Ministério Público investiga cúpula do banco por uma série de supostas irregularidades que envolvem tráfico de influência, omissão, censura e má governança
A cúpula do Banco do Brasil no comando do seu ex-presidente Rubem Novaes está envolvida em uma denúncia que envolveria tráfico de influência, omissão e censura. O procurador da República Lucas Furtado recebeu essas informações, e diante da gravidade das denúncias, pediu ao Tribunal de Contas da União que apure se elas procedem.
Nos documentos há acusações de irregularidades na gestão do Banco do Brasil, e a mais grave é a que acusa a cúpula do instituição financeira de interferir numa auditoria interna para supostamente evitar investigações sobre o banco.
Tudo isso acontece pouco mais de um mês depois de o banco ter demitito auditores por justa causa e dissolvido a auditoria interna sob a justificativa de que eles beneficiaram irregularmente alguns serviços em processos de aposentadoria.
A representação do Ministério Público obtida pela CNN também aponta que depois da demissão do auditor-geral, quem teria ocupado a vaga seria alguém diretamente subordinado ao então presidente do banco à época, Rubem Novaes.
Para o movimento sindical, a manobra pode caracterizar uma intervenção direta na governança do banco. Nenhum outro governo interferiu tanto na auditoria como esse atual governo, com o intuito de esconder exatamente tudo isso que está sendo denunciado. Rubem Novaes saiu correndo pela porta dos fundos, com medo de ser preso por conta dessa denúncia.
Soma-se a essa denúncia, o episódio ocorrido no ano passado quando o Palácio do Planalto pediu para o Banco do Brasil tirar do ar uma campanha publicitária com vários jovens, alguns deles negros e uma transexual. No documento entregue ao Ministério Público, os denunciantes afirmam que o presidente do Conselho de Administração, Hélo Magalhães, orientou o então auditor-geral a não atender as demandas do ministério público e até do TCU para apurar o episódio.
Outro trecho da representação do ministério público relata a possibilidade de interferência do presidente Rubem Novaes e do vice-presidente Carlos Hamilton nas nomeações da Previ.
A representação também aponta que o vice-presidente Fábio Augusto Cantizani Barbosa buscou direcionar contratos para aquisição de software, hardware e prestação de serviços em TI; e abrir os códigos-fonte de sistemas corporativos fundamentais aos negócios.
Ainda segundo a representação, Barbosa se opôs ao ex-vice-presidente Marcelo Labuto para ter sob sua responsabilidade direta as Diretorias de Meios de Pagamento e de Negócios Digitais, o que de fato aconteceu em dezembro de 2019, “garantido maior área de influência e ‘oportunidades negociais’ para ele e seu grupo”.
Fábio Augusto Cantizani Barbosa é dono da máquina de cartão Stone. Ou seja, de acordo com a denúncia, ele se beneficiou ao passar para sua responsabilidade as operações com pagamentos digitais, que é exatamente o que a Stone lida, além de abrir o código fonte-fonte de sistemas, expondo o banco a riscos e fraudes.
Tanto o Fábio Augusto Cantizani Barbosa como Carlos Hamilton, que constam na denúncia, são indicações do mercado, foram chamados para integrar a direção do Banco do Brasil por Paulo Guedes com aval de o presidente da República Jair Bolsonaro.
Em outro trecho da representação, o Ministério Público resume as acusações e pede apuração: “Certo é que ao longo da peça diversas fragilidades do Banco são apontadas, das quais destaco as falhas na conciliação geral e contábil, as falhas na metodologia de provisões contábeis relacionadas a ações judiciais, as falhas em processos de desinvestimentos de ativos do Banco e a proibição de apuração pela auditoria interna de indícios de irregularidades acerca da propaganda com mote diversidade do Banco do Brasil”.
Essa representação reforça que os indicados do mercado para o comando do Banco do Brasil têm agido em nome do governo e em benefício próprio, atacando a governança do banco. As denúncias são gravíssimas e atingem indicados pelo ministério da Economia do governo Bolsonaro.
Procurado pela CNN, o Banco do Brasil respondeu que possui uma estrutura de governança que conta com o reconhecimento público e que está adequada às regras de transparência previstas por sua participação no novo mercado da B3. O Banco do Brasil possui comitê de auditoria e uma unidade de auditoria interna, ambas ligadas diretamente ao conselho de administração com autonomia prevista em estatuto para desempenhar suas funções com total independência.
Fonte: seeb SP com CNN