho. No meio do caminho, me deu um ataque de pânico e só me lembro de ver uma amiga. Não sei como, mas consegui ligar para ela, que me salvou.”
A relações públicas Denise Muraro, 44, comenta que, apesar de ter saído do estado crítico de depressão, ainda não conseguiu voltar ao trabalho, do qual está afastada desde junho. “A terapia e a medicação estão ajudando, mas volta e meia, eu me pego novamente na cama, prostrada. Disseram para eu fazer exercícios físicos, mas, como, se não consigo nem levantar?”, diz.
Fonte: I